Revista Super Interessante - Edição 178 - Julho 2002

Revista que de interessante tem só o nome, nada mais é do que um monte de frases moldadas conforme o pensamento anti-cristão. Apesar de todo o "desinteressantismo" que essa revista tem, obrigo-me a explanar aos leitores menos informados uma questão que pode causar certa confusão. Em primeiro lugar, o assunto sobre o qual quero expor tem como título da própria revista o seguinte:

"Descobertas recentes da arqueologia indicam que a maior parte das escrituras sagradas não passa de lenda"

Bom, sobre este título de embasamento a revista faz sua afirmação sobre alguns tópicos da Bíblia Sagrada, como: O Dilúvio, o Êxodo, Davi, Salomão, Judá, Jesus, Jerusalém e Paulo. Porém ao se afirmar como base de sua própria descoberta a arqueologia, não são capazes de mostrar o que arqueologicamente está em suas afirmações, demonstrarei suas falhas ao chamarem o rei Salomão de um mero líder tribal, e além de falharem historicamente, não são capazes de usar como base sua própria arqueologia, mas se utilizam de falas falaciosas e argumentações baseadas em seus próprios pensamentos.

Eis o que diz a revista sobre Salomão:

"IMPÉRIO DE SALOMÃO

O QUE DIZ A BÍBLIA Salomão sucedeu a seu pai, David, fez alianças com reinos vizinhos e construiu o templo de Jerusalém. Em seu reinado, os israelitas alcançaram opulência e poder, Salomão construiu palácios e fortalezas em Jerusalém, Megiddo, Hazon e Gezer.

O QUE DIZ A ARQUEOLOGIA Não há sinal de arquitetura monumental em Jerusalém ou em qualquer das outras cidades citadas. Tudo leva a crer que Salomão, como David, eram apenas pequenos líderes tribais de Judá, um Estado pobre e politicamente inexpressivo."

Sublinhei dois pontos importantes e fundamentais que a revista trata sobre Salomão, o primeiro é: "Tudo leva a crer", mas tudo o quê? Se não acharam resquícios arqueológicos do Templo, isso não quer dizer que tudo leva a crer que não existiu. (Essa é uma inferência extremamente tendenciosa e falaciosa, pois se não acharam vestígios do Templo ou de qualquer outra civilização, não pode ser afirmada a não existência dos mesmos).

No capítulo 5 do livro de 1Reis, Salomão faz uma aliança com o rei Hirão de Tiro1 (cidade litorânea do Líbano, ao norte de Israel), pois ninguém sabia cortar madeiras como os sidônios (Sidom próximo à Tiro e também no Líbano) e os servos de Hirão levariam as madeiras de cedro e de cipreste para Salomão e ainda os edificadores de Salomão (Israelitas), de Hirão (Sidom e Tiro) e os Giblitas (Gebal2 próximo à Tiro e Sidom) lavrariam pedras para o Templo.

A pergunta é: O que isso importa? Importa no que diz respeito aos povos que ajudaram a edificar o Templo, os sidônios, os de Tiro e os giblitas todos do Líbano, norte de Israel. Após o reinado unificado de Salomão, houve uma ruptura por parte de seu filho Roboão e o Império Israelita com capital em Jerusalém foi dividido em Israel ao norte com capital em Samaria e Judá ao sul com capital em Jerusalém; porém todo o monumental Império de Salomão (970 a 930 aC) é atribuído a Onri rei de Israel ao norte (885 a 874 aC) por meio da "interessantíssima revista". Eis o que afirmam: "Na verdade, o grande momento da história hebraica teria acontecido não no período salomônico, mas cerca de um século mais tarde. Entre 884 e 873 aC, foi fundada Samaria, a capital do reino de Israel, no norte da Palestina sob a liderança do rei israelita Omri." E ainda continua: "A arqueologia demonstrou que os monumentos normalmente atribuídos a Salomão foram, na verdade, erguidos pelos omridas."

Agora entra os sidônios, os de Tiro e os giblitas na questão, muito provavelmente estes homens se admiravam da grande obra (o Templo de Salomão) que estava sendo feita, o que nos dá uma probabilidade maior em dizer que o que existiu de monumental no reinado israelita de Onri (a edificação da cidade de Samaria) foi levado pelos de Tiro, sidônios ou giblitas influenciados pela monumental obra que ajudaram a fazer, não por ser grande, porque o Templo não era gigantesco3, mas por ser rico. E como afirma Flávio Josefo em sua obra História dos Hebreus, Livro 8, capítulo 2, tópico 326, p.366; "Salomão nada tinha mais a peito que a construção do Templo. Ordenou en­tão aos seus súditos que lhe fornecessem trinta mil operários e distribuiu de tal sorte a obra à qual se entregava que o trabalho não lhe podia ser difícil. Dez mil cortavam madeira durante um mês no monte Líbano, depois voltavam para as suas casas e lá passavam dois meses. Outros dez mil tomavam os lugares deles e, depois de trabalhar durante um mês, retornavam também às suas casas. Os dez mil restantes dos trinta mil os sucediam. Os dez mil primeiros voltavam depois, prontos para continuar o trabalho do mesmo modo."

E quanto ao demonstrou arqueologicamente, a revista se cala e nada tem a mostrar, a não ser simplesmente dizer sem fonte histórica ou arqueológica alguma.

E corroborando na argumentação a respeito da influência dos povos do Líbano (Tiro, Sidom e Gebal) sobre o rei de Israel Onri, Donald J. Wiseman cita em sua obra 1 e 2Reis, Introdução e comentário da série cultura bíblica da editora Vida Nova, p.142 e 143; o seguinte aspecto sobre o rei Onri: "Esvações em Samaria, atual Sebastiyeh a onze quilômetros a noroeste de Siquém (Nablus) [...] demonstra que Onri foi o primeiro construtor sobre uma montanha de cem metros de altura. Este local era uma boa escolha, pois visava bloquear vários ataques (v.20.1-21; 2Rs 6.24-25; 18.9-10). O plano de Onri visava obter (a) uma posse pessoal que ele poderia legar; (b) um centro cananeu independente (v.16.32, culto a Baal); (c) um centro de comunicação ao oeste da cordilheira e assim comercializar mais com Tiro e Sidom do que com Tirza (que era Samaria) grifo meu, que estava ao leste; e (d) uma nova capital independente para o reino do norte, assim como Davi tinha Jerusalém para unificar seus partidários no sul."

Desta forma, na busca comercial de Onri com Tiro e Sidom, houve com certeza um contato de culturas e influências inegáveis, como cita 1Reis 16: 29 e 31 "29 Acabe, filho de Onri, começou a reinar sobre Israel no ano trigésimo oitavo de Asa, rei de Judá; e reinou Acabe, filho de Onri, sobre Israel, em Samaria, vinte e dois anos. 31 Como se fora coisa de somenos andar ele nos pecados de Jeroboão, filho de Nebate, tomou por mulher a Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios; e foi, e serviu a Baal, e o adorou.

Quanto ao segundo ponto afirmado pela revista ao chamar Davi e Salomão de (pequenos líderes tribais), já foi demonstrado principalmente a influência sidônia sobre Onri e sua descendência, a partir da ida dos construtores a Jerusalém na edificação do Templo de Salomão, mas sinceramente chamar Davi e Salomão de pequenos líderes tribais é simplesmente ferir a história com a maior ignorância intelectual já vista, pois como demonstra Flávio Josefo em sua obra História dos Hebreus, Livro 8, capítulo 2, tópico 327, p.370 e 371 "O rei Salomão mandou fazer também um grande número de mesas, dentre elas uma bastante grande, de ouro maciço, sobre a qual seriam colocados os pães consagrados a Deus. As outras mesas, que não eram inferiores a essa em beleza, eram feitas de diversas maneiras e serviriam para que nelas se colocassem vinte mil vasos ou taças de ouro e quarenta mil de prata. Mandou fazer também, como Moisés havia determinado, dez mil candela­bros, um dos quais ficaria aceso dia e noite no Templo, como a Lei o ordenava. A mesa sobre a qual se poriam os pães oferecidos a Deus foi colocada no lado norte do Templo, em frente ao grande candelabro, que estava na parte sul. O altar de ouro ficou entre ambos. Tudo isso foi colocado na parte anterior do Templo, de quarenta côvados de comprimento, separada por um véu do Santo dos Santos, no qual a arca da aliança deveria ser colocada. Salomão mandou fazer ainda oitenta mil taças para vinho e outras dez mil de ouro e vinte mil de prata, oitenta mil pratos de ouro, para neles se pôr a farinha preparada para o altar, cento e sessenta mil pratos de prata, sessenta mil taças de ouro, para se molhar a farinha com óleo, cento e vinte mil taças de prata, vinte mil vasos ou hins de ouro e quarenta mil de prata, vinte mil turíbulos de ouro, para se queimar e oferecer os perfumes, e cinqüenta mil outros, para neles se levar o fogo do grande altar até o pequeno, que estava no Templo. Esse grande rei mandou fazer também mil vestes sacerdotais, para os sacerdo­tes, com túnicas que iam até os calcanhares, e cada qual com o seu éfode e com pedras preciosas. A coroa em que Moisés havia escrito o nome de Deus continuou a mesma. Ela ainda pode ser vista em nossos dias. Mandou fazer também estolas de linho para os sacerdotes, com dez mil cintos de púrpura, duzentas mil outras estolas de linho, para os levitas que cantavam os hinos e os salmos, duzentas mil trompas, como Moisés havia determinado, e quarenta mil instrumentos de músi­ca, como harpas, saltérios e outros, feitos de metal composto de ouro e prata."

Desta forma, creio que nada mais temos a dizer sobre a riqueza de Salomão e Davi, negando veementemente a posição imposta da revista sobre Salomão e Davi serem líderes tribais. A única questão que nos resta dizer é sobre onde foram parar todos estes utensílios de ouro e prata. Quando Nabucodonosor, rei da Babilônia, no 586 aC invadiu Jerusalém e destruiu o Templo de Salomão, 2Reis 24: 10-13 pode abordar com fidelidade: "10 Naquele tempo, subiram os servos de Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém, e a cidade foi cercada. 11 Nabucodonosor, rei da Babilônia, veio à cidade, quando os seus servos a sitiavam. 12 Então, subiu Joaquim, rei Judá, a encontrar-se com o rei da Babilônia, ele, sua mãe, seus servos, seus príncipes e seus oficiais; e o rei da Babilônia, no oitavo ano do seu reinado, o levou cativo. 13 Levou dali todos os tesouros da Casa do Senhor e os tesouros da casa do rei; e, segundo tinha dito o Senhor, cortou em pedaços todos os utensílios de ouro que fizera Salomão, rei de Israel, para o templo do Senhor.

Sendo assim, é melhor crer em fontes históricas que perduram por quase dois milênios do que dar crédito a uma revista tendenciosa e que baseia suas fontes em mentes quaisquer.

1 Tiro é atualmente chamada de Sur

2 Gebal é a atual cidade de Byblos

3 1Reis 6:2 "A casa que o rei Salomão edificou ao Senhor era de sessenta côvados de comprimento, vinte de largura e trinta de altura."
Sabendo que um côvado equivale a 44 centímetros, teríamos nas medidas atuais um Templo de 26,4m de comprimento; 8,8m de largura e 13,2m de altura.