Segurança alimentar: Agroecologia, uma alternativa (Parte I)

Este artigo está estribado em trabalho publicado pelos Srs. MIGUEL ALTIERI, PETER ROSSETE e LORI ANN THRUPP - REVISTA DEL SUR - JULHO/AGOSTO DE 2002 - URUGUAI

As várias posições técnicas que estão sendo somadas em um esforço conjunto de Combate à Fome, passa pela recente propositura da criação de um Fundo Internacional de Combate à Fome e à Miséria, como por um velho e já esgarçado plano similar existente nas Nações Unidas. Ou seja, nada de novo vem ocorrendo no horizonte a não ser o aumento da população da NAÇÃO DOS COM FOME.

É razoável que todos possam externar seus pensamentos e pontos de vista, mesmo porque, quem sabe nesta conjunção de esforços, possamos a exemplo do beija-flor no combate ao incêndio da floresta, fazer nossa parte.

Não são poucas as vias que nos levam a propugnar por este ou por aquele programa e ação: felizmente temos estas opções, estes pensamentos e vamos todos torcer para que cada gota deste suor seja empregada e validada no combate à fome e à miséria.

Dentre as propostas que temos lido e estudado, é nos apresentada uma de autoria dos Srs. MIGUEL ALTIERI, PETER ROSSETE e LORI ANN THRUPP, publicada na REVISTA DEL SUR, edição de JULHO/AGOSTO de 2002 (URUGUAI), que pretende demonstrar que nem tudo está perdido, que o mundo necessita comer, viver, produzir e, sobretudo, amar ao seu próximo e a mãe Terra.

A AGROECOLOGIA, nas palavras dos autores, pode ser assim entendida: é uma disciplina científica que define, classifica e estuda os sistemas agrícolas desde uma perspectiva ecológica e socieconômica. Também considera que é o fundamento científico da agricultura sustentada, e que atende a conceitos e princípios ecológicos para analisar, projetar, administrar e conservar recursos de sistemas agrícolas. A AGROECOLOGIA integra saberes indígenas com o conhecimento técnico moderno para obter métodos de produção que respeitem o meio ambiente e a sociedade, de modo que se possa alcançar não só as metas produtivas, mas também a igualdade social e a sustentação ecológica do sistema. A diferença do enfoque agronômico convencional, baseado na difusão de pacotes uniformes de tecnologias, é que a AGROECOLOGIA centraliza princípios vitais como a biodiversidade, a reciclagem de nutrientes, a sinergia e a interação entre os diversos cultivos, animais e solo, além da regeneração e conservação dos recursos. Os propulsores deste enfoque partem das técnicas e possibilidades de cada lugar e as adaptam a condições agroecológicas e socioeconômicas. A implementação de ditos e princípios agroecológicos, no contexto de uma estratégia de desenvolvimento favorável aos pobres e dedicadas aos produtores agrícolas das regiões empobrecidas, é essencial para conseguir sistemas saudáveis e equitativos, sustentáveis e produtivos.

Esta é na realidade uma posição de avanço baseada nas tradições que sempre permearam os povos nativos, digamos das AMÉRICAS. O milho produzido pelos povos INCAS MAIAS e ASTECAS nos dá, hoje, informações genéticas e nos permite fazer até uma viagem no tempo, de como estas civilizações conseguiram sobreviver, reinar e alimentar seus povos. O uso de um sistema produtivo em que se tem o respeito máximo ao MEIO AMBIENTE e a adoção de práticas de manejo de solo, permitiram que nos altiplanos andinos se produzisse o alimento básico, o milho. Mas não somente estas práticas de produção agrícola devem hoje servir de uma forma de consulta ao passado. Mas sim a sociologia empregada por estes povos, já que mesmo tendo suas castas, esses povos não passavam fome.

No contexto brasileiro, ainda é possível ver quando se sobrevoam o ALTO XINGU, algumas clareiras de mata em recomposição. São áreas que antes foram usadas no plantio da mandioca e de outros alimentos por uma determinada época e que, após a colheita, são deixadas para que a NATUREZA se encarregue de revitalizá-las.

A AGROECOLOGIA busca na sua essência uma forma de resgatar o que sempre nos foi ensinado, mas que pela necessidade premente de um desenvolvimento cada vez mais crescente, foi deixado de lado e então, ocorreu que os protocolos de sistemas produtivos passaram a exigir cada vez mais, novos vetores protetores representados pelos agrodefensivos, pelas sementes produzidas em função de sua rentabilidade - variedades e cultivares -, mas não como sendo resistentes aos ataques de fungos e bactérias, coisa comum existentes nas sementes nativas.

A AGROECOLOGIA se apresenta como um viés prático para as pequenas populações agrícolas que não necessitam do uso de pacotes protocolares de produção: NPK+S, ou VARIEDADE TAL, CULTIVAR TAL, HERBICIDA E FUNGICIDAS+INSETICIDA, antes exigido pela nefasta CARTEIRA DE CRÉDITO RURAL do BANCO DO BRASIL, que se negava a financiar toda e qualquer atividade que não adotasse o dito pacote tecnológico. O tempo se encarregou de demonstrar o quanto estavam errados os energúmenos da DIRUR/BANCO DO BRASIL S/A. Esta política errônea e truculenta não permitiu um desenvolvimento alternativo, ao contrário, contribuiu para "N" burrices e mortes. Quem não tem noção do quanto se usa de defensivos em uma produção de tomates? Mas aquele produtor só terá a sua lavoura financiada se adotar o pacote técnico indicado. Isto inviabiliza a pequena propriedade.

A fome e a desnutrição afetam algo como 800.000.000 de pessoas em um mundo em constante desenvolvimento reprodutivo desenfreado. Este estado de plena desgraça alimentícia e de desnutrição em geral se deve a uma escassez real e absoluta de alimentos, ou ainda a razões e situações mais complexas, como quem cultiva e onde cultiva este ou aquele tipo de alimento e como são distribuídos estes alimentos. E, finalmente, quem tem acesso a estes alimentos. Esta é a real situação hoje. Seja ela de uma AGRICULTURA CONVENCIONAL ou da AGROECOLOGIA.

Pode-se entender também que a abertura de novas fronteiras agrícolas possam ter contribuído para que a produção de alimentos ficasse ainda mais distante dos centros consumidores, encarecendo-os de tal forma que se tornou impeditivo àquelas camadas sociais mais pobres. A tal se deve a uma falta de política de planejamento, em que se nota a presença da desigualdade, o mau manejo de recursos naturais, humanos e financeiros, que são fatores que se sobrepõem as estas situações de fome.

No momento atual se faz necessária uma análise mais profunda das políticas tecnológicas para o desenvolvimento rural e agrícola, para que se tenha uma clara situação se tais política ajudam a incrementar ou a reduzir as desigualdades na distribuição de recursos e no acesso aos alimentos, e se tais políticas garantem a sustentação e a utilização dos recursos alocados (financeiros) e existentes (naturais , é lógico).

Os pensamentos e suas exposições devem ser sempre respeitados, e assim como se tem o direito de exprimi-los dentro de um espírito democrático, assim como de saber receber e absorver suas críticas quando se fazem presentes. E é neste contexto que os defensores da REVOLUÇÃO VERDE argumentam que a escassez de alimentos e a baixa produtividade agrícola e pecuária provocam uma situação senão preocupante, desesperadora: A INSEGURANÇA ALIMENTAR. Tal agravará a fome a nível mundial em um futuro já não muito distante. Os defensores da REVOLUÇÃO VERDE crêem que o mundo experimenta neste exato momento, uma explosão demográfica agravada por endemias ou pandemias, provocada pela AIDS, TUBERCULOSE, GUERRAS INTERNAS, INTERNACIONAIS e FENÔMENOS NATURAIS, que por sua vez, são agravados pela escassez de alimentos, que resultam em uma fome potencializada. Por tais razões os defensores da REVOLUÇÃO VERDE são os maiores defensores da abertura de novas fronteiras agrícolas em continentes como o africano e o sul-americano. No africano ainda reside a inconstância de um regime de paz interna e no sul-americano é bem mais tranqüilo. Tanto em um como no outro, os defensores da REVOLUÇÃO VERDE priorizam uma produção maior de alimentos, desde que se faça uso de tecnologias por eles desenvolvidas e vendidas. Assim como se sentem no direito de comprar tais produções, preferencialmente no seu estado natural, como é o caso do café exportado para a ALEMANHA, considerado o 2º maior exportador de café sem nunca ter plantado uma cova desta rubiácea.

Por estas e por outras que provavelmente tenhamos de mudar o lema de SEGURANÇA ALIMENTAR para INSEGURANÇA ALIMENTAR.