Rótulos e Preconceitos

Resolvi começar escrevendo sobre um assunto delicado. Muitos amigos no Brasil me perguntam como é a vida aqui em Portugal. Tenho dito sempre que tudo aqui é muito bom, e realmente existem coisas maravilhosas aqui, como em vários outros lugares do mundo também.

Porém, tenho sentido pessoalmente o preconceito europeu contra os brasileiros, em particular as brasileiras. Todos dizem que os portugueses gostam muitos dos brasileiros, mas a realidade é bem diferente; se a pessoa não for famosa no Brasil (artista de TV, jogador de futebol, ou outra profissão em que tenha um nome prestigiado) e vier morar aqui, certamente vai sofrer muito preconceito.

Como mulher somos muito discriminadas, como se toda mulher que vem morar aqui se tratasse de prostitutas. Essa tem sido uma experiência nova para mim, tendo em vista que no Brasil sempre trabalhei em bons empregos, cursava a faculdade e nunca sofri preconceitos dessa forma.

Aqui não importa o que se faça..ao abrir a boca para falar e ao ouvirem um sotaque diferente já nos olham torto, isso acontece principalmente nos orgãos públicos. Ao procurar um emprego então é que observamos, todos muitos simpáticos mas com os dois pés atrás. Se somos solteiras, somos putas; se somos casadas com portugueses, somos "espertinhas" que queriam arranjar marido. Não impporta o que estamos aqui a fazer, se estamos a estudar, a fazer uma pós, a tentar compartilhar conhecimentos...somos PUTAS...é assim que nos vêem.

Mas vcs podem dizer...é o Brasil que passa uma imagem negativa divulgando a prostituição... Foi feito uma pesquisa onde indicava que a maioria das prostitutas de portugal eram brasileiras... A própria brasileira não se valoriza... sei disso tudo, não sou tola ou de olhos fechados à realidade.

Sei que muitas mulheres brasileiras estão a trabalhar na prostituição, mas também sei que com certeza não só as brasileiras que se prostituem. Sobre a pesquisa do SEF publicada pela UOL: http://noticias.uol.com.br/ultnot/2008/03/13/ult23u1442.jhtm  gostaria de acrescentar o seguinte comentário, é definitivamente difícil de comprovação uma pesquisa feita no anonimato em que os sujeitos participantes da pesquisa não se indentificam - como comprovar que tratam-se de dados verídicos? Como saber se não foi uma pesquisa tendenciosa, contribuindo ainda mais para o preconceito? Pois bem..eu não sei.

A única coisa que sei é que assim como existem mulheres portuguesas sérias e de família, e mulheres portuguesas que trabalham na prostituição, é óbvio que também existem mulheres brasileiras sérias e de família, e as que trabalham na prostituição, assim como em qualquer lugar do mundo, seja qual for a nacionalidade.

Sei que preconceito existe contra uma série de coisas e fatos, e é muito fácil e cômodo falarmos de preconceito quando fazemos parte da massa maior e dessa forma fechar os olhos, ou fantasiar que o preconceito não existe, ou que é bem menor do que imaginamos, ou pior ainda, que não é tão ruim assim, que precisamos nos conformar.

Sempre fui contra qualquer forma de preconceito, acredito que as pessoas devam ser julgadas (se é que se deva julgar alguém...) pelo o que elas definitivamente são, e não com bases em estereótipos pré concebidos de forma discriminatória e preconceituosa.

Será que então agora todos teremos rótulos? Olharemos para uma pessoa pelo rótulo que achamos que ela representa e com base nestes rótulos a classificaremos? O que acontece com a individualidade? O que faz os homens diferentes dos animais? Não é a capacidade de pensar, de ser único, der ter uma história única e repleta de significados para si? Onde procuramos entender a verdade de cada um, ou cada um de nós não tem nossa própria verdade? Onde está o respeito pelas singularidades humanas?

Não digo tudo isso como se fosse a única a sofrer preconceito, sei que neste momento estou sofrendo isso aqui, mas sei principalmente que o preconceito existe em toda parte...Aqui, no Brasil, no mundo... Só pretendi chamar a atenção, visto estar vivenciando, algo que limita o ser humano: Pré-conceitos...não vamos ter um pré-conceito, vamos conhecer, a cada um, e dar a oportunidade de formarmos, aí sim, um conceito daquela pessoa singular!