Nas novelas é comum que as mocinhas cometam alguns deslizes e tenham constantes lapsos de atenção e memória, o que tem a função de demonstrar que elas são personagens de bom caráter e acaba, providencialmente, atrasando a história em alguns capítulos, para que o autor ganhe tempo. Não precisar dizer que tal artifício é proposital. Em Salve Jorge, entretanto, o recurso é usado além do aceitável, a ponto de se questionar a inteligência de Morena e do telespectador.

A dois meses do capítulo final, Salve Jorge, novela da Globo, da faixa das 21h (horário de Brasília) ainda é perseguida pelo fantasma de Avenida Brasil. Para os telespectadores mais assíduos da trama de João Emanuel Carneiro, é praticamente impossível assistir um capítulo do folhetim de Glória Perez sem compará-la com a anterior ou até mesmo imaginar permutas de personagens, ou o que seria de um vivendo a trama do outro.

Quanto às protagonistas, a semelhança é notável. Morena (Nanda Costa) assumiu o papel de justiceira. A mocinha vive gritando para a Capadócia toda ouvir que vai se vingar da quadrilha de tráfico de seres humanos. A lembrança de Nina (Débora Falabella), que até outro dia era a vingativa de plantão do horário nobre, não é mera coincidência.

O caso poderia ser resolvido com um simples telefonema para a delegada Helô (Giovanna Antonelli), que já recebeu fotos da boate das traficadas em Istambul, porém Morena preferiu mandar mensagens cifradas pela internet até finalmente ter a idéia de convidar a delegada para uma conversa de vídeo. A ingenuidade da personagem só tem uma explicação: serve para ganhar tempo e preencher capítulos suficientes para os próximos dois meses de novela.

Casos como o do celular que movimentou um plano estratégico desnecessário, que durou uma semana e acabou com Waleska sendo pega em flagrante por Russo (Adriano Garib), e o caso da webcam que não tem no notebook do turco Ziah e impediu Morena de se comunicar com Helô e provar que está viva, além de outros casos que só completam capítulos, são verdadeiras subestimações da inteligência do público, que já aparenta não mais ‘comprar’ tramas pobres em enredo.