Resumo: O exame cadavérico da visita de Dilma Rousseff a Cuba revela: incoerência zero; romantismo dez.

 

Românticos de Cuba

 

Se tivesse prevalecido a lógica consubstancial à vocação dos países livres – vocação  alicerçada no respeito aos direitos humanos - a Presidente Dilma Rousseff não teria visitado Cuba, como visitou.

Esta é a opinião de boa parte da imprensa. Claro! – dizem  - O Brasil é uma liderança democrática. Cuba, uma ditadura inveterada.

Colocada nestes termos a visita presidencial a Cuba, de fato, não tem como escapar ao contágio da incoerência. A menos que, caída no esquecimento - afinal duas semanas se passaram desde o pouso de Dilma Rousseff em Cuba - a visita presidencial passe por um exame cadavérico que permita o acesso a outras regiões do corpo sepultado e, a partir dali, formular uma  teoria  alternativa, capaz de revelar a sua verdadeira natureza.

Destronar a tese atual - a tese da incoerência - parece fácil e salutar. Salutar porque afasta o perigo de sucumbir à tacanhice do senso comum. Fácil, porque  basta retirar o fulcro da alegada incoerência, a saber, a lógica racional,  e, sobre os escombros, levantar a hipótese de que a visita de Dilma Rousseff a Cuba rebentou de uma lógica diferente, a lógica da eternidade, a cujo influxo as lembranças do passado, como adverte Jorge Luis Borges, concentram-se numa única imagem, aglutinadas pela  paixão e pelo enternecimento.

Com estes contornos a visita de Dilma Rousseff a Cuba de Fidel Castro renasce dos escombros alcandorada em imagem de um passado juvenil, de uma quimera romântica, um ritual onírico, em todo caso de uma pungente nostalgia. 

Acho que assim fica bem. Nada de incoerência na visita presidencial. Apenas romantismo.

Quem ousaria atirar a primeira pedra? Nós também somos românticos. Temos isso em comum com os cubanos. Afinal aprendemos a dançar com Bienvenido Granda e a sonhar ouvindo os “Românticos de Cuba”, na mesma vereda tropical, a noite plena de quietude, e seu perfume de umidade...