Eu, que por minha declarada aversão ao poder tanto temporal quanto espiritual, sou chamado pelos amigos de “anarquista anacrônico”, deveria estar rindo diante das notícias que afloram na imprensa todos os dias. Ao serem levantados os tapetes azuis do Senado, o que estamos assistindo é uma quantidade tão grande de falcatruas que fariam ruborizar até mesmo aquelas pessoas destituídas de qualquer escrúpulo.

 

Mas não é assim que me sinto. Ao ver a seqüência de escândalos serem trazidos à tona, noto que caem por terra praticamente todos os últimos bastiões de moralidade e da ética que eu acreditava ainda existirem no meio político. Ficou claro para mim que aqueles princípios que deveriam reger os homens públicos, como o da legalidade, da indisponibilidade dos bens públicos, supremacia do interesse coletivo, todos eles apenas existem formalmente para enganar a incauta população, já que materialmente, eles foram aniquilados pelo interesse particular de cada um desses “cidadãos”, se que ainda podemos chamá-los assim.

 

Eu que sempre me arvorei a tentar mostrar aos jovens de minha comunidade que havia um caminho mais luminoso a ser percorrido, sinto ruir sob meus pés toda a minha estrutura argumentativa, já que muitas das pessoas que eu citava como exemplo de farol norteador para nossas vidas, estão envolvidas ou, no mínimo, omitiram-se diante de todos esses nefastos acontecimentos.

 

Como sempre apregoei que o melhor conselho é o exemplo, agora me pergunto, como já fiz em outras ocasiões: o que é que eu vou dizer para esses jovens? O que é que eu vou dizer para meus netos diante de tanta ruína moral?

 

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS
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