Morar em metrópole de mais de 1 milhão de habitantes dá a sensação de estar sozinho, mesmo na multidão, mas proporciona surpresas, como encontrar alguém que não vinhamos há decadas. O mais legal para nós, jornalistas, é que geralmente nesses encontros tomamos conhecimento de alguma novidade que vale a pena compartilhar.

Faz  poucos dias que, na Avenida Campos Sales, quase coração de Campinas,  encontrei Benedito Irivaldo de Souza,um guaçuano, de 65 anos, que veio para Campinas aos dois anos e hoje pode dizer que é um cidadão do mundo. Talvez o nome, em primeiro momento, pareça desconhecido, até que se diga que trata-se do ator Vado, figura singular com barba e cabelos pintados de branco desde os anos 70.

Aliás, Vado se notabiliza por personificar, desde 1971, o personagem do monólogo Navio Negreiro, peça teatral adaptada por ele, baseada no poema "Tragédia no Mar (O Navio Negreiro) de Castro Alves. De metalúrgico a jogador de futebol, Vado passou por várias profissões até encontrar-se com sua mais verdadeira vocação, a arte, em 1969, após impressionar-se com o filme Ao Mestre com carinho, protagonizado por Sidney Poitier.

Em 71, Vado participou das  novelas televisas Os deus estão mortos e Sol Amarelo e iniciou a saga da peça Navio Negreiro. Em 72, participou da peça Hair. É com Navio Negreiro que ele chega, neste 2013, ao Guinness World Records, o  livro mundial dos recordes. A peça é encenada há 41 anos consecutivos, sendo recordista de apresentações pelo mundo, com  exibições na Europa e África.

Antes de encerrar o papo com Vado, do qual conheci o trabalho em 82 quando entrei na PUC de Campinas, disse que o Brasil deveria  valorizar mais seus grandes talentos. Quem sabe reunindo para um grande espetáculo  alguns cidadãos do mundo que representam as origens de nosso povo, tais como o carioca mais mineiro que existe, Milton Nascimento; o carioca Martinho da Vila ; o baiano Lázaro Ramos e, obviamente, o próprio Vado, que é prata, ou melhor, ouro de nossa região.