INTRODUÇÃO

ROTAVIRUS
Histórico
A etiologia das diarréias pode envolver vários agentes como vírus, bactérias e parasitas. Os agentes bacterianos são relativamente mais importantes em países em desenvolvimento, enquanto os agentes virais são mais relevantes em países industrializados. A importância desses agentes está relacionada às condições de higiene e saneamento básico da população.
Os rotavírus eram pouco conhecidos antes de 1973, quando foram identificados na Austrália e na Inglaterra. Esse agente viral recebeu diferentes denominações como: orbivirus, reovirus-like, duovirus e finalmente rotavirus devido a aparência de roda ( do latim rota). São os agentes virais mais importantes associados às doenças diarréicas agudas, atingindo humanos e várias espécies de mamíferos e aves.
Os episódios de diarréia podem variar de um quadro leve, com diarréia líquida e duração limitada a quadros graves com febre, vômitos e desidratação. As conseqüências da infecção estão relacionadas à idade. Embora possam infectar indivíduos e animais de todas as idades, infecções sintomáticas, isto é, diarréia, geralmente ocorrem em crianças na faixa etária de seis meses a dois anos. Tem sido a principal causa de surtos de diarréia nosocomial e em creches e pré-escolas. Apesar da doença diarréica ocorrer primariamente em crianças, também é comum em jovens e adultos, associada a surtos esporádicos de diarréia em espaços fechados como escolas, ambientes de trabalho e hospitais
















Figura 1. Rotavirus


Rotavirus

Classificação e Morfologia

O rotavírus pertence à família Reoviridae do gênero Rotavírus. A partícula viral completa é composta por triplo capsídeo protéico contendo o genoma de RNA de fita dupla segmentado, que codifica proteínas estruturais e não estruturais. São classificados sorologicamente em grupos, subgrupos e sorotipos. As principais proteínas estruturais ? VP4, VP6 e VP7 ? atuam como antígenos na indução de anticorpos neutralizantes, provocando resposta imune protetora, e formam a base da classificação atual dos rotavírus em grupos (A-H), e em genótipos/ sorotipos P (VP4) e G (VP7). Os genótipos são determinados por métodos moleculares, enquanto os sorotipos, por métodos de neutralização. A detecção dos rotavírus do grupo A pode ser realizada através de reações imunoenzimáticas.
O grupo A é o de melhor caracterização, predominando na natureza, associado a doença no homem e em diversas outras espécies animais. Possuem antígeno comum de grupo, localizado no componente VP6, no capsídeo intermediário, detectável pela maioria dos testes sorológicos. Esta proteína também determina o subgrupo (I, II, I e II, não I - não II) a que pertence a cepa. Os sorotipos são determinados por duas proteínas (VP4 e VP7) situadas no capsídeo externo. Dos 14 sorotipos G (VP7) conhecidos, 10 têm sido descritos como patógenos humanos: os tipos G1 a G4, os mais freqüentemente encontrados em todo o mundo e para os quais vacinas estão sendo desenvolvidas; os tipos G8 e G12, esporadicamente encontrados e o tipo G9, predominante na Índia. Rotavírus que eram encontrados exclusivamente como patógenos animais, sorotipos G5, G6 e G10, foram isolados em humanos. O sorotipo G5 foi encontrado em amostras brasileiras segundo Gouvea et al, 1994 e Timenetsky em 1998.


Rotavirus

Patogênese

O mecanismo pelo qual o rotavírus induz à diarréia não é completamente compreendido, porque poucos pesquisadores têm estudado amostras da mucosa de seres humanos infectados. Portanto, as hipóteses geralmente aceitas sobre a fisiopatologia da gastrenterite por rotavírus foram baseadas em estudos envolvendo animais. É improvável que o mecanismo seja completamente explicado por apenas um dos processos; ao contrário, vários mecanismos contribuem simultaneamente. Depois de ingestão pela boca, as partículas do rotavírus são transportadas para o intestino delgado, no qual infectam os enterócitos maduros na parte média e superior das vilosidades do intestino delgado. A replicação progride da porção proximal para a distal do intestino delgado. Acredita-se que o rotavírus invada essas células alvo com a entrada ou fusão direta com os enterócitos e por meio de endocitose dependente do cálcio. Depois da replicação nos enterócitos maduros do intestino, novas partículas infecciosas podem sofrer outra replicação nas porções distais do intestino delgado ou serem excretadas pelas fezes.
A infecção/replicação do rotavírus leva a alterações fisiológicas e morfológicas, incluindo acentuada ruptura e vacuolização dos enterócitos. O controle normal de líquidos e eletrólitos é interrompido, resultando em diarréia. Outros processos estão sendo propostos na participação da resposta secretora à infecção por rotavírus. Entre eles, a ação enterotoxigênica de uma proteína viral não estrutural (NSP4) que pode aumentar as concentrações intracelulares de cálcio e a excreção de fluido líquido. Além disso, foi sugerido que o sistema nervoso entérico é também estimulado pelo rotavírus, intensificando a secreção de fluido e de eletrólitos e aumentando a motilidade intestinal ? resultando em secreção de fluido líquido e redução do tempo de trânsito intestinal.A diarréia que ocorre como resultado dessas ações pode levar à desidratação, acidose metabólica e depleção de potássio. Depois da invasão das células pelorotavírus (extrema esquerda), ocorre extensa necrose celular, levando à atrofia vilosa, perda de enzimas digestivas, redução da absorção e aumento da pressão osmótica no lúmen intestinal. Essa seqüência de eventos resulta no início da diarréia. A seguir, ocorre hiperplasia da cripta, acompanhada por aumento na secreção de fluido e agravamento da diarréia. Por fim, ocorre reposição de enteroblastos, levando à recuperação das vilosidades.

figura 3. Enterocitos infectados por rotavius



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Rotavirus


Manifestações Clinicas


Clinicamente, a infecção por rotavirus se manifesta na forma de diarréia aguda. Os sintomas clínicos mais freqüentes são :

 Diarréia aguda;
 Vômitos;
 Febre;
 Dor abdominal;
 Desidratação.

A rota virose é uma infecção auto limitada, e após um período de uma semana a dez dias o quadro se resolve, podendo o vírus ser eliminado nas fezes por ate 57 dias após a infecção. O grande problema é quando ocorrem desidratação grave e falta de tratamento adequado, o que pode levar a morte.em neonatos, a infecção é frequentemente assintomática ou resulta numa diarréia branda, devido à proteção dos anticorpos maternos. As crianças de 6 a 24 meses de idade são mais suscetíveis à doença grave.
O problema torna-se mais grave em crianças desnutridas, podendo ocasionar desidratação grave e morte. Em adultos, a infecção é geralmente subclinica, mais surtos de rotavirose em adulto e jovens já foram descritos. Idosos também podem apresentar sintomas de gastroenterites.
É comum a ocorrência de reinfecções, que costumam ser mais brandas. A alta prevalência de anticorpos anti-rotavirus wm adultos sugere que ocorram reinfecções subclinicas.


Prevenção e Controle

Devido ao enorme impacto da rotavirose na população infantil em todo mundo, varias vacinas tem sido desenvolvidadas. O Ministério da Saúde incluiu, em 2006, a vacina contra o rotavírus no calendário de vacinação do SUS. São imunizadas principalmente crianças entre dois e quatro meses de idade. O que se espera da vacina é prevenção da diarréia grave, que pode levar a desidratação e morte, já que não é possível a prevenção total da doença.

Rotavirus

Por sua vez, a vacinação teria papel na atenuação da gravidade da doença, reduzindo nos países em desenvolvimento, os índices de mortalidade e, nos países desenvolvidos os altos gastos com tratamento e hospitalização. A higiene é a melhor forma de prevenção. Lavar bem as mãos antes e depois de ir ao banheiro, lavar os alimentos e só usar água tratada são algumas medidas básicas para impedir a proliferação do vírus.





Tratamento

O importante é evitar a desidratação para que a doença não evolua para o óbito. Por isso, o tratamento da doença é baseado na hidratação dos pacientes.
Eles são avaliados por meio de exame clínico que identifica o grau de desidratação causado pela doença. Se for detectada uma desidratação leve, é recomendado o uso do soro de hidratação oral na própria casa do paciente. Se for moderada, é indicado também o soro via oral, mas sob observação médica. Já em casos mais graves, é feita aplicação do soro na veia do paciente. O tratamento inclui ainda o aumento da ingestão de líquidos.



Rotavirus


Diagnóstico Laboratorial


O diagnostico laboratorial das infecções causadas por rotavirus pode ser feito por:

 Detecção da partícula viral nas fezes, por microscopia eletrônica (ME) ou imunomicroscopia (IEM);
 Por detecção de antigeno virais nas fezes por EIA;
 Imunofluorescencia (IF) ou aglutinação de látex (AL);
 Ou por detecção do genoma viral por PAGE, RT-PCR ou hibridização.

A propagação do vírus em culturas de células é possível, utilizando linhagens celulares como MA-104 (células do rim de macaco) e CaCo-2 (celulas de carcinoma do colon humano). Contudo, apropagaçao do vírus em cultura é muito lenta, e não tem valor pratico para diagnostico.
A caracterização dos sorotipos/genótipos pode ser realizada por meio das técnicas de EIA com anticorpos monoclonais, RT-PCR, hibridização, PCR-ELISA e seqüenciamento.
























Rotavirus

EPIDEMIOLOGIA


Estima-se que os rotavirus sejam responsável por 39% das hospitalizações infantis devido à diarréia (variando de 29% a 45%, dependendo da localidade). Os rotavirus A são responsaveirs por mais de 90% das infecções em humanos, atingindo, principalmente as crianças de 6 a 24 meses de vida. Em relação à circulação a rotavirose ocorre, quase exclusivamente no inverno, os países de clima temperado. Nos países tropicais, a rotavirose é uma doençaendemica com picos de incidência não tão pronunciados. Os rotavirus do grupo B que infectam humanos são menos comuns, mas são responsáveis por grandes surtos anuais na China, envolvendo principalmente adultos. Os rotavirus do grupo C são responsáveis por surtos esporádicos em adultos e crianças, em todo mundo. Devido ao elevado impacto da rotavirose em todo o mundo e ao esforço da comunidade cientifica para o desenvolvimento da medidas de prevenção seguras e eficientes, diversos programas de vigilância epidemiológica tem sido criados com o objetivo de monitorar a diversidade do rotavirus que circulam na população.

O rotavirus no Brasil

Na década de 80, foi implantada rede de laboratórios em oito Estados e no Distrito Federal para o estudo da diarréia por rotavírus no Brasil. Os dados obtidos demonstraram que a freqüência desse agente variou entre 13% a 20% nos diferentes Estados. Em nosso País a sazonalidade é variável, comaumento na incidência dos rotavírus nos meses mais frios ou no período de seca, entre maio e setembro, nos Estados das regiões Central e Sudeste. Por outro lado, no Norte e Nordeste a ocorrência de rotavírus se distribui durante todo o ano.
Estudos realizados nos últimos dez anos no Brasil mostraram a circulação dos tipos mais comuns de rotavírus (G1, G2, G3, G4 e P[4], P[6] e P[8]), observando-se maior incidênciade rotavírus tipo G1P[8] e a emergência do tipo G9, a partir de 1998. Foram detectados tipos incomuns de rotavírus em amostras humanas, como rotavírus G5 e P[3], e misturas de tipos de rotavírus em uma mesma amostra. A presença de múltiplos tipos G e/ou P nas amostras, consistente com infecções com mais do que um tipo de rotavírus, aumenta a chance de rearranjos genéticos durante infecções naturais. A monitoração contínua dos genótipos circulantes na população é importante para o futuro desenvolvimento de uma vacina contra a doença por rotavírus, como também para detecção de rotavirus.


CONCLUSÃO

O rotavírus é reconhecidamente como o agente viral mais importantes associados às doenças diarréicas agudas, atingindo humanos e várias espécies de mamíferos e aves. Embora possam infectar indivíduos e animais de todas as idades, infecções sintomáticas, isto é, diarréia, geralmente ocorrem em crianças na faixa etária de seis meses a dois anos. O rotavírus, é eliminados em grande concentração nas fezes infectadas, são transmitidos pela via fecal-oral, por água, alimentos e objetos contaminados, por pessoa a pessoa e, provavelmente, secreções respiratórias, mecanismos que permitem a disseminação explosiva da doença. Embora as evidências demonstrem o declínio da mortalidade nessa última década, em algumas áreas subdesenvolvidas a diarréia causada por rotavirus permanece uma das principais causas de morte em crianças menores de dois anos de idade. Devido à importância epidemiológica dos rotavírus nas diarréias graves, inúmeros esforços têm sido realizados na elaboração de uma vacina eficaz para o combate da doença.


















REFERÊNCIAS

 www.lia.ufsc.br - ROTAVIRUS BIOVACINAS ATUAIS acessado em 21/11/2010.
 www.ufjf.br - ROTAVIRUS acessado em 21/11/2010.
 www.fsq.br - DIARRÉIA E ROTAVIRUS acessado em 22/11/2010.
 Introdução à Virologia Humana - Santos, Norma Suely De Oliveira ? Viroses entéricas.