SEGUIR DE LONGE A JESUS

Numa bela manhã, sala de aula apinhada, eu estudava a Palavra de Deus na Escola Bíblica Dominical (EBD) de uma Grei que amo sobremaneira, quando, ao iniciar a aula, o distinto professor disse-nos que intitulara a mesma de SEGUIR DE LONGE A JESUS, estribado neste texto: “E Pedro o SEGUIA DE LONGE até o pátio do sumo sacerdote; e entrando, sentou-se entre os guardas, para ver o fim.” (Mt.26:58)

Como sói acontecer com as pessoas que conseguem enxergar sobretudo os deslizes de Pedro (a Internet está borbotando de artigos com o título SEGUIR DE LONGE A JESUS), esse professor, igualmente, teceu lá sua palavra mambembe ao Apóstolo de Betsaida, e concluiu sua aula fazendo-nos esta pergunta: “E você, prezado aluno, após esta lição ora ministrada, vai optar por seguir de perto a Jesus; ou, como Pedro, covardemente de longe?”

E com ares de exegeta triunfante o professor encerrou a sua aula sem que alguém lhe pudesse responder patavina…

Entristece-me sobremodo o modo como as pessoas (conquanto professoras de EBD) fazem leituras açodadas das Escrituras Sagradas e, por conseguinte, engendram suas lições com as quais anelam ensinar ao povo sequioso de aprendizagem. Sim, entristece-me porque, ao considerarem o adjunto adverbial DE LONGE, registrado somente em um único versículo de todo o Evangelho, essas pessoas olvidam adrede o fato de que nenhum outro discípulo passou todo o Ministério do Divino Mestre tão PERTO dEle quanto Pedro.

E, se deixarmos o açodamento de lado (o que considero um bom alvitre) verificaremos que João, em seu Evangelho, na narrativa do mesmo episódio, diferentemente dos Evangelhos Sinópticos (Mt.26:58; Mc.14:54; Lc.22:54), registra apenas o fato de que Pedro seguiu a Jesus; suprime, portanto, o adjunto adverbial em comento, conforme se lê: “Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus (18:15)

Contudo, gostaria de saber dessas pessoas se elas têm conhecimento de alguém que amou a Jesus Cristo mais do que Pedro. Este texto pode ajudá-las na pesquisa: “Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, AMAS-ME MAIS DO QUE ESTES? Respondeu-lhe ele: SIM, SENHOR; TU SABES QUE TE AMO…” (id.21:15)

Como podemos ver, ninguém amou ao Mestre mais do que Pedro; e, se considerarmos que o termo DE LONGE enfatiza a maneira como o destacado discípulo seguiu a Jesus, como querem alguns ensinadores, mesmo assim ele amou a Jesus mais do que todos os discípulos, porque NEM DE LONGE marcaram eles presença no julgamento do Mestre; muito pelo contrário, TODOS fugiram: “Nisto, TODOS o deixaram e fugiram.” (Mc.14:50)

Faço então estas perguntas: Se estivéssemos (inclusive o professor supracitado) no lugar de Pedro, vivendo a própria História Neotestamentária, qual seria a nossa atitude? De qual distância seguiríamos a Jesus? Qual seria nossa definição sobre distância e sua importância num discipulado? Antes de considerarmos quaisquer distâncias, qual seria nossa definição a respeito de discipulado? Daríamos ao Apóstolo uma verdadeira aula de como seguir a Jesus? E, se Pedro era covarde, consoante desejam seus opositores, por que ele foi sentar-se exatamente entre os guardas? Porventura um medroso, em tal circunstância, postar-se-ia justamente entre soldados armados? Não enfrentou ele uma coorte, empunhando uma espada e cortando a orelha de um pacóvio? Algum contemporâneo seguidor de Jesus, que o segue “de perto”, vive corajosa e diariamente terçando sua espada com o fim de decepar seus próprios atos de negligência, covardia e omissão?

Ademais, Pedro não estava tão longe quanto o longe crido e propalado pelos hodiernos enfatizadores da lonjura, que anelam um longe mais longe que o longe registrado no Evangelho. A “lonjura” de Pedro estava ao alcance dos olhos do Senhor: “Virando-se o Senhor, OLHOU PARA PEDRO…” (Lc.22:61)

Alegremo-nos todos, porque Deus nos vê ainda que estejamos longe (id.15:20). Aleluia!

Quer dizer então que seguir de perto a Jesus é que é o correto?

Ora, ao examinarmos as Escrituras (Jo.5:39) convencer-nos-emos de que seguir de perto a Jesus nem sempre significou segui-lo de verdade. Certa vez, encontrava-se Ele cercado de uma GRANDE MULTIDÃO (id.6:2), que o seguia fisicamente, ou seja, o mais de perto possível; mas, ao achar duro o seu discurso, essa grande multidão, cujo coração estava longe, de todo se retirou.

Ficaram somente os doze Apóstolos, ensejo em que “perguntou então Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as Palavras da Vida Eterna. E nós já temos crido e bem sabemos que tu és o Santo de Deus.” (id.vv.67-69)

Não tenho a menor dúvida de que, muito mais do que segui-lo de perto ou de longe, muito mais do que dar tanta importância à distância, Jesus quer que o sigamos com todo o nosso coração: “Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.” (Mt.22:37)

Certa ocasião, recebendo a visita de religiosos (fariseus e escribas), os quais lhe fizeram perguntas meramente religiosas, portanto, carregadas de acentuada hipocrisia, o Senhor Jesus “Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios; O SEU CORAÇÃO, PORÉM, ESTÁ LONGE DE MIM.” (Mc.7:6)

E o Mestre Bendito se alonga no ensino de como devemos segui-lo: “Em seguida dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me. (…) Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo.” (Lc.9:23; 14:27)

Eis o meu entendimento: Eu tenho uma cruz e devo antes negar-me (recusar-me, rejeitar-me, repudiar-me) a mim mesmo, depois tomá-la cada dia e levá-la após Jesus; só assim serei seu verdadeiro discípulo (seguidor).

Concluo dizendo que, quer de perto quer de longe sigamos a Jesus, distantemente falando, estejamos, pois, com o nosso coração bem perto dEle, e com Ele no cerne do nosso coração, porque somente assim estaremos seguindo-o com todo o amor do nosso ser. Amém!

 

Lázaro Justo Jacinto