Ainda hoje, existem poucos trabalhos e/ou artigos científicos que tratam das condições de trabalho e saúde dos profissionais da área da Educação, principalmente a dos professores. Sabe-se que condições insalubres no ambiente de trabalho podem gerar um esforço exagerado nas funções psicofisiológicas dos professores ou de qualquer profissional, o que tende a gerar problemas de saúde que se manifestam de diversas formas tanto no âmbito físico quanto no psicológico. Com a falta de saúde do educador quem sofre indiretamente é a população de alunos, pois o processo ensino-aprendizagem conseqüentemente não é o ideal. A fim de manter o nível educacional esperado por eles mesmos, por seus superiores e alunos os professores tentam aliviar suas tensões através de medicamentos dentre outras drogas. Assim, tendo em vista essa realidade o trabalho traçou o perfil da saúde e da automedicação de 19 profissionais, professores e funcionários da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Frederico Boldt (EEEFM - Frederico Boldt), através de questionários contendo perguntas abertas e fechadas, a fim de obter informações importantes sobre sua saúde e informações sobre a prática da automedicação dos mesmos. Os dados demonstraram que 100% dos profissionais reclamaram de algum problema de saúde e essas queixas de saúde estão intimamente ligadas com suas condições de trabalho, alem disso 100% deles praticam a automedicação. Visto que existe um mal diagnosticado em todos os profissionais entrevistados é de esperar que a oferta de conhecimento não seja a melhor possível, por isso devemos investir no bem estar dos educadores, pois eles têm papel fundamental em todo o ciclo do desenvolvimento intelectual de crianças, jovens e adultos.


1. INTRODUÇÃO

No Brasil, estudos sobre as condições de trabalho e saúde dos professores e dos demais profissionais da área da educação é ainda restrita, entretanto a partir da década de 90, observou-se um aumento dos estudos sobre esse grupo populacional, principalmente em relação a sua saúde mental (CODO, W. VASQUES, I. 2000).

Como resultado desses estudos foi diagnosticado que uma grande parcela dos professores sofrem alguma patogenia física e/ou psicológica importante, que interfere diretamente no seu bem estar social, familiar e profissional. Podendo estar relacionada intimamente com seu ambiente e condições de trabalho (GASPARINI, S. M. et al., 2005).

Dentre os problemas físicos diagnosticados os mais comuns são dores nas costas e pernas e calos nas cordas vocais, e os problemas psicológicos destacam-se, cansaço mental e nervosismo, associados ao trabalho repetitivo, insatisfação no desempenho das atividades, ambiente intranqüilo e estressante, desgaste na relação professor-aluno, falta de autonomia e o ritmo acelerado de trabalho (ARAUJO T. et al., 1998).

Na educação um dos problemas mais sérios que a classe enfrenta e que está em ascendência é a síndrome "burnout" ,2. Essa síndrome é uma reação a tensão emocional crônica gerada pelo contato direto e excessivo com outras pessoas, com esgotamento físico e mental, desencadeando desânimo e desmotivação em estar em sala de aula, transformando o exercício da profissão uma atividade penosa e obrigatória.
Segundo ESTEVE, J.M. 1999:
[...]"As condições de trabalho constituem um dos fatores principais do mal-estar docente. Tais condições afetam a saúde física e mental dos professores levando-os ao absenteísmo e, às vezes, ao abandono da profissão."[...]

Em condições de trabalho insalubres, ou seja, circunstâncias sob as quais os professores mobilizam as suas capacidades mentais, físicas e afetivas para atingir os objetivos da produção escolar a todo o custo, podem gerar um esforço exagerado de suas funções psicofisiológicas, e quando não há tempo para a recuperação, pode desencadear sintomas clínicos severos (GASPARINI, S. M. et al., 2005).

Assim, professores que enfrentam adversidades negativas em seu ambiente de trabalho desencadeiam condições físicas e psicossociais patológicas, gerando absentismo, excessos de atestados, afastamento das atividades docentes e diminuição da qualidade do trabalho, desenvolvendo um efeito cascata de sentimento de desvalorização, incompetência, frustração e desmotivação.

Com o passar dos anos as atividades do professor extrapolou a mediação do processo de conhecimento do aluno, o que é de sua competência fundamental. Ampliou-se a missão do profissional para além da sala de aula, a fim de garantir uma articulação entre a escola e a comunidade. Do professor é exigida além do repasse do conhecimento, a participação da gestão e do planejamento escolares, o que significa uma dedicação mais ampla, a qual se estende às famílias e à comunidade (GASPARINI, S. M. et al., 2005).

A desvalorização do trabalho do professor, por parte dos alunos e da sociedade em geral, associados às condições salariais, ambientais, excessiva cobrança por resultados e comprometimento, além do descaso com a educação no cenário nacional refletem na perda da qualidade da saúde dos docentes (TENFEN, W. 1992).

Com a perda da qualidade de trabalho e de saúde dos educadores, indiretamente quem sofre são alunos, refletindo na baixa qualidade de informação, e dificuldade de assimilação do conteúdo. Desse modo por acúmulo de trabalho e pressão psicossocial e física, o educador e profissionais afins tendem a aliviar suas tensões através de medicamentos, dentre outras drogas, para manter o nível educacional esperado, por eles mesmos, por seus superiores e alunos.

A facilidade de aquisição de medicamentos sem prescrição médica, ou seja, a prática da automedicação, é a solução imediatista para minimizar seus problemas de saúde, porém, essa prática deve ser repensada e corrigida. A automedicação é um fenômeno potencialmente nocivo à saúde individual e coletiva, pois nenhum medicamento é inócuo ao organismo (VILARINO, J. F. 1998).

No Brasil, em meados 1994, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (ABIFARMA), cerca de 80 milhões de pessoas realizavam a automedicação (IVANNISSEVICH, A. 1994). Hoje a tendência é que esses dados tenham crescido de maneira importante, principalmente motivado pelo aumento da oferta de medicamentos nos estabelecimentos farmacêuticos e o difícil acesso à saúde pública.

O medicamento ocupa papel central na busca pela recuperação da saúde. A disponibilidade deles pode satisfazer as expectativas dos usuários, mas deve ser considerada pelos profissionais de saúde como uma ferramenta adicional às medidas de caráter profilático e de promoção da saúde da população, sobretudo no importante segmento de educadores (BORTOLON, P.C. et al., 2008)

De acordo com o World Health Organization (OMS), para o uso racional de um medicamento é preciso primeiramente estabelecer a real necessidade do mesmo, ainda, que seja prescrito nas doses na posologia e forma farmacêutica adequada, determinando o período ideal de tratamento, alem disso o medicamento deverá ser dispensado com orientação farmacêutica adequada (OMS. 1987).

Fatores como ausência de atenção farmacêutica, falta de atendimento as normas sanitárias existentes e a carência de informação e instrução na população em geral, vem trazendo impacto negativo na saúde da população devido ao aumento da auto medicação no Brasil. A automedicação inadequada, tal como a prescrição errônea, podem ter como conseqüência efeitos indesejáveis, enfermidades iatrogênicas e mascaramento de doenças evolutivas, representando, portanto, problema a ser prevenido (ARRAIS, P. S. 1997).

De acordo com dados publicados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), os medicamentos ocupam a primeira posição dentre os três principais agentes causadores de intoxicação humana desde 1996, sendo que em 1999 foram responsáveis por 28,3% dos casos registrados. Além disso, no ano de 2007 (última atualização do SINITOX), houve 34.068 casos "notificados" de intoxicação por medicamentos, destes 31,13% foram totalmente acidentais (SINITOX. 2010).

As principais causas de morbidade "intencional", relacionadas a medicamentos são: automedicação; prescrição inadequada; reações adversas inesperadas; não adesão ao tratamento; superdosagem ou sub-dosagem; falta da farmacoterapia necessária; inadequado seguimento de sinais e sintomas e erros de medicação (HEPLER, C. D. 2000).

O medicamento é um símbolo de saúde, valiosa ferramenta de diagnóstico, prevenção, cura e alívio de enfermidades, porem muitas vezes não se associam seus efeitos adversos negativos, até mesmo por que os usuários leigos e alguns dispensadores não têm idéia de como o medicamento interage no organismo. Assim o medicamento representa na sociedade: um agente quimioterápico, uma mercadoria e um símbolo da vida (LEFÈVRE, F. 1991).

Visto que o medicamento é um símbolo de "saúde" e o educador um profissional mediador do conhecimento e exemplo para os alunos, é primordial que tenhamos trabalhos que demonstrem essa relação (medicamento/educador), positiva ou não. Pois a banalização do medicamento por muitos professores pode ser copiada e estendida aos alunos de maneira não intencional, aumentando a periculosidade da automedicação.

No país, estudos de base populacional sobre a prevalência e os fatores associados à automedicação são raros (VILARINO, J.F. et al., 1998). No que diz respeito à automedicação dos profissionais da área do ensino é algo inédito.

Sendo assim, a proposta do trabalho é de traçar o perfil da saúde e da automedicação dos professores e funcionários da Escola Estadual de Ensino Fundamental e médio Frederico Boldt (EEEFM - Frederico Boldt) no município de Santa Maria de Jetibá, a fim de termos informações importantes sobre a saúde de nossos educadores e como podemos melhorá-la, alem de servir como indicativo em relação à automedicação da categoria, a nível nacional.


1.1 OBJETIVOS

Realizar uma revisão bibliográfica sobre os temas saúde, educação e saúde dos professores, a fim de levantar informações pertinentes sobre o assunto, tais como: condições de trabalho, problemas e desafios enfrentados pela classe, perspectivas, etc.

Fazer uma pesquisa de campo, através da aplicação de questionários para os professores e funcionários da Escola de Ensino Fundamental e Médio Frederico Boldt. A fim de traçar:
1. O perfil do entrevistado;
2. O perfil psicossocial e físico da saúde do mesmo;
3. O perfil da automedicação.

Confeccionar gráficos representativos e discutir o resultado da pesquisa, propondo, quando for o caso, possíveis soluções para os problemas eventualmente diagnosticados.


1.2 METODOLOGIA

Foi realizado um estudo epidemiológico de corte transversal, abrangendo 19 profissionais que trabalham na EEEFM - Frederico Boldt no município de Santa Maria de Jetibá - ES, com idade entre 23 a 45 anos durante os meses de outubro a dezembro de 2010. Não foram diferenciados professores, pedagogos e funcionários da área administrativa (diretores, secretários), efetivos ou de Designação Temporária (DT?s), habilitados ou não.

A pesquisa foi realizada através de questionário entregue aos entrevistados na escola, durante o horário de planejamento, após o total esclarecimento sobre objetivo do trabalho e os métodos de análise de dados. O questionário (APÊNDICE A) contém perguntas abertas e fechadas e a partir das respostas, foram confeccionados, tabelas e gráficos representativos.

A análise dos dados coletados foi realizada pelo método de porcentagem, sendo os questionários agrupados e analisados em sua totalidade.

Foi realizada ainda, pesquisa bibliográfica através de material disponível em artigos científicos e livros oficiais, referentes aos temas: Automedicação, perfil da saúde dos professores e medicamento. Foram incluídos na revisão estudos observacionais descritivos ou analíticos sobre os temas, tratados em conjunto ou individualmente, a fim de obter dados históricos e informações relevantes sobre o assunto de forma dinâmica (GIL, A. C. 1996).


2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados coletados nas pesquisas foram divididos em quatro partes, que dizem respeito ao perfil do educador, o perfil psicossocial em saúde dos próprios, queixas de saúde dos participantes e o perfil da automedicação praticada pelos mesmos. A fim de tornar a interpretação dos dados e seu entendimento mais específico em cada uma das partes.

2.1 Perfil do educador

Dos 19 profissionais entrevistados na EEEFM - Frederico Boldt: 5 são do sexo masculino e 14 feminino, apenas 4 são pedagogos ou secretários e 15 são professores. A média de idade dos participantes é de 32 anos (desvio padrão = 6,0), variando de 23 a 45 anos.

Ao serem perguntados sobre o tempo que trabalham na educação o resultado foi que 47,36% atuam acima de 8 anos; 15,78% atuam em um período entre 4 a 8 anos e 36,84% atuam de 1 a 4 anos na área. No que diz respeito ao número de escolas em que trabalham: 63,15% trabalham apenas na escola estudada; 26,31% trabalham em duas escolas e 10,52% trabalham em três escolas.

Sobre a carga horária de trabalho em escolas, correspondente às aulas propriamente ditas e aos planejamentos (desprezando outros trabalhos fora da área) o resultado foi que apenas 5,36% têm carga horária de até 10 horas semanais; 21,05% trabalham de 10 a 20 horas semanais; 52,63% trabalham de 20 a 40 horas semanais e 21,05% trabalham mais que 40 horas semanais

Apenas os educadores (15) foram indagados sobre o número de turmas em que lecionam, o resultado mostrou que 46,66% ministram aulas para mais de 6 turmas; 33,33% de 4 a 6 turmas e 20,00% de 1 a 4 turmas. A respeito do tipo de turma em que os professores ministram aulas, o resultado mostrou coincidentemente: 20,00% atuantes exclusivamente no ensino médio; 46,66% atuam no ensino fundamental e 33,33% ministram aulas tanto para o ensino fundamenta quanto o médio.

No que diz respeito às adversidades enfrentadas no ambiente de trabalho, vários problemas foram apontados pelos entrevistados, são eles:

Tabela 1. Problemas enfrentados pelos educadores em seu ambiente de trabalho
Superlotação 73,67%
Barulho excessivo 63,15%
Stress psicológico 57,89%
Falta de ventilação 47,36%
Iluminação inadequada 42,10%
Dificuldade de deslocamento 42,10%
Falta de tempo 42,10%
Excesso de trabalho 31,57%
Problemas ergométricos 15,78%


2.2 Perfil psicossocial em saúde

A auto definição da saúde dos entrevistados apresentam as seguintes porcentagens: 73,67% responderam apresentar uma saúde boa; 21,05% consideram ter uma saúde regular e apenas 5,26% afirmam ter uma saúde ruim. Um dado alarmante é que apenas 10,52% dos profissionais entrevistados têm plano de saúde, os outros 89,47% não dispõem. Ao serem perguntados se costumam consultar com o farmacêutico a resposta foi que 63,15% negativa e 36,85% responderam que buscam atendimento especializado com o farmacêutico.

Perguntas foram feitas no intuito conhecer o nível de saúde dos profissionais da Escola Frederico Bold, e o resultado foi alarmante visto que a média de problemas que cada profissional relatou é de aproximadamente 5 por pessoa.

As queixas foram agrupadas na tabela abaixo em ordem decrescente de prevalência:

Tabela 2. Queixas de saúde relatadas pelos participantes
Queixas de saúde n° de queixas %
Cansaço mental 11 57,89%
Insônia 11 57,89%
Dor nas costas 10 52,63%
Esquecimento 9 47,37%
Dor na coluna 9 47,37%
Dor nos braços/ombro 8 42,11%
Nervosismo 7 36,84%
Entupimento nasal/coriza 7 36,84%
Dor na garganta 6 31,58%
Tosse 5 26,32%
Irritação nos olhos 5 26,32%
Sonolência 5 26,32%
Queda dos cabelos 5 26,32%
Tontura 5 26,32%
Fraqueza 5 26,32%
Problemas digestivos 4 21,05%
Rinite 3 15,79%
Palpitações 3 15,79%
Pesadelos 3 15,79%
Azia/queimação 2 10,53%
Perda temporária de voz 2 10,53%
Redução da visão 2 10,53%
Falta de ar 2 10,53%
Dor/formigamento nas pernas 1 5,26%
Inchaço nas pernas 1 5,26%
Não ouve bem 1 5,26%
Média: 5,07 (D.P.= 3,12)

2.4 Informações sobre Automedicação

Na terceira parte do questionário foram feitas perguntas sobre a prática da automedicação aos entrevistados, os resultados foram transcritos através de gráficos e tabelas.

Gráfico 3. Costuma comprar medicamentos sem indicação médica?
Alguma vez 57,89%
Raramente 21,05%
Regularmente 5,26%
Sempre 15,78%
Nunca 0%

Gráfico 4. Qual o motivo principal que justificou a automedicação?
Já tinha experiência com o remédio 63,15%
Falta de tempo para ir ao médico 10,52%
Tinha uma receita antiga para o mesmo problema 10,52%
Considerou o que tinha insignificante 10,52%
Outros 5,26%

Podemos perceber que todos os entrevistados compraram medicamentos sem a indicação médica pelo menos alguma vez (57,89%), e que o principal motivo para a automedicação é a experiência prévia com o medicamento em questão (63,15%).

Tabela 3. Os medicamentos comprados foram indicados por alguém?
Ninguém 42,11%
Família 26,32%
Amigos 21,05%
Colegas de trabalho 21,05%
Farmacêutico 10,53%
Balconista 0,00%

Tabela 4. Os medicamentos adquiridos SEM INDICAÇÃO MÉDICA ultimamente:
"Tipo de medicamento" n° %
Analgésicos / Relaxante muscular 13 68,42%
Vitaminas 10 52,63%
Preparados para tosse e resfriado 6 31,58%
Descongestionante nasal 5 26,32%
Antiinflamatório / Antireumáticos 5 26,32%
Calmantes e/ou hipnóticos 5 26,32%
Antimicrobianos / Antifúngicos 1 5,26%
Antiácidos ou antiulceroso 1 5,26%
Fitoterápicos / Naturais 1 5,26%
Anti-helmínticos / Antidiareicos 1 5,26%
Hipotensores / Diuréticos 0 0,00%
Emagrecedores / Estimulantes 0 0,00%
Antidepressivos 0 0,00%
Corticóides 0 0,00%
Antiasmáticos 0 0,00%
Antiespamódicos / Antiflatulênicos 0 0,00%
Hormônios sexuais 0 0,00%
Anti-histamínicos / antialérgicos 0 0,00%
Outros 0 0,00%


2.5 Discussão

Os maiores problemas enfrentados pelos educadores no ambiente de trabalho são respectivamente: Superlotação 73,67%, Barulho excessivo 63,15%, Stress psicológico 57,89%, sendo que a exposição a essas adversidades ambientais a médio e longo prazo tende a trazer graves problemas à saúde de qualquer trabalhador. Esses problemas estão intimamente ligados e sua solução depende principalmente do aumento do espaço físico das instalações ou fracionamento das turmas de docentes.

Outro fato marcante é que 89,47% dos entrevistados não possuem de plano de saúde, o que tende a gerar dificuldade de acesso a consultas médicas especializadas. Pode ser analisada ainda a relação desigual entre o número de consultas médicas no período de um ano sendo menor que o número de visitas a farmácias para comprar medicamentos em um período de três meses.

O elevado número de queixas de saúde (média de 5 por pessoa) é o dado mais alarmante da pesquisa, demonstrando uma realidade triste que precisa ser modificada urgentemente. A pesquisa demonstrou ainda que 100% dos entrevistados reclamaram de pelo menos algum problema de saúde.

As queixas mais comuns foram: Cansaço mental 57,89%, Insônia 57,89%, Dor nas costas 52,63%, Esquecimento 47,37%, Dor na coluna 47,37%, Dor nos braços / ombro 42,11% e Nervosismo 36,84%, podendo estar relacionado com o intrinsecamente com ambiente de trabalho superlotado e agitado.

Os dados referentes à automedicação demonstraram que:

100% dos entrevistados compraram medicamentos sem a indicação médica pelo menos alguma vez;
O principal motivo para a automedicação é a experiência prévia com o medicamento (63,15%);
Os medicamentos adquiridos sem indicação médica não teve a influência de terceiros 42,11% ou foi indicado pela família 36,32%.

Os medicamentos mais consumidos sem indicação médica foram: Analgésicos / Relaxante muscular 68,42%, Vitaminas 52,63%, Preparados para tosse e resfriado 31,58%, Descongestionantes nasais 26,32%, Antiinflamatório / Antireumáticos 26,32%, Calmantes e/ou hipnóticos 26,32%.

A utilização de polivitamínicos deve estar relacionada pela queixa de cansaço mental. Os analgésicos, relaxantes musculares e antiinflamatórios com as queixas de dores nas costas/coluna e braços/ombros, e os calmantes e hipnóticos com as queixas de insônia.

Dentre os medicamentos que foram mais consumidos pelos educadores através da automedicação, os que mais preocupam são os Calmantes e/ou hipnóticos 26,32%, visto que são medicamentos sujeitos a controle especial e que podem gerar dependência física e psíquica, esses medicamentos deveriam ser dispensados apenas mediante retenção de receita médica, porém não é isso o que acontece de acordo com resultado da pesquisa.

A relação de problemas e conseqüências que foi descrito no trabalho pode ser exemplificada no organograma abaixo:

1 Problemas no ambiente de trabalho- Queda no rendimento do trabalho- Piora do processo ensino-aprendizagem.
2 Problemas no ambiente de trabalho- Problemas de saúde- Automedicação- Possíveis problemas relacionados à automedicação.


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através do presente estudo, evidenciamos diversos desafios que os profissionais da educação convivem diariamente e que na maioria das vezes não há fácil solução, pois depende de uma modificação na estrutura física e/ou organizacional do trabalho. Esses problemas que nem todos conhecem está presente na grande maioria das escolas brasileiras.

Pela falta de solução definitiva o profissional tem que trabalhar em condições insalubres, podendo inclusive essas condições estar relacionadas intrinsecamente com o mal estar diagnosticado em 100% dos entrevistados. Então se existe um mal estar presente na totalidade dos professores é de se esperar que a qualidade da oferta de conhecimento não seja a melhor possível.

Com a demanda de trabalho gerando mal estar, uma grande porcentagem dos entrevistados recorrem à automedicação, fato que deve ser desencorajado completamente, por trazer sérias conseqüências e riscos inerentes ao uso de qualquer medicamento. Ou em últimos casos deve-se estimular a automedicação responsável com o farmacêutico: profissional que tem a capacidade técnica de contribuir para satisfazer a necessidade que tem a sociedade de um tratamento farmacológico adequado, efetivo e seguro (CIPOLLE, D.J., et al. 2000).

Visto que o educador tem papel fundamental em todo o ciclo de desenvolvimento intelectual das crianças, jovens e adultos além de ser um exemplo a seguir, e que a qualidade do trabalho de qualquer profissional depende do seu bem estar. Devemos investir mais na saúde e nas condições de trabalho do educador, a fim de garantir uma transferência de conhecimento, habilidades e competências de maneira mais eficaz, criativa e prazerosa para ambos os lados, o do transmissor (mestre) e o do receptor (aluno).


4. REFERÊNCIAS

ARAÚJO T, SILVANY A, REIS E, KAVALKIEVICZ C; Condições de trabalho e saúde dos professores da rede particular de ensino: Salvador- Bahia. Salvador: Sindicato dos Professores do Estado da Bahia; 1998.

ARRAIS, PAULO SÉRGIO, Perfil da automedicação no Brasil. Rev. Saúde Pública, 31 (1): 71-7, 1997.

BORTOLON, P.C. et al. Análise do perfil de automedicação em mulheres idosas brasileiras: BRASIL, 2007. Ciência & Saúde Coletiva, 13(4):1219-1226, 2008

CIPOLLE, D.J., STRAND, L. M., MORLEY, P.C. El ejercicio de la atención farmacéutica Madrid: McGraw Hill / Interamericana, p. 1-36, 2000.

CODO W, VASQUES I, AZEVEDO J, GENTILI P, KRUG A, SIMON C,. Trabalho docente e sofrimento: burnout em professores. Utopia e democracia na educação cidadã. Porto Alegre: Editora Universidade; 2000. p. 369-81.

ESTEVE, J. M. Mal-estar docente: a sala de aula e a saúde dos professores. São Paulo: Edusc, 1999.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
IVANNISSEVICH, A. Os perigos da automedicação. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 23, jan., 1994.

HEPLER, C.D. Observations on the conference: A phamarcist´s perspective. Am J. Health Syst Pharm v. 57, p. 590-594, 2000.
LEFÈVRE, F. O medicamento como mercadoria simbólica. V. 6. São Paulo, SP: Cortez, 1991, 159 p.

SANDRA M. GASPARINI; SANDHI M. BARRETO E ADA A. ASSUNÇÃO. O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 189-199, maio/ago; 2005.

SINITOX ? Sistema Nacional de Informações Tóxico ? Farmacológicas. Registros de intoxicação e envenenamento: Brasil, 2007. Rio de janeiro: Fundação Oswaldo Cruz/ Centro de Informação Científica e Tecnológica, 2010.

TENFEN, W. O processo de (des)qualificação do professor. Florianópolis, 1992. Dissertação (Mestrado em Educação) ? Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina.

VILARINO J. F, SOARES I. C, SILVEIRA C. M, RÖDEL A. P, BORTOLI R, LEMOS R. R; Perfil da automedicação em município do sul do Brasil. Rev Saúde Pública 1998; 32:43-9.

VILARINO, Jorge F., Perfil da automedicação em município do Sul do Brasil, Brasil. Rev. Saúde Pública, 32 (1): 43-9, 1998.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. The rational use of drugs: report of the conference of experts. Nairobi 1985 Jul 25-29. Geneva: WHO; 1987.


Obs: Algumas tabelas e gráficos foram removidos.
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