Há dias em que trafegar por São Paulo exige do motorista mais reflexos que dos melhores jogadores de videogame.


Quando chove então? Esta cidade fica próxima do inferno na Terra. Se filmasse esses trajetos aventurosos, o documentário seria arrepiante.


Todas as leis de trânsito são quebradas nessa ocasião. Torna-se uma cidade sem lei, onde as armas são os veículos automotores e, ganha aquele que arrancar mais rápido.


Os motoristas deixam de ser humanos e como num filme de horror, criam simbiose com suas máquinas. Estas, convertidas em grotescas próteses, não são mais humanas. É o Gol verde contra o Escort marrom e por aí vai.


Os pedestres tornam-se sub-humanos e os motoqueiros, tal qual enxame de insetos, passa zunindo a seu lado com suas buzinas infernais, imaginando talvez, que por utilizá-las insistentemente, uma mágica ocorra e os demais veículos saiam da frente.


Esse caos urbano, letal e desumanizador tende a ficar cada dia pior. Por que?


Inicialmente, a cidade está superpovoada. É um cenário do apocalipse futurista, aqui e agora. Segundo o site do IBGE (www.ibge.gov.br) na página IBGE Cidades@, a população estimada em 01/07/05, somente para a cidade de São Paulo, era de aproximadamente 10,9 milhões de habitantes coexistindo em 1.523 Km2. Ao compararmos com a cidade de Campinas, por exemplo, que possuía segundo o site na mesma data, 1,04 milhão de habitantes vivendo em 796 Km2, os números são aberrantes. Numa área menor que o dobro, vivem 10 vezes mais pessoas !


Somemos a isso, o transporte público caro e ineficiente, que privilegia o transporte coletivo sobre rodas extremamente dispendioso e poluidor, em detrimento do metrô, trens ou mesmo bondes elétricos, capazes de transportar mais pessoas em menor área física e com poluição tendendo a zero. Como resultado, mais e mais pessoas utilizam o transporte individual fomentando ainda mais o caos. Alie-se a isso a inexistência de planejamento urbano que gera cruzamentos e mais cruzamentos de ruas, cada um com um semáforo, e voilá ! Ninguém mais chega a lugar algum.


O fato, por sua vez, de muitos moradores de uma zona da cidade trabalharem no outro extremo da mesma, sujeitando-se a essas condições de transporte horrorosas e desumanas diariamente, perdendo preciosas horas de lazer ou estudo e chegando ao trabalho mais cansados do que quando foram se deitar -- uma qualidade de vida menor que zero -- não ajuda em nada esse cenário.


Como não há previsões de solução a curto e médio prazos, pergunto: Até quando São Paulo suportará essa loucura sem que nos matemos todos uns aos outros ?