FACULDADES INTEGRADAS DA VITÓRIA DE SANTO ANTÃO 

JAMERSON KLEBER FRANÇA DA SILVA

  SEMÂNTICA E PRAGMÁTICA:

UMA NOVA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O  ENSINO DE LÍNGUA MATERNA.  

VITÓRIA DE SANTO ANTÃO

2013

JAMERSON KLEBER FRANÇA DA SILVA 

 SEMÂNTICA E  PRAGMÁTICA:

UMA NOVA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O ENSINO DE LÍNGUA MATERNA. 

                                                            Trabalho de conclusão de                 curso apresentado                                                                            ao curso de especialização em ensino de                                                                                           Língua Portuguesa e produção textual, das faculdades integra                                                                                           das da Vitória de Santo Antão- FAINTVISA,                                                                                          como requisito parcial para a obtenção do tí                                                                                  tulo de especialista.

Orientador: Prof. José Ricardo Paes Barreto

Vitória de Santo Antão

2013 

Epígrafe

Tentar explicar conceitos da semântica é navegar por continentes jamais descobertos pelo ser humano. Ela não pode ser vista pelo homem apenas como uma disciplina ou ciência, e sim como algo participante de suas mentes, presentes no cognitivo e no metacognitivo humano.

Essa disciplina nos fornece a capacidade de produzir sentidos às diferentes linguagens, em variados contextos, compreendendo-os e sendo compreendidos por eles. Somos produtores de linguagem e conhecimento, e a semântica é a principal responsável de fazer essa ponte entre o contexto e seus significados.

A pragmática sabendo dessa importância tão sublime que a semântica tem nos estudos lingüísticos, fez-lhe uma proposta irrecusável: “Vamos nos fundirmos”!

No início a semântica, não concordou com a idéia e disse que não dava certo porque eram de contextos totalmente diferentes. A pragmática com toda sua habilidade argumentativa acabou a convencendo  que apesar de ser de diferentes contextos, elas tinham muita coisa em comum. Enfim aconteceu a fusão e nesse processo foi se percebendo a construção de algo que ninguém esperava: “O significado”. Após alguns dias separam-se e perceberam que todas as vezes que se difundiam o significado ficava incompleto.

A compreensão de mundo em que o ser humano busca constantemente é algo que depende totalmente dessa fusão entre a semântica e a pragmática, e precisa ser mais explorado do ponto de vista linguístico. Não é justo que tenhamos uma ferramenta tão importante desta em nossas vidas e deixemo-la enferrujar na prateleira do desinteresse científico, desinteresse este que nos levou a ensinar em língua portuguesa, por muitos tempos, apenas a gramática normativa. Vamos buscar outros continentes jamais explorados e assim seremos os comandantes de nosso próprio saber. 

Introdução

Vários professores encontram dificuldades quando o assunto da aula é o estudo dos significados das palavras. É competência de a Semântica estudar os signos, significados, enunciados, enunciação, para que haja uma compreensão textual mais eficiente e envolva não somente os conhecimentos textuais, mas também os contextuais, que estão em um círculo inevitável entre: sujeito, mundo e texto interagindo constantemente entre si.

O fato é que ainda não se tem a semântica como uma ciência autônoma, independente. Isso se dá porque existem inúmeras teorias conceituais sobre ela, mas o seu objeto de estudo: “o significado” não é uma coisa concreta, acabada, mas abstrata, aberta e vaga.

Aqui, apresenta-se uma nova proposta de ensino de semântica em que os professores precisam mostrar os significados lexicais, partindo da prática para a teoria de maneira contextualizada, sem que haja exemplos descontextualizados e isolados, porque o texto é a base para entender os significados das palavras.

Já a pragmática que estuda a linguagem em uso, se faz disciplina importante e indissociável para entendermos os significados. O uso é que auxilia o entendimento dos enunciados e por isso também será abordada essa relação entre a pragmática e a semântica que são interdependentes e cruciais para um ensino de língua materna mais eficaz, que por muito tempo limitou-se apenas ao estudo da gramática normativa. É preciso entender que várias regras morfossintáticas que a gramática normativa ensina a decorar, são facilmente resolvidas pela semântica, as quais serão mostradas ao longo deste artigo.

 

                                                                                                                                                                                                                                                   

Conceito de semântica

A maioria dos semanticistas a definem como sendo a ciência que estuda os significados.

Para Ilari e Geraldi (1995, p.6):

“[...] a semântica é um domínio de investigação de limites movediços; semanticistas de diferentes escolas utilizam conceitos e jargões sem medida comum, explorando em suas análises fenômenos cujas relações não são sempre claras: em oposição à imagem integrada que a palavra ciência evoca, a semântica aparece em suma, não como um corpo de doutrina, mas como o terreno em que se debatem problemas cujas conexões não são sempre óbvias.” (ILARI & GERALDI, 1995, p.6).

O conceito dessa ciência ainda é muito complexo e incompleto, pois não se tem um objeto de estudo totalmente definido. Essa situação é uma das causas de os estudos teóricos semânticos serem tão limitados e contraditórios. Uma boa parte de semanticistas prefere não considerá-la como ciência, pelo simples fato de não poderem comprovar seu conceito com teorias “movediças” ou por não conseguirem descobrir a melhor maneira de ensiná-la no ensino de língua materna.

Castim (1983, p.8) mostra que:

                                                                                                                                                                                 

“[...] Uma teoria semântica deve: (I) fazer referência, de modo preciso, à estrutura sintática; (II) representar sistematicamente o significado das palavras isoladas (ou, mais genericamente, dos elementos léxicos, que incluem também frases lexicalizadas como idiotismos, compostos isolados, etc.); e (III) mostrar como interagem a estrutura do significado das palavras e as relações sintáticas para construir a interpretação de orações. Finalmente, deve mostrar como tais interpretações relacionam-se com as coisas de que se fala.” (BIERWISH, 1976, p. 163 apud CASTIM, 1983, p. 8).

A citação acima mostra alguns objetivos básicos e tradicionais da semântica. Percebe-se que têm uma proposta de estudo do significado de palavras isoladas. Será que isso realmente funciona em sala de aula ou torna-se apenas uma mera perca de tempo tentar utilizar exercícios que busquem compreender os significados lexicais isoladamente?

Outro objetivo citado é uma referência precisa à estrutura sintática. Como podemos na condição de semanticistas, falar de precisão se estamos trabalhando com um objeto de estudo (o significado) completamente subjetivo e relativo? Indiscutivelmente, deve haver um estudo sintático-semântico, pois é através da organização das frases que chegamos a uma compreensão mais eficaz do enunciado. Portanto, esse critério é insuficiente, já que temos outros interdependentes como: o contexto e o uso, que são cruciais para que se tenha uma melhor compreensão de um texto e um abrangente estudo das significações.

A pragmática

A pragmática é um dos ramos da linguística que estuda a linguagem em uso, ou seja, envolve os atos de fala de um sujeito e a compreensão desses, partindo do contexto de enunciados comunicativos.

“O uso do termo Pragmática como ramo da linguística teve início com Charles Morris, em 1938, significando o estudo da linguagem em uso. Rudolf Carnap, que trabalhara com Morris, definiu-a como sendo a relação entre a linguagem e seus falantes.” (NASCIMENTO, 2010,p.19).

 

Essa disciplina é nova em estudos lingüísticos, mas já existe desde que o primeiro homem começou a interagir com o uso da linguagem. Seu principal objetivo é estudar os significados implícitos de uma conversação e explicar a importância da linguagem em uso com a capacidade de informar, convencer ou iludir.

A objetividade da pragmática

 

O professor Marcos Nascimento,das faculdades integradas da Vitória de Santo Antão - FAINTVISA, Mestre em Linguística pela UFPB, faz um comentário relevante acerca de alguns objetivos da pragmática, no livro:Pragmática- compreensão e violação das máximas conversacionais em gêneros textuais:

“[...] A pragmática está além da construção da frase, estudada na sintaxe, ou do seu significado, estudado pela semântica. A pragmática estuda essencialmente os objetivos da comunicação. (NASCIMENTO, 2010, p.19).

Partindo do raciocínio apresentado por Nascimento, podemos afirmar que a preocupação da pragmática é estudar os processos comunicativos da linguagem em uso, ou seja, o processo de interação que ocorre entre o sujeito e o contexto na busca da construção do significado, produzido por diferentes linguagens.

A pragmática também estuda as pressuposições e as implicaturas que estão além do plano semântico da lógica, por se tratar de significações contextuais, construídas e compreendidas apenas pelo contexto das práticas conversacionais. Isso permite dizer que essa disciplina é responsável pelo estudo dos significados implícitos.

Uma nova proposta de ensino dos significados

 

Por muito tempo o estudo dos significados limitou-se apenas à estrutura funcional da língua, ou seja, do ponto de vista morfossintático. Esse método de ensino acabou limitando a evolução de novas propostas metodológicas de ensino de língua materna, detendo-se apenas a entender uma parte da língua: a estrutura.

O estudo semântico teve mais intensidade partindo dos critérios: sintático-semântico. O grande problema é que não se teve subsídios suficientes para construir uma teoria que desse conta do estudo prático. Tentar entender os significados dos enunciados, tendo como base apenas estruturas sintagmáticas isoladas não progrediu em quase nada, o ensino de língua materna. Ora as provas do Enem, de concursos públicos, vestibulares exigem que o candidato responda as questões, não apenas de língua portuguesa, mas de qualquer disciplina,  utilizando a semântica e a pragmática que são interdependentes para a construção do significado. E por que não virar nosso olhar para essa perspectiva de associarmos a estrutura ao contexto, de forma que possamos assim aproximar o texto, o sujeito e a realidade deste, no objetivo de formarmos verdadeiros leitores críticos, que saiam das “linhas e entrelinhas do texto” e consigam atingir a leitura “além das linhas”?

 

As metáforas e as comparações:

A metáfora é um recurso estilístico que se caracteriza por uma transferência ou associação de significados possíveis de um léxico a outro. É também conceituada como uma comparação implícita. (Mazzarotto, 2008, p.110).

Já a comparação é definida como uma figura de linguagem, onde se estabelece uma relação de sentidos por meio de comparações entre dois termos. Essa relação é feita por meio de palavras que expressão comparações. Ex.: Como, tal qual, parece, etc. (Mazzarotto, 2008, p.110).

O sentido construído através das comparações são claramente explícitas.

Vejamos alguns exemplos que trata destes dois recursos lingüísticos bastante utilizados em diversos textos.

Exemplos:

1. Pedro é um cavalo.

2. Pedro é forte como um cavalo.

3. Pedro come igual a um cavalo.

Se analisarmos isoladamente a frase 1, teremos grandes dificuldades para construir o seu significado. Ora não conhecemos Pedro, só sabemos o seu nome. Essa informação é insuficiente para entendermos porque ele é um cavalo. Na frase 2, temos uma relação de sentidos equivalentes, entre a força do animal e a de Pedro. o significado está explícito, de                                                                                                                                                                    forma que facilita o entendimento do enunciado. No enunciado 3, temos também uma relação equivalente de sentidos, comparando explicitamente, o apetite de Pedro ao do eqüino. Em 1 temos a metáfora e em 2 e 3 temos a comparação.

A frase 2 e 3 é parte de um contexto que pode construir o significado da frase 1. Isso é afirmado porque tomando como base, as informações que estão explícitas em 2 e 3 (estudo semântico) e fazendo uma associação às implicaturas que estão em 1 (estudo pragmático) teremos uma interdependência dessas duas disciplinas. Elas se interagem no estudo de um mesmo objeto de estudo: o significado. A semântica ou a pragmática sozinha não consegue atingir uma análise abrangente do campo das significações. O significado não é construído apenas pelo enunciador, ele é completado pelo enunciado e pelo receptor. Este último é o principal responsável pela criação de uma polissemia textual, ou seja, as diversas compreensões e interpretações que um texto pode apresentar.

 O estudo das ambigüidades:

 

A ambiguidade é outro recurso lingüístico utilizado nos estudos semânticos. O problema da ambigüidade é muitas vezes complexo de ser resolvido porque a semântica sozinha não pode explicar os significados que estão implícitos em uma determinada conversação.

“Ambiguidade: duplicidade de sentido, quer seja de razão lexical ou estrutural[...]” (ILARI e GERALDI, 1995, p. 86). 

Veja o seguinte exemplo:

(1 )Paulo pediu  a João para sair.

  De forma descontextualizada é impossível determinar quem realmente saiu, se foi Pedro ou João. Essa dupla interpretação acontece por causa da estrutura sintática. O verbo pediu tem um sujeito expresso, já o infinitivo sair tem um sujeito implícito, e pode ser referido tanto a Pedro quanto a João.

(2) Paulo é filho de João.

(3) Paulo é um filho que sempre pede ao pai, quando deseja sair.                                                                                                                                   

Agora, se associarmos a estrutura sintático-semântica de 1 ao contexto(pragmática) presente em 2 e 3, podemos conseguir, a partir do processo de inferência, a construção de um significado, nos levando à conclusão de que quem realmente saiu foi Paulo em vez de João.

Esse estudo isolado de frases limitou a capacidade de o aluno inferir em outro critério, no das estruturas contextualizadas. O exercício de sempre associarmos as informações que estão implícitas (pragmática) às explícitas (semântica) facilita o entendimento de palavras, frases e textos. A coerência conceitual e a coesão seqüencial das frases são indispensáveis para uma compreensão textual, mas torna-se muitas vezes limitadas a explicar as situações em que os significados estão implícitos, podendo ser explicado apenas pelo contexto que é onde se localiza a maior parte das informações para conseguir chegar à construção de significações lingüísticas. Por isso a pragmática é tão importante quanto a semântica no estudo dos signos. 

Essa aproximação dos textos à realidade do sujeito é que proporcionará uma competência comunicativa, capaz de estabelecer uma situação de compreensão e interpretação textual eficaz. Nossos alunos precisam desenvolver essa competência de fazer associações de sentidos e entender de maneira clara o que está implícito nos enunciados lingüísticos, que atualmente tem sido a maior dificuldade no ensino de língua materna. Ora as competências comunicativas que o discente precisaria desenvolver nas séries finais do ensino fundamental II, muitas vezes ele conclui o ensino médio e as não consegue. Isso acontece porque a maioria dos professores de língua portuguesa não estão sendo preparados de forma adequada a transpor as teorias lingüísticas à prática de ensino, prendendo-se apenas ao ensino estrutural e tradicional da língua.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Considerações finais

Na contemporaneidade não podemos pensar em um ensino de língua materna de maneira unilateral. Devemos acompanhar as diversas transformações educacionais que atingem não apenas a disciplina de Língua Portuguesa, mas todas as outras em um processo de interdisplinaridade e interação constante.

O critério semântico-pragmático é essencial para preencher algumas lacunas deixadas pelos estudos morfossintáticos que isoladamente não são capazes de desenvolver competências comunicativas indispensáveis ao entendimento dos signos lingüísticos. Ser um conhecedor de uma língua, não é apenas dominar sua estrutura funcional, mas desenvolver diferentes linguagens em diferentes contextos, compreendendo seu funcionamento e a construção de diferentes interpretações significativas.      

Este texto foi desenvolvido, como um ponto de partida para outros estudos semânticos e pragmáticos, referente às análises dos significados linguísticos. Os professores de língua portuguesa precisam entender que a linguagem é uma faculdade humana, e precisa ser estudada o mais próximo possível do contexto e mundo do aluno.

O ensino de língua materna, distante dessa perspectiva, nos trará frutos esperados, que são estudantes críticos, capazes de compreender e interpretar textos em seus diferentes contextos e o mais importante entender o mundo em que estão inseridos e a partir desse discernimento criar e construir novos conhecimentos, sem que seja necessário ficar reproduzindo conhecimentos de geração em geração.

A teoria aqui apresentada é trazida como sugestão de iniciação para uma nova perspectiva metodológica a ser aplicada no ensino de língua materna, onde professores de toda a rede ensino (municipal, estadual ou privada) possam utilizá-la e transformar essa situação, de um ensino tradicional e unilateral da língua.

Esperamos, com isso, ter contribuído com os estudos linguísticos e que estes possam ser vistos como mais uma opção de transformação do ser humano, que ao produzir linguagem é conduzido a compreendê-la e é condicionado a ser compreendida por ela também. Essa constante interação é o verdadeiro sentido da vida e o verdadeiro objeto de estudo da semântica.        

Referências

CASTIM, Fernando. Princípios básicos de semântica. Recife: FASA,1983.

ILARI & GERALDI. Princípios de Semântica. São Paulo: 7ª ed., Ática, 1995).

MARQUES, Maria Helena Duarte. Iniciação à semântica. Rio de Janeiro: 5ª ed., Jorge Zahar, 2001.

MAZZAROTO, Luiz Fernando. Redação: gramática e literatura: aprenda a elaborar textos claros, objetivos e eficientes. 2ª ed., São Paulo: DCL, 2008.

NASCIMENTO, Marcos Soares do; SANTOS, Gilberlande Pereira dos (orgs.) . Pragmática: compreensão e violação das máximas conversacionais em gêneros textuais diversificados. Recife: Libertas, 2010.

VANIN, Aline Aver. A construção do significado inferencial sob o prisma da interface Semântica/Pragmática. Revel, vol. 7, n. 13, 2009. Disponível em:      http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_13_a_construcao_do_significado_sob_o_prisma.pdf.