Modelos com risco moral assumem que os devedores são todos iguais no início do relacionamento com o credor tendo o mesmo tipo de informação sobre capacidade de sucesso do projeto. Já, após a assinatura do contrato, devedores e credores são assimetricamente informados sobre o provável retorno auferido pelos devedores, com a monitoração se tornando inviável em função de seus custos. Neste caso, a informação que era simétrica no início do relacionamento torna-se assimétrica depois da realização do investimento no projeto. Para o entendimento deste modelo devemos assumir que todos os devedores são potencialmente desonestos, já que possuem incentivos para não informar suas taxas de retorno aos bancos, aumentando assim sua utilidade esperada.

Segundo Bebczuk (2000) por risco moral se entende a capacidade do devedor para aplicar os recursos emprestados de forma diferente do que foi acordado com o credor, amparado na informação e no controle apenas parcial que conta este último.

Para Braga (2000) existem três incentivos às ações tomadas pelo devedor que resultam em risco moral: (i) quando o custo de inadimplência é menor do que o custo de quitar a dívida; (ii) quando, numa situação de inadimplência, a possibilidade de renegociação que beneficie o devedor é mais vantajosa sob o ponto de vista do credor; e (iii) quando o esforço do devedor na condução do empreendimento financiado não é observado pelo credor. Se para o problema de seleção adversa, o racionamento é uma solução possível, a ocorrência de risco moral impõe custos adicionais decorrentes da necessidade de monitoramento das ações do devedor pelo banco.

Segundo Mishkin (2000), o risco moral existe no mercado de crédito porque os devedores podem ter incentivos para se engajar em atividades indesejáveis do ponto de vista do credor. Nestas situações, é mais provável que o credor fique exposto ao risco de inadimplência. Uma vez que o devedor tenha obtido o empréstimo, é mais provável que ele invista em projetos de alto risco, já que estes proporcionam retornos mais altos se bem sucedidos. Contudo, o alto risco diminui sua probabilidade de cumprir seu compromisso com o credor.

Tendo definido que o funcionamento do mercado de crédito é profundamente afetado pela disponibilidade de informações entre seus agentes é necessário que se busquem meios que auxiliem no processo de transmissão de informações entre o devedor e o credor.

A literatura disponível aponta algumas contribuições a soluções destes problemas começando com Spence (1974), Rothschild e Stiglitz (1976) e Wilson (1977) que apresentam uma série de ferramentas que induzem a equalização de informação entre os Agentes.

Comumente estas ferramentas são chamadas de "ferramentas de filtragem" ("screening devices"), pois permitem aos credores a realização de uma separação entre bons e maus devedores.

Nos próximos artigos apresentarei as possíveis soluções a serem aplicadas num processo de gestão de risco de crédito realizado pelos bancos para reduzir sua assimetria de informações no que se refere a sua carteira de clientes.

Bibliografia:

BEBCZUK, Ricardo N.. Información Asimétrica em Mercados Financeiros: Información y Aplicaciones. New York; Cambridge University Press, 2000.

BRAGA, Márcio Bobik. Algumas Considerações Teóricas e Implicações Decorrentes da Relação Contratual Entre Credor e Devedor sob a Hipótese de Existência de Assimetria de Informação. Texto para Discussão. 2000.

MISHKIN, Frederic S. Moedas, Bancos e Mercados Financeiros. Rio de Janeiro: LTC, 2000.

SPENCE, Michael. Market Signalling: Informational Transfer in Hiring and Related Screening Processes. London, England: Harvard University Press. 1974.

ROTHSCHILD, M. e STIGLITZ, Joseph E..Equilibrium in Competitive Insurance Markets: The Economics of Imperfect Information. Quaterly Journal of Economics, 1976, p.629-49.

WILSON, C.A..A Model of Insurance Markets with Incomplete Information. Journal of Economic Theory, v. 16, 167-207, 1977.