Rosa

Ao pé da cama da jovem Rosa, estavam sua mãe e sua irmã, aflitas com seu estado de saúde.

Aquele era o ano de 1940.

Rosa tinha dezenove anos de idade, sempre foi uma moça alegre, sempre gostou de viver e estava noiva de um rapaz muito bom chamado Nestor. Seu vestido de casamento já estava pronto, era muito lindo, todo trabalhado na renda branca, tinha sido feito por uma costureira de Sousa.

Faltava apenas um mês para o dia do seu casamento e ela estava muito feliz. Gostava do noivo e sempre sonhou em se casar.

Todos os dias, Rosa abria seu baú e tirava o vestido para contemplá-lo.

_Tenha cuidado no vestido, minha filha. Não seja ansiosa. Dizia sua mãe, Cristina.

_Eu não vejo a hora de vesti-lo, mamãe. Esse será o dia mais feliz da minha vida. Como sonho com esse momento!

_Falta apenas  um mês.

_Parece uma eternidade, mamãe. Eu queria tanto que esse mês passasse rápido.

_Calma, minha querida!

_Sabe mamãe, todas as noites sonho com o meu casamento. Esse casamento é tudo para mim.

_Eu sei minha filha. Disse Cristina, sorrindo para a moça.

Um dia, Rosa acordou com febre. Embora sua mãe tenha lhe dado alguns chás e uns remédios indicados por um farmacêutico chamado Tomás, que era considerado como médico em Sousa, ela não melhorava. Sua febre não passava, apenas variava.

_Não deve ser nada de grave mamãe, não fique nervosa. Dizia a enferma para a mãe.

_Não posso ficar calma, minha querida, vendo você com essa febre que não passa.

_O que você está sentindo, mana?

_Minha garganta não está bem.

_Será que foi a chuva, que você tomou ontem à tarde?

_Não sei.

Cristina pediu para a filha mais nova preparar um caldo para Rosa.

Lena era uma jovem de dezessete anos, sempre foi muito amiga da irmã mais velha. E ao vê-la doente, estava extremamente triste. Ela só estava acostumada a ver Rosa feliz, falando do casamento e contemplando o vestido.

_Esta casa está muito triste, com Rosa doente meu pai. Disse ela fazendo o caldo.

_Não fique triste minha filha, sua irmã vai ficar boa novamente.

Pedro Henrique era um homem muito paciente e nunca se aperreava para ele tudo iria ficar bem, o mundo poderia “cair em sua cabeça”, que ele não se desesperava.

Talvez, a febre de Rosa tenha se originado de uma chuva que ela tomou, às duas horas da tarde, enquanto ia à costureira, encomendar  alguns vestidos novos. Rosa era muito vaidosa e vivia constantemente preocupada com sua aparência.

Nestor ao saber que a noiva se encontrava doente ficou muito preocupado e foi até sua casa.

_Rosa, seu noivo veio lhe ver. Disse Lena .

_Espere, vou primeiro passar um pouco de pó de arroz. Agora sim, pode mandá-lo entrar.

A moça estava sem condições físicas de ir até a sala, por isso seus pais permitiram que Nestor entrasse no seu quarto.

_Estou muito preocupado com sua febre, meu anjo. Disse o moço.

Ele aproximou-se e pôs a mão na sua testa e comprovou que a febre dela era altíssima. Depois, pegou na mão da mesma e deu-lhe um beijo.

_Vou conversar com seu pai na sala e logo após, vou para casa. Amanhã voltarei.

_Sim. Disse a moça, sem entusiasmo.

Rosa sentia  por Nestor uma amizade verdadeira, que ela confundia com amor. Não o amava verdadeiramente. Na verdade, o que Rosa amava era a idéia de se casar. Ela estava entusiasmada e sua preocupação naquele momento era com o seu vestido de casamento, que era para a mesma a coisa mais bonita e importante que já tinha lhe acontecido na vida.

Nestor conversou um bom tempo com Pedro Henrique e depois foi para casa, preocupado.

No dia seguinte, Rosa ainda amanheceu com febre e à tarde, seu estado só piorou. Sua mãe estava numa aflição infinita.

_Corra, homem! Chame Doutor Tomás, outra vez!

O lerdo Pedro Henrique obedeceu à mulher e foi à procura do farmacêutico.

_O que está acontecendo comigo, mamãe, ontem pensei que fosse algo sem importância, mas hoje, estou vendo que deve ser algo grave, já que essa febre não some.

_Seu pai foi chamar Doutor Tomás, tudo ficará bem. Disse Cristina, beijando a face da filha.

Na janela, olhando para algumas borboletas, que voavam no jardim, Lena disfarçava suas lágrimas de angústia. Ela estava com muito medo de perder a irmã, por isso, rezava.  

Quando o farmacêutico examinou a enferma, disse que ela tinha uma infecção na garganta, o que justificava a febre.

_Mas ela ficará boa, Doutor? Perguntou Cristina.

_Se tomar esses medicamentos, que indiquei, com certeza, logo Rosa estará curada.

_Sabe o que é Doutor, é que já ouvi dizerem de muitas moças que morreram de febre.

_É verdade, Dona Cristina, não só moças, como idosos, crianças, adultos, já morreram de febres misteriosas. Mas fique tranquila que não é o caso de sua filha.

Lena ouvindo isto ficou tranquila e sorriu, depois se sentou numa cadeira perto da cama da irmã e ficou observando sua fisionomia abatida.

_Em todo caso Doutor, só ficarei calma quando essa febre desaparecer.

Tomás sorriu e foi embora.

A preocupação de Cristina não foi com ele, a mulher ainda pensava nas pessoas que morreram de febre.

_Sabe Pedro Henrique, minha mãe me contava vários casos de pessoas que morreram de uma febre que ninguém sabia o que era.

_Mas a febre de nossa filha é da garganta. Não se preocupe e esqueça essas pessoas que morreram.

Três dias depois, Rosa levantou-se da cama, estava ótima de saúde. Sua mãe ficou extremamente feliz e tratou de cumprir todas as promessas, que tinha feito com os santos e anjos. Lena  abraçou a irmã de um jeito que parecia que a mesma tinha renascido.

_Calma mana, até parece que eu estive no leito da morte. Disse a noiva de Nestor.

_É que sua febre foi muito alta, minha irmã e mamãe conhece vários casos de pessoas que morreram devido a uma febre misteriosa.

_Mas vamos esquecer, que tudo passou e meu casamento está chegando. Disse a moça alegremente.

Dias depois, Rosa e Nestor estavam casados.

Maria do Socorro Abrantes Sarmento