A criança quando começa a falar e der os primeiros passos, pega ocasionalmente no lápis e estimulada pela alegria e o encanto e descobre os seus registros no papel, emaranhados de linhas e traços leves são mais do que simples traços, eles se revelam como fonte de alegria e tornam-se um deslumbramento para a criança.

No princípio, ao emitir os seus traços e linhas, a criança rabisca não só o lápis no papel, no entanto sente prazer no seu gesto ao deixar uma marca impressa em qualquer superfície como nos apresenta o autor Derdyk (1993, p. 56):

[...] o rastro de uma vareta na areia da praia, o risco do caco de tijolo no muro e na calçada, a marca do giz na lousa, os furinhos feitos com o dedo na massinha, a impressão da mão cheia de tinta no papel, a marca da ponta do dedo no vidro embaçado.

É através da fantasia e da brincadeira que a criança deixa o seu rastro, suas expressão seus registros, e gradualmente vai contando de seu modo a sua história. 

A criança rabisca pelo prazer de rabiscar, ela se aventura no mundo mágico do desenho e revela seus desejos, suas conquistas, apresenta novas descobertas, vive alegria, medo e angustias e, sobretudo retrata a beleza da infância. A criança desenha, dentre diversas coisas para divertir-se é um jogo onde não se precisa de companheiros, onde a criança cria suas próprias regras, é uma brincadeira. Assim a brincadeira mexe com as condições criadas de modo superficial por elas na vontade de dominar a realidade, ou seja, agir sobre o mundo em que está inserida.

Paulatinamente no desenho da criança vão aparecendo os traços mais detalhes, pequenas particularidades, como ainda o desenho “é o alvo de representações. Bichos, plantas, carros, prédios, sóis, árvores, gentes. A criança vai formando um repertório gráfico como num grande quebra-cabeça” (DERDYK, 1993 p.100).

O desenhar ser é ato é global, pois a criança ao desenhar, canta, dança, pinta o corpo, senta, levanta; segundo Derdyk a criança mistura suas manifestações expressivas ao ato que realiza: desenhar é conhecer-se é apropria-se de si mesma. É nesse universo, que a criança, reconhece as diferentes cores, conhece as diversas formas, os traços sinuosos, manuseia as mais variáveis texturas, explora os espaços do papel, encontra as múltiplas maneiras para interpretar os seus desenhos como também apropriar-se da realidade no qual está inserida.

 Das entre tantas coisas, a criança desenha para se realizar, sentir prazer, agradar-se e se divertir. Desse modo, o ato de desenhar é:

[...] um jogo que não exige companheiros, onde a criança é dona de suas próprias regras. Nesse jogo solitário, ela vai aprender a estar só, “aprender a só ser”. O desenho é o palco de suas encenações, a construção de seu universo particular (DERDYK, 1993, p.10).

Este apontamento da autora nos faz constatar que, o desenho infantil é subjetivo, pois cada criança tem uma maneira de fazer no papel, algo que tenha significado e importância para ela, por isso nesse amplo campo do desenho, ela percebe que pode nomear e imaginar suas próprias regras, e que ainda sozinha tem a habilidade de criar e se expressa de seu jeito.

Compreendemos que o desenho faz parte da vida da criança, já que ele manifesta o desejo de representar, então ele mostra muito de quem o produziu e que este está em constante transformação, pois cada vontade de representar da criança pode se modificar de acordo com seus sentimentos, brincadeiras, descobertas, desejos, vivências.

 Entretanto para a criança não existe desenhar só no papel, ainda faz parte de seu desenho a organização do seu espaço ao brincar das mais diversas brincadeiras como, por exemplo, de “casinha” (organizar os talheres, pratos entres outros). Portanto as crianças usam de sua imaginação para constantemente modificar e inventar seus desenhos criando assim o novo o imprevisto. A prazer nesse criar e recriar da criança no desenvolver dessa atividade gráfica que é o desenho, pelo anseio de expressar-se, criando assim uma nova realidade a cada momento. O desenho configura-se assim como um campo de possibilidade e sentidos para a criança, que confronta o real com o imaginário. Dessa maneira “[...] provavelmente para a criança, naquele instante, qualquer gesto, qualquer rabisco, além de ser uma conduta sensório-motora, vem carregado de conteúdos e de significações simbólicas” (DERDYK, 1993, p.57).

O desenho infantil mostra ser um importante instrumento para compreendermos o desenvolvimento da criança e também sobre a sua aprendizagem, ao mesmo tempo, que nos indica sobre a percepção infantil da realidade vivenciada pelas crianças.

Ao observamos uma criança desenhando podemos aprender muito sobre ela, pois acredito que o desenho só tem significado para ela, quando o vivencia verdadeiramente essa linguagem, explora suas dificuldades, seus limites, enfrenta medos, e encontra no seu risco, sua marca, sua infância.  Como já disse durante a escrita desse capitulo desenhar, como nenhuma outra atividade da infância, permite que crianças pequenas expressem suas emoções, experimentem autonomia e construam autoconfiança. É elemento essencial do desenvolvimento físico, emocional e cognitivo, portanto, precisa ocorrer todos os dias, como comer, beber, brincar, descansar e tomar sol!