De quando ainda podia visitá-la.

Normalmento o fazia no mês de abril. Percorria os muitos kilômetros que me separavam de minha terra natal, por estradas ladeadas pelos campos de trigo. Ficava observando pelos vidros do ônibus, seus cachos dourados, iluminados pelo sol laranja do outono. Aquela luz pálida, desenhava uma aquarela suave em tons pastéis.

Seguia embalada por aquela paisagem de muitos matizes,tentando adivinhar qual a surpresa que me esperava na casa de meus pais. Se um doce de laranja, preparado com carinho pela minha mãe, ou uns bolos fritos, que eram a especialidade de meu pai.

Quando ia me aproximando do povoado onde eles moravam, sentia um frio no estômago, como se fosse a primeira vez que ali estivesse. Encontrávamos todos reunidos a nos esperar, os irmãos que moravam próximo , o Sr. Jacó e a Dona Nina.

Quando percorríamos os campos nos arredores da vila, íamos observando as nuvens e tentando adivinhar as formas que elas apresentavam, ora lembrando um determinado animal, ora um pássaro. Á noite sentávamos na varanda da casa e observávamos as estrelas, mais visíveis pela ausência das muitas luzes de uma grande cidade.

Visitávamos alguns irmãos que tinham moram mais afastados e aproveitávamos para matar as saudades de tomar um copo de leite morno, recém tirado da vaca, cheio de espuma, com uma pitada de açúcar e canela. Chupávamos cana, tomávamos banho de cachoeira, comíamos frutas recém apanhadas do pé.

Era uma felicidade ímpar, que sempre estará atrelada aos tons laranja das lavouras de trigo e as temperaturas amenas de uma época de outono.