Mudança de política econômica
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A economia brasileira foi bastante "estimulada" desde a crise de 2008. Agora, o governo age tentando garantir um "pouso suave" da economia. Se, entre outros riscos, a inflação subir, o governo teria que abandonar o gradualismo e adotar medidas de controle mais drásticas, com reflexos no crescimento, na renda e no emprego.

Efetivamente poderíamos reconhecer agora que, desde a crise de 2008, vem ocorrendo uma mudança de política econômica no Brasil, porém, muitos analistas ainda buscam sinais da política anterior. As principais modificações seriam:

- Maior presença do estado. Ex.: capitalização da Petrobras, empréstimos do/para o BNDES, casos da troca do presidente da Vale, demissão do economista do Santander, etc.

- Política fiscal menos rigorosa: Mais gastos públicos e menos cuidado com o superávit primário.

- Medidas macro prudenciais para combater a inflação, ao invés de aprofundar o ajuste dos gastos públicos.

- Intervenção no câmbio versus cambio flutuante.

- Artificialismos: Congelamento do preço da gasolina e adoção de medidas administrativas e políticas para conter o preço do etanol e do açúcar?

Cenário básico para o Brasil
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Propomos um sumário não exaustivo de aspectos da economia do Brasil em um formato aqui apelidado de "cenário básico". Apesar da grave crise japonesa e do surto inflacionário na China e na Índia, a situação da Ásia foi considerada, apenas, com relação aos eventuais reflexos de seus problemas sobre os preços das commodities.

Foram adicionados a estes cenários alguns riscos de médio e longo prazo com potencial de terem impacto muito negativo nas economias, caso ocorressem. Nossa versão de cenário básico para a economia brasileira com, pelo menos, os seguintes tópicos:

- Poupança interna baixa, da ordem de 13% do PIB que, adicionada à poupança externa de +/- 5% do PIB, totaliza a média de 18% do PIB em investimentos. A taxa é insuficiente para garantir um crescimento sustentável de 4,5% ao ano. Os investimentos externos diretos estão em alta e serão US$ 50 Bi em 2011, porém, tem havido certa desnacionalização da economia resultando na elevação das remessas de lucros e dividendos: de US$ 23 Bi em 2003 elas saltaram para U$ 70,6 Bi em 2010.

- Precariedade e a ineficiência na infra-estrutura: Deficiências e gargalos em estradas, portos, aeroportos, ferrovias, "banda larga", entre outros. A burocracia brasileira e os sistemas regulatórios e tributários dificultam os investimentos e a competitividade. Não somos campeões de produtividade. Baixa disponibilidade de mão de obra, especializada ou não.

- Real supervalorizado e, apesar das medidas adotadas pelo Banco Central, continua se valorizando.

- Perda progressiva e acelerada de competitividade: Os resultados da balança comercial são cada vez mais dependentes da alta do volume e do preço das commodities. Queda na exportação de bens semi e manufaturados. Acelerada elevação do déficit em transações correntes: um superávit de US$ 13,6 em 2006 virou um déficit estimado pelo BC de US$ 67 Bi em 2011.

- Juro nominal em elevação, juros reais em queda.

- Crescente "gap" de oferta e demanda em uma economia aquecida crescendo acima de 5% do PIB com expansão significativa do crédito. A inflação em alta romperá o teto da meta de 6,5% entre maio e junho, com efeito negativo sobre a renda média real.

- Dívida pública moderado: Dívida bruta em 61% do PIB e a dívida líquida, por volta dos 40%.

- Reservas cambiais acima de US$ 322 Bi e em elevação, com elevado custo de carregamento.

Riscos com maior potencial de impacto na economia
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Alguns dos riscos com poder de "darem fim a nossa festa" são:

- Aceleração e descontrole do processo inflacionário;

- Ampliação do ataque especulativo no câmbio: a continuidade da apreciação do Real ampliará os prejuízos ao sistema produtivo e, na seqüência, ao sistema financeiro;

- Risco de "Hard landing": Queda brusca da atividade econômica no Brasil como decorrência da combinação da elevação dos juros na Europa e nos EUA, e/ou fim do ciclo de alta das commodities, e/ou desaquecimento das economias asiáticas atingidas pela inflação?

Quando as autoridades públicas consideram que um dado risco tem chance de se materializar, a lógica indica que devam articular um conjunto de medidas preventivas para reduzir os impactos e danos. Apesar de o governo ter apoio de uma base parlamentar bem ampla, há uma significativa dispersão das percepções sobre quais são os verdadeiros problemas e riscos a serem enfrentados.

Os riscos acima citados ocorrerão ou não? Qual a probabilidade de ocorrem e quais os possíveis danos? Nossas autoridades estão atentas, alinhadas e já sabem o que fazer?

Fausto Morey

Observações adicionais:

- Nos últimos anos ocorreu uma modificação do perfil de renda no Brasil com elevação da demanda de serviços, propiciando novos patamares para estes preços.

- Exemplo de Gap de oferta e demanda: Houve estimulo para compra de carros, porém o crescente consumo de derivados de petróleo esbarrou na baixa capacidade de refino ? sua expansão consome investimentos pesados e são de longa maturação. Então a demanda será suprida pela importação de gasolina. Obs.: Nos próximos anos serão exigidos altos investimentos na exploração de nossas reservas de petróleo.

- Temos um problema recorrente de indexação formal e informal. Ex.: Salário mínimo subirá 14% em 2012 e os serviços públicos e alugueis subirão pelo IGPM.