RIOS DE LONDRINA: UM OLHAR GEOGRÁFICO NO (PER)CORRER DAS ÁGUAS PELA CIDADE

 

Silva, Juliano Lopes da [1]

[email protected]

Universidade Estadual de Londrina-PR / Brasil

Resumo

 
O trabalho apresentado é uma extensão da disciplina de Hidrografia e representa um instrumento de conteúdo prático e teórico que vai além da sala de aula, proporcionando uma maior interatividade entre os colegas de estudo e a interação entre disciplinas, uma vez que observar uma bacia hidrográfica que banha uma área urbana é perceber como ela é um espaço de circulação e integração espacial. O foco de estudo são as bacias hidrográficas da cidade de Londrina, localizada no norte do Estado do Paraná – Brasil e seus rios. O que se propõe é mostrar a importância da água nas relações do homem com a natureza através dos seus múltiplos sentidos. Neste olhar percebe-se o quanto o ambiente social, morfológico, geológico, climatológico e muitos outros estão interligados coagindo junto aos rios nas atividades das cidades e seus cidadãos, tendo como agente importante o rio, e o que ele passa de importante, os ensinamentos e compreensões de nossas próprias vivências ambientais diante dos espaços naturais e construídos por ele.

 

Palavra-chave: Hidrografia. Interatividade. Bacias hidrográficas. Rios. Integração espacial.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Introdução

                                                                                

 

A água sempre foi objeto de investigação das várias ciências. O seu estudo não se restringe somente à Ciência Geográfica. A abordagem desse tema é feito por apresentar o município de Londrina pelos seus aspectos físicos, históricos e culturais, uma percepção da paisagem e das bacias hidrográficas que envolvem os rios Jacutinga, Lindóia, Cafezal, Ribeirão Cambe e o Rio Tibagi, contemplamos a água e seus múltiplos significados, seus uso e seus sentidos e os problemas sócio-ambientais gerados pela ação humana.

Devido a importância dos cursos d’água para o município de Londrina, não diferente de outros, este trabalho contempla as características das múltiplas paisagens que se opõem e se expõem ao longo do (per)curso com um olhar focado na organização espacial da rede hidrográfica e os múltiplos usos da água.

 

O Município de Londrina

 

O município de Londrina localiza-se no norte do Estado do Paraná, e surgiu por meio da colonização da Companhia de Terras Norte do Paraná, posteriormente Companhia de Melhoramento Norte do Paraná, comandada por ingleses e escoceses tendo um papel importante como um dos principais fatores que permitiu a ocupação territorial desta região.

A hidrografia de Londrina é caracterizada por uma drenagem natural com formação em vales, os córregos são de caráter perene e a rede de drenagem é abundante e bem distribuída, apresentando um padrão dendrítico conforme a figura abaixo.

 

Mapa 1: Bacias hidrográficas dos rios Jacutinga, Lindóia, Limoeiro, Cambe, Cafezal e Três Bocas.

 

Fonte: http://www.uel.br/revistas/atlasambiental/

O município de Londrina está inserido na bacia hidrográfica do Rio Tibagi, que é um dos afluentes mais importantes da margem esquerda do Rio Paranapanema.

 

Mapa 2: Localização do Município de Londrina-PR na Bacia do Rio Tibagi

 

Fonte: http://www.copati.org.br/conteudo/conteudo.asp?id=32

 

Existem 16 sub-bacias principais no município dentre as quais, na área urbana do município tem cerca de 70 cursos d’água, entre córregos e ribeirões. Estes levam suas águas até os córregos dessas sub-bacias e seus cursos de maior ordem correm de oeste para leste, até alcançarem o Rio Tibagi.

O rio Tibagi que está localizado à leste do município de Londrina, recebe os rios tributários localizados na área urbana e em seu entorno. Ele é um dos principais formadores da bacia hidrográfica do rio Paranapanema que desemboca na bacia do rio Paraná. Uma bacia hidrográfica é uma área drenada por um rio principal e seus tributários.

Grande parte das bacias hidrográficas de Londrina nasce nos municípios vizinhos, o que gera a necessidade de políticas públicas ambientais intensas que optem por uma abordagem regional mais eficiente, para que esses cursos hídricos não cheguem em Londrina já comprometidos na qualidade das águas.

 

A área urbana da sede do município é cortada no sentido oeste-leste, preferencialmente, por diversas bacias e sub-bacias que imprimem a organização dos espaços em seus entornos.  (PMBS, 2009, p-37).

 

Devido a importância dos cursos d’água para o município de Londrina, este trabalho contempla as características das múltiplas paisagens que se põem e se expõem ao longo do (per)curso com um olhar focado na organização espacial da rede hidrográfica e os múltiplos usos da água.

 

O (Per)correr pelas vertentes e cabeceiras dos rios  

 

O objeto de estudo e de olhares foram as principais bacias hidrográficas da cidade de Londrina: Cambé, Jacutinga, Lindóia, Cafezal e o Rio Tibagi na cidade de Jataizinho.

A direção dos canais fluviais das bacias dos ribeirões Jacutinga e Lindóia, ao norte, é no sentido oeste-leste enquanto que as demais bacias: Cambé, Cafezal estão orientadas no sentido noroeste-sudeste. Além dessas, no sentido noroeste-sudeste também tem a Bacia do Limoeiro e a Bacia Três Bocas, mas elas não fazem parte desse estudo.

O percurso foi elaborado para atender os olhares das paisagens do entorno dos vales e vertentes, espigões e sua integração com a cidade.

Pela cidade foi circundada toda porção central da área urbana, abrangendo de oeste a norte, de leste a sul.

Pelo campo da Geografia a água é também considerada não só como um caminho fundamental para se estudar a bacia hidrográfica enquanto unidade físico-geográfica, mas, especialmente, como um elemento essencial para entender e compreender a interação Homem/Natureza e suas relações seja no campo ou na cidade.

A partir do estudo das bacias hidrográficas, evidencia-se que a história dos rios é a própria história dos homens, e da vida dos homens nas suas relações e transformações ao longo do tempo. Desde os banhistas, pescadores, ribeirinhos e os donos de estabelecimentos turísticos que se usufruem deste majestoso meio natural, cada um com sua maneira singular de usufruir dessas águas e assim fixá-lo em suas memórias.

Após saída na área central de Londrina, o (per)curso contemplou observação logo ao entorno da Avenida 10 de Dezembro (Via Expressa) onde ocorre uma curiosidade da cidade que é um canal de escoamento pluvial entre as pistas de rolagem que transportam as águas da chuva que descem das mais variadas regiões ao seu entorno, até serem entregues no Ribeirão Cambé próximo ao Parque Artur Thomas.

Contornando a área central em todo o entorno do Ribeirão Cambé, atravessa-se a barragem desse rio que forma o Lago Igapó, principal cartão postal de Londrina e uma das áreas de maior interação do londrinense, e dos visitantes da cidade, com as águas que formam a Bacia do Cambé. O ponto de parada e observação foi nas cabeceiras do Ribeirão Cambé, que situam-se próximo ao viaduto da PR 445 com a BR 369.

É interessante descobrir que muitas pessoas circulam por aquelas rodovias diariamente e nem imaginam que diante de seus olhos, seja à direita ou à esquerda, dependendo de seu sentido na ocasião, não reconhece, muitas vezes nem imaginam, que nas matas entre árvores nativas, árvores exóticas e capim surgem águas que se tornarão alguns quilômetros a frente o lago Igapó e formando a Bacia do Ribeirão Cambé, um recurso hídrico que amplamente utilizado por esses moradores, que inicia na beira da rodovia e termina na confluência do Ribeirão Três Bocas, que recebe águas de vários tributários nascidos dentro da própria cidade além das águas da chuva que escoem dos telhados das casas, comércios e industrias, das calçadas, ruas, chão impermeabilizado e canalizados até suas margens.

 

Foto 1: Cabeceira e vertente oeste do córrego Cambé

 

  Fonte: Juliano Lopes da Silva

 

Na foto 1 verifica-se a área de mata em torno do local da nascente, ao mesmo tempo que, contorna a sua cabeceira na parte oeste e norte as rodovias PR 445 e BR 369 respectivamente, o córrego segue sentido noroeste - sudeste, tornando toda a região entorno já remodelada pela ação do homem diante da natureza com aplicação de suas tecnologias.

As condições ambientais desfavorecem pois do outro lado da rodovia BR 369 tem uma galeria pluvial que neste dia ocorria um despejo constante de água aparentemente poluída vinda do lado oeste (Cambé).

Próximo à entrada para Cambé na PR 445 com Jardim Ana Rosa – Cambé, numa nova parada a beira da rodovia, pode-se observar claramente uma grande extensão das vertentes do

córrego Jacutinga e as bacias dos seus tributários na porção oeste do município de Londrina.

Essa região é importante pois os córregos de Londrina na maior parte correm de oeste para leste e a bacia do córrego Jacutinga corta toda porção norte do município.

Seus vales e vertentes são usados na agricultura por derem solos muito ricos e propícios à atividade agrícola.

Numa posição privilegiada para contemplar a vista e a paisagem de e ao entorno de Londrina, é feita uma parada no espigão norte onde, observa-se toda a espacialidade das bacias hidrográficas de Londrina, cortando o município de oeste a leste, mais especificamente é a região do distrito da Warta que é possível contemplar a vista.

 

Foto 2: Panorâmica do Espigão norte do município de Londrina (próximo à Warta)

 

Fonte: Juliano Lopes da Silva

 

Disposto com Londrina a frente tem-se Ibiporã à jusante das bacias e Cambé à montante das bacias, uma visão de mais de 180º em torno de Londrina, podendo observar ainda mais a oeste as cidades de Rolândia e Arapongas.

Dessa posição pode-se tirar muitas teorias e conclusões a respeito da urbanização de Londrina e à circulação e integração da cidade diante do caminho das águas, que já estavam lá desde as primeiras colonizações e que a relação homem/natureza fez e fez com que o homem hoje transpasse diariamente esses canais, essas vertentes e vales, para em outros espigões, outras bacias façam suas atividades. Ainda na região norte da cidade de Londrina próximo ao final da Avenida Saul Elkind pode-se observa do topo do interfluxo da bacia do Lindóia com a bacia do Jacutinga o trajeto dos rios de sentido oeste-leste, seus cortes formando os vales e alguns dos seus tributários, além das atividades agrícolas em seus entornos.

Essa ainda é uma área pouco habitada, porém projetos futuros de loteamentos já são estudados, que poderão mudar toda dinâmica dos vales e dos rios.

Como desse ponto, é possível observar os cursos dos rios até um imaginário deles se encontrando com seu receptor maior, o Rio Tibagi, deste ponto a próxima observação é o próprio Rio Tibagi.

Em Jataizinho, a cerca de 30 quilômetros de Londrina, foi feita uma contemplação do rio Tibagi, sobre a ponte da BR 369.

Jataizinho teve sua história iniciada enquanto Redução Jesuítica Espanhola e foi extinta pela ação dos bandeirantes, mas o local não feneceu por completo, havendo  exploração de diamantes no Rio Tibagi no século XVII.

No ano de 1850, o Barão de Antonina, visando a descoberta dos Campos Paiquerê e a abertura de uma estrada comunicando os Campos Gerais com Mato Grosso, mandou abrir uma picada em direção ao Rio Tibagi, em ponto navegável, vindo este caminho a sair no Porto do Jataí.

Devido ao Porto Jataí ser ponto estratégico em relação ao resguardo de fronteiras com os países vizinhos e ser rota comercial ligando a província do Paraná ao Mato Grosso, D.Pedro II assina o Decreto Imperial nº 751 de 02 de janeiro de 1.851 criando a Colônia Militar de Jataí, por intermédio do Barão de Antônina.

Outrora conhecido como colônia Jataí, fundada por iniciativa particular do Barão de Antonina em 1850, Jataizinho é uma importante ocupação urbana as margens do rio, portal de entrada para a Represa de Capivara. Existem muitas chácaras neste município usadas para o lazer, mas a maioria desrespeita a distância mínima para a construção nas margens do rio. Após o município de Jataizinho, a vegetação natural deu lugar a grandes áreas de plantações. Com a construção da barragem de Capivara no Rio Paranapanema, a foz do Tibagi foi toda alterada. A represa hoje é usada para o lazer. Muitas chácaras alternadas com grandes propriedades são o cenário ao redor da represa. Em entrevistas com pescadores desta região, fora constatado que muitas fazendas fazem uso de agrotóxicos nas plantações; este agrotóxico que muitas vezes é depositado por aviões, está por contaminar o rio. Segundo os locais a fiscalização tem sido muito branda nestes casos. Outro grave problema é a inexistência de mata ciliar nas margens da represa. Com o aumento do nível do rio pela construção da barragem, a mata ciliar original fora toda inundada, e não houve nenhuma pratica de reconstituição vegetal. Muitos municípios estão à margem da represa, e fazem uso de suas águas para o lazer, porém é importante ressaltar a necessidade de projetos conservacionistas para garantir a ‘saúde’ do rio. ( EXPEDIÇÃO RIO TIBAGI)

O Rio Tibagi é um importante curso que banha toda região norte central do Paraná, e com isso merece toda atenção possível de todos. De suas águas milhares de habitantes a obtém todos os dias em suas torneiras, tanto para beber, tomar banho, lavar roupas, preparar comida até desperdiçar. E essa é uma conscientização que não só os alunos de determinadas disciplinas nas faculdades, mas todos devem estar engajados para um melhor aproveitamento desse recurso hídrico de forma a mante-lo sustentável.

 

Conclusão

 

Os rios devem ser cuidados por todos enquanto paisagem, tendo a consciência que as próximas gerações também, possam contemplar a paisagem da mesma maneira ou em alguns casos melhor que pode-se hoje. Assim, devemos dirigir o nosso olhar não só voltado para a água enquanto valor econômico, visão que predominante por muitos hoje, que elimina os valores morais e a subjetividade humana, mas enquanto meio de vida e regeneração e, mais, considerando-a e respeitando-a como patrimônio natural, bem comum.

Na perspectiva de encontrar os rios em suas condições físicas, químicas e biológicas naturais, encontra-se um forte processo de degradação, como assoreamento, voçorocamento como no Saltinho, canalização de leitos, poluição e falta de saneamento básico como no Cambé. Condições que retratam uma acentuada transformação provocada por ações antrópicas que foram ao longo do tempo, alterando sua dinâmica natural.

Neste (per)curso, observa-se também a ausência de devidas políticas públicas sociais e ambientais no sentido da conservação e preservação destes corpos hídricos.

O estado destes rios são preocupações, e diante do cenário atual dos recursos hídricos é visível o uso e abuso deste elemento pela relação de apropriação exigindo assim, a necessidade de uma política ambiental favorável, na qual envolvam orgãos públicos e usuários em geral no sentido de pensar e agir sobre formas de conservação, recuperação e preservação.

A pesquisa ambiental deve contemplar e dirigir o olhar no sentido de cuidar da água como um caminho para a preservação da paisagem.

 Já que a regeneração total não se faz possível e a possibilidade de recuperação encontra-se distante da realidade, é urgente pensar em ações que buscam estabelecer uma relação de uso equilibrado e consciente dos recursos disponíveis, se não queremos “ver” uma outra paisagem.

E mesmo, com alguns amparos legais, como a Lei das Águas ( Lei no 9.433 de 8 de janeiro de 1997) que possui modernos instrumentos e princípios de gerenciamento de recursos hídricos, conceitos inovadores no que concerne à organização do setor de planejamento e gestão, ainda sim, temos longo percurso para implantar ou despertar a relevância da água para homem.

 

 

Referências

 

BARROS, Mirian Vizintim Fernandes (et ali). Atlas Ambiental da Cidade de Londrina. 2008. Disponível em < http://www.uel.br/revistas/atlasambiental> acessado em: 16/05/2010.

 

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e desenvolvimento. Agenda 21.  Curitiba:IPARDES, 2000.

 

EXPEDIÇÃO RIO TIBAGI. Disponível em: < http://cmundi.wordpress.com/projetos/rio-tibagi/expedicao-rio-tibagi> acessado em 16/05/2010.

 

GRATÃO, Lúcia Helena Batista. Um olhar pela paisagem de Londrina. CERNEV, Jorge. A colonização. In:_____ Atlas do Município de Londrina. 2000.

 

HISTÓRIA DE JATAIZINHO. Disponível em: <http://citybrazil.uol.com.br/pr/jataizinho/historia-da-cidade> acessado em 16/05/2010.

 

PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO DE LONDRINA. Disponível em          < http://home.londrina.pr.gov.br/homenovo.php?opcao=pmsb> acessado em 16/05/2010.

 

REBOUÇAS, Aldo Da C. ; Braga, Benedito; Tundisi, José Galizia. Águas Doces no Brasil - Capital Ecológico, Uso e Conservação. São Paulo: Escrituras. 2º ed. 1998.

 

RIO TIBAGI. Disponível em: <http://www.copati.org.br/conteudo/conteudo.asp?id=32>  acessado em 16/05/2010.

 



[1] Aluno do 3º ano de Geografia da Universidade Estadual de Londrina –PR em 2010.