Atualmente temos ouvido falar em inclusão, especialmente dentro da escola e logo o nosso pensamento nos remete a associar que inclusão só tem a ver com necessidades especiais, mas é necessário que  outros tipos de inclusão sejam feitas nas escolas a inclusão racial, essa que achamos que não existe, mas que permeia no ambiente escolar, especialmente na educação infantil pois a mesma deixa seqüelas significativas.

Mas quando será que introjetamos  o racismo? Será que começa quando a criança dá os seus primeiros passos rumo a escola? É isto que o livro de Eliane Cavalleiro mostra que dentro do espaço escolar especialmente na educação infantil o racismo se manifesta de uma forma contundente. Diante do que li e da minha própria experiência de vida é que  resolvi comentar sobre esse livro pois não podemos mas tolerar não só o racismo mas qualquer forma de preconceito em nossa sociedade.  

A infância é o primeiro período da existência humana, na mesma começamos o processo da construção da nossa identidade. Não se pode falar em preconceito e discriminação racial sem entender que estes conceitos pré-estabelecidos se iniciam no lar e perpetuam dentro da escola, e o silêncio, essa voz que nos faz calar, torna o problema do racismo ainda mais agravante.

A autora Eliane Cavalleiro mostra-nos através das entrevistas e de sua pesquisa como as diferenças étnicas, as questões sobre preconceito, racismo e discriminação racial são vistas e tratadas na educação infantil. Antes de falarmos como esse problema é tratado dentro do ambiente escolar, não podemos nos esquecer que muitos dos nossos professores não receberam em sua formação nenhum preparo para lidar com o problema do preconceito, ou pela falta de preparo, ou por preconceitos introjetados desde a infância, os mesmo não sabem lidar com a discriminação no espaço escolar.

A autora mostra na sua pesquisa o perfil dos professores e do universo da pré-escola, num primeiro momento a escola demonstra ser um espaço democrático, harmonioso, sereno e que respeita os seus alunos. Mas no decorrer das entrevistas começam a desmoronar os mitos de que existe igualdade racial, o livro retrata também ausência da amizade, fraternidade e respeito e que isso é visto como algo normal.

Embora os professores afirmem que na pré-escola existe facilidade de relacionamento e vejam os conflitos de forma natural, as máscaras do racismo que estão camufladas caem, quando uma criança negra afirma que na brincadeira infantil, a criança branca não admite que a negra seja sua tia, pelo fato de a mesma ser negra.

Fica claro neste contexto, que os preconceitos estão presentes no ser humano desde a sua infância, ou então porque será que uma criança branca, não admite numa simples brincadeira que uma criança negra seja sua tia? Os professores deveriam estar atentos a essas questões, mas eles encaram de forma normal, alguns até admitem que o racismo existe, mas preferem passar por cima. As reuniões pedagógicas que deveriam abordar estes assuntos, para serem discutidos é disfarçado pelo silêncio, estratégia para evitar discussões sobre conflitos étnicos, na escola o silêncio nas questões raciais é valorizado.

Outro problema inegável é quando o preconceito esta introjetado no professor e ele o leva para o espaço escolar. A professora olha para a aluna negra e diz para que ela fale com sua mãe para prender seu cabelo. A falta de afetividade, amizade com seus alunos negros, às vezes é de forma tão sutil, não é visto claramente, se manifesta num olhar, num gesto, na ausência de um simples parabéns.

Nos livros didáticos adotados na escola, o negro quase não está presente e quando aparece algum personagem está associado à maldade, sujeira e tragédia, a criança no seu processo de formação internaliza essas projeções. A negra baixando sua auto estima, a criança passa a se achar feia e começa a armazenar idéias negativas de si mesma. Já a criança branca considera-se superior e melhor do que a criança negra.

Obseravando as entrevistas e as observações de Eliane Cavalleiro, mesmo que o silêncio da discriminação esteja dentro do lar, mas a escola não pode ser parceira do preconceito, afinal é no ambiente escolar que aprendemos conceitos, formamos opiniões, e o educador faz parte dessa engrenagem, o educador é formador de opinião, ele possibilita a criança na educação infantil a começar a se questionar, a construir ou destruir conceitos e preconceitos e a levar isso para seus lares.

A criança é o adulto do amanhã, que será produto da educação pela qual foi formada. Por isso a educação precisa cumprir seu papel na sociedade, forma  homens que valorizam seu povo e sua história, mas para isso é preciso romper o silêncio do racismo dentro do lar e da escola. O preconceito, o racismo e a discriminação é uma barreira, e rompê-las é um desafio de todos nós.

Referência: Bibliográfica:

CAVALLEIRO, Eliane. Do Silencio do Lar ao Silêncio Escolar. Racismo, Preconceito e Discriminação na Educação Infantil.  São Paulo; Contexto,2000.