RESUMO
Análise do filme O Nome da Rosa apresentado como atividade complementar à disciplina de História da Educação, no primeiro semestre da licenciatura em Letras-Inglês pela UNIT.

SINOPSE
Em 1327, William de Baskerville (Sean Connery), monge franciscano, e Adso von Melk (Chistian Slater), noviço que o acompanha, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália com a finalidade de investigar estranhos assassinatos, que alguns religiosos acreditam ser obra do demônio.
Ano: 1986
Diretor: Jean-Jacques Annaud
Elenco: Sean Connery, Christian Slater, Michael Lonsdale, Ron Perlman, F. Murray Abraham, entre outros.
Gênero: Drama/Suspense
Tempo de duração: 126 min.

ANÁLISE

A Baixa Idade Média (século XI ao XV) é marcada pela desintegração do feudalismo e formação do capitalismo na Europa Ocidental. Ocorrem assim, nesse período, transformações na esfera econômica (crescimento do comércio monetário), social (projeção da burguesia e sua aliança com o rei), política (formação das monarquias nacionais representadas pelos reis absolutistas) e até religiosas, que culminarão com o cisma do ocidente, através do protestantismo iniciado por Martinho Lutero na Alemanha em 1517.Culturalmente, destaca-se o movimento renascentista que surgiu em Florença no século XIV e se propagou pela Itália e Europa, entre os séculos XV e XVI. O renascimento, enquanto movimento cultural, resgatou da antiguidade greco-romana os valores antropocêntricos e racionais, que adaptados ao período, entraram em choque com o teocentrismo e dogmatismo medievais sustentados pela Igreja.No filme, o monge franciscano representa o intelectual renascentista, que com uma postura humanista e racional, consegue desvendar a verdade por trás dos crimes cometidos no mosteiro.
Podemos atribuir à rosa um referencial para o conhecimento da Idade Média (representado no filme através da literatura contida na biblioteca do mosteiro beneditino), logo subentendemos que O Nome da Rosa é, na verdade, uma alusão ao saber, inacessível e mortal. Em contrapartida, as palavras finais do narrador da história fazem surgir um outro ponto para a atribuição do título do filme. Elas nos remetem à camponesa que teve relações sexuais com o noviço Adso de Melk, despertando nele o amor, cujo nome não é revelado nem mesmo no fim da história.

TEMAS ABORDADOS
(X) Culturais (X) Científicos (X) Políticos (X) Religiosos (X) Políticos
(X) Outros: Sexuais, Psicológicos.

ENREDO
O monge franciscano William de Baskerville e seu noviço Adso de Melk viajam para um monastério beneditino no norte da Itália para participar de um debate teológico. Ao chegar lá, o monastério está perturbado por um assassinato. Com o desenrolar da trama, várias outras pessoas morrem misteriosamente. Os protagonistas exploram uma biblioteca medieval em forma de labirinto, o poder subversivo do riso, e se deparam frente a frente com a Santa Inquisição. É dada a William em primeiro lugar a missão de, com a sua capacidade lógica e de dedução, resolver os mistérios do mosteiro.
William utiliza-se de um pensamento diferenciado, mais prático e físico do que espiritual (tradicionalmente utilizado pela Igreja e seus membros, que viam sempre explicações teológicas e bíblicas para todos os fatos, inclusive as mortes no monastério) fugindo à explicação de que havia possessão demoníaca relacionada aos assassinatos. Seu pensamento empírico o fez mostrar que as mortes aconteciam por algo de ordem material, portanto os seus teoremas o permitem encontrar as respostas que procura.
O filme retrata muitos pontos de grande valia, dentre os quais podemos destacar a considerável influência da Igreja sobre todos os assuntos da humanidade (os de cunho religioso e espiritual bem como social, econômico e político da época medieval). Era dentro dela que estava toda a fonte de conhecimento e este não podia, de forma alguma, ser distribuído à sociedade de forma homogênea - a Igreja correria o risco de perder boa parte da sua influência ideológica e de seu poder de controle. O artifício de envenenamento das pontas das páginas de livros da biblioteca é, no filme, a forma encontrada pela autoridade maior na Igreja de não permitir o acesso ao conteúdo destes. Podemos figurar então uma idéia repressiva e dominadora, inserida ali naquele contexto histórico, de preservação e centralização da literatura ? e, por conseguinte, de conhecimento de mundo já que estudar instiga um repensar sobre tudo o que interfere na vida do ser humano e este repensar pode ocasionar contestações e questionamentos indesejáveis para a classe soberana: o clero.
A cena de maior impacto no filme foi quando a camponesa e o noviço tiveram um enlace sexual dentro do mosteiro pelo fato de que os motivos que os levaram a praticar tal ato foram baseados em seus instintos: o do noviço de cunho sexual, de descobrir porque se sentia tão envolvido com aquela camponesa; e o da garota pela prestação de favores aos monges em troca de alimento que era, visivelmente, a sua única forma de alento.
São duas as ordens religiosas retratadas no filme: a dos Franciscanos e a dos Beneditinos. A primeira, também conhecida por Ordem dos Frades Menores, está representada na pessoa do frade William de Baskerville (e seu noviço) cujo destino foi um monastério beneditino onde teve de desenvolver pesquisas para a solução de um mistério que envolvia mortes naquele espaço. Ambas as ordens tinham em comum um conceito educacional que imperava na época, sempre direcionado à educação religiosa, teológica. Os beneditinos, desde muito cedo, eram submetidos ao rigor do ofício divino, que estabelecia um cronograma temporal para realização de atividades teológicas aliadas a árduos trabalhos manuais agrícolas para subsistência. A instituição tinha um lema "Ora Et Labora" que quer dizer "Reza e trabalha" e um dos seus preceitos mais valorados era o de incentivar uma convivência comunitária. Os franciscanos também eram direcionados por princípios, dentre eles os de obediência, humildade e castidade. Na época, cabia a estas ordens religiosas a preparação dos monges e outros clérigos para o desenvolver das atividades do alto clero no futuro, cuja função mister era a de direcionar o pensamento uno de toda uma sociedade para o temor ao poderio divino, mas também havia uma papel de proteção espiritual da sociedade.
Scriptorium, em tradução literal "um local para escrever", caracteriza lugar fechado e isolado, destinado a guardar os "tesouros do saber". Agregava antiquarii, librarii, scriptores e illuminatores monges e não monges, que se colocavam a serviço da produção, preservação, circulação e venda de manuscritos, sendo os responsáveis pela criação de códices em boa parte da Idade Média.
Tudo o que ia de encontro aos dogmas religiosos eram considerados heresias pela Igreja e no filme há claros exemplos relatados. O riso era tido como uma zombaria ao divino. "Mais amargo que a morte é a mulher", frase dita por um dos personagens do filme que coloca a mulher num patamar pecaminoso. Símbolos de bruxaria, como o gato preto e a galinha preta, eram também tido como prática de heresias. O aparecimento do Anticristo (presença do demônio no mosteiro beneditino) foi o acontecimento marcante que suscitou a ida do monge William de Baskerville em seu trabalho de investigação. As mortes ocorridas no mosteiro seriam motivo suficiente para que o Papa declarasse o monastério como herege. Contestar o veredito de um Inquisidor era também considerado heresia.
No filme, os camponeses são miseráveis, tratados com ríspida arrogância e desdém pelos monges do mosteiro. Alguns realizavam atividades primárias de subsistência. Não há nenhuma fé clara, nenhuma caridade. Assim, os camponeses medievais viviam de sobras, moravam em casas de madeira de um só cômodo, com telhado de palha e chão batido, vestiam roupas artesanais, e em sua maioria eram analfabetos. Já os atuais, apesar das conquistas, não evoluíram muito se comparados as características citadas, sofrendo hoje com a modernização do setor agropecuário, disputando espaço com as indústrias.
É sabido que desde a fragmentação das sociedades tribais houve uma segregação do conhecimento e da educação para as classes mais elevadas dentro dos grupos sociais. O filme mostra esta interferência, no período da Idade Média, quando a influência religiosa sobre a educação se dava deforma maciça, retendo as formas de conhecimento a pessoas influentes e diretamente ligadas à Igreja. A História da Educação tem como objetivo caracterizar períodos históricos, estabelecendo uma análise diacrônica, e temos o enredo do filme como grande representante deste momento na história.
O filme se mostra importante no sentido de ampliar o conhecimento histórico do aluno sobre a educação em seus antigos moldes, ajudando assim a compreender sua evolução, motivar a descoberta através da curiosidade atrelada à investigação.

Daniel David Alves da Silva e Vinícius Sampaio Silva são graduandos do curso de Letras/Inglês pela Universidade Tiradentes/SE e compõem o GEPISTAE.