O paradigma educacional tende a adaptar-se às condições concretas da vida das pessoas. Na actualidade, a escola interessa-se para sustentar a sua prática educativa, pela inserção na comunidade e pelo reconhecimento de saberes localizados nela.

Saber local

O termo saber significa ter conhecimento. No sentido fenomenológico conhecer é ter consciência de alguma coisa, é apreender o objecto. É captar os fenómenos e as suas diversas manifestações. Os saberes são um conjunto de enunciados que carregam consigo mesmas noções de saber ser e estar, saber fazer, saber conhecer. É nessa abordagem que LYOTARD (1989:43), advoga que ̋os saberes se fundamentam na competência que excede a determinação e aplicação do mero critério da verdade”. Os saberes dizem respeito à eficiência, a justiça e felicidade, a normalidade. O autor acima, afirma que o Saber “é aquilo que torna qualquer pessoa capaz de proferir bons enunciados avaliativos”. Isto é o saber é mais abrangente ele inclui enunciados científicos e culturais que de facto estes últimos são incorporados em saberes locais.

O termo “Local” referido no contexto do saber local não se refere apenas ao espaço localizado geograficamente, mas aos discursos educativos produzidos por pessoas de uma determinada comunidade. Refere se aos discursos de pertença comunitária que desempenham uma função na educação dos jovens da mesma comunidade. Local tem um carácter regional e caracteriza os residentes de uma determinada comunidade, ou cultura situada no espaço. Desta forma, a selecção de conteúdos pode, pois, incluir a matéria que não sendo meramente local do ponto de vista geográfico, se afigura relevante a sua aprendizagem no contexto da comunidade.

O saber local dá-se dentro do universal e vice-versa é por isso que LYOTARD (1989:43), relaciona o saber local com o saber científico. Ele entende que o saber científico não é só o conjunto de enunciados, mas também “o saber voltado à vida quotidiana e a escola tem a obrigação de ensinar esse saber. O saber escolar é abrangente e prático e diz respeito à vida da localidade”.

A relação que o autor que se tem vindo a citar faz entre o saber local e o saber científico é legítima porque o saber se auto-afirma como saber científico recorrendo ao saber local, por isso este afirma ainda que o "saber científico não pode saber e fazer saber que ele é o verdadeiro saber sem recorrer ao outro saber narrativo, que é para ele o não saber e em caso de ausência ele é obrigado a pressupor-se a si mesmo, caindo assim no que condena a repetição do próprio, o preconceito". No entanto, querendo mostrar que para a construção do saber científico é preciso recorrer-se a outras formas de saber que são empíricas de forma a avançar com a sistematização, GEERTZ (1997:10), defende que “as formas de saber são sempre e inevitavelmente locais, inseparáveis de seus instrumentos e de seus invólucros”. Contudo, esta abordagem que o autor coloca nos remete a ideia de que os saberes locais se manifestam através de uma série de formas simbólicas, facilmente observáveis, um repertório elaborado de designações que se manifestam e se sistematizam no processo de ensino e aprendizagem.

O saber local corresponde ao conjunto de conhecimentos, práticas, atitudes, habilidades e experiências que se transmitem e se comungam num determinado grupo humano. São aqueles que reflectem a realidade vivenciada pelo aluno no seu dia-a-dia nas suas diversas actividades, nomeadamente: comercio, habitações, agricultura e pesca, sendo estes conteúdos que podem ser inseridos na

Métodos de disseminação dos saberes locais.

O saber local produzido e cultivado por pessoas mais velhas da comunidade “Enciclopédias tradicionais” é transmitido através da oralidade de geração para geração. Na prática as comunidades detêm um conjunto de saberes transmitidos de geração em geração, que abrangem por exemplo, a construção de casas usando o material local “estacas e caniço”, a pratica de agricultura e a pesca no rio local que para este estudo é o rio Limpopo, técnicas locais de combate a erosão técnicas agrícolas, mas este saber é tipicamente empírico e a sua transmissão não é sistémica, isto é os métodos não são programados nem sistematizados visto que este leque constitui a base para a execução e desenvolvimento das actividade diárias da comunidade.

Na transmissão dos saberes locais que orientam a vida humana na comunidade prioriza-se a componente competência e pedagógica centralizada no transmissor. De certo modo os saberes locais não tem um método estruturado que possa regular a pedagogia local como um saber escolar, portanto através da exploração dos saberes locais nas aulas de Geografia pode se estabelecer uma reestruturação de acordo com a combinação deste com os programas de ensino estabelecidos a nível central. A reestruturação deve ser feita em jeito de transposição didáctica durante a planificação de aulas, de modo a priorizar os exemplos locais de um conhecimento do quotidiano dos alunos, desta forma o professor não precisará de recorrer a exemplos de uma região distante enquanto ao redor do aluno existe aspectos que podem facultar a aprendizagem de forma significativa.