Duas reportagens vistas hoje me deixaram com esta enorme dúvida. A primeira foi o artigo publicado no Jornal “O Globo” em 18 de setembro de 2012, no qual o governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia atribui o prêmio “Medalha Juscelino Kubitschek”, recebida pela Escola Estadual Professor Modesto, de Patos de Minas, ao trabalho desenvolvido por aquela instituição seguindo os parâmetros do Plano de Intervenção Pedagógica (PIP), criado pela SEE/MG para intervir nos problemas pedagógicos identificados nas escolas.
Nesta reportagem completa suas ideias informando que há um Projeto a caminho, o chamado “Reinventando o Ensino Médio”, cuja finalidade é reformular o currículo escolar, bem como a carga horária deste nível, buscando aproximar o ensino médio do mundo do trabalho.
A outra reportagem, vista na “Globo News” aponta que, em pesquisa realizada pelo Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 2011, 16,3% dos jovens entre 15 a 17 anos (1,7 milhão) estão fora da escola. Segundo a pesquisa, em 2009, o índice era de 14,8%. População esta que seria demanda do ensino médio.
O que leva a esta crescente realidade?
A cada ano, mais jovens abandonam os “bancos” escolares. “Bancos” sim, fazendo alusão à educação bancária denunciada por Paulo Freire, que a entendia como a mera transmissão passiva de conteúdos do professor, assumido este o papel de quem supostamente tudo sabe e o aluno, como aquele que nada sabe. Era como se o professor fosse preenchendo com seu saber a cabeça vazia de seus alunos; depositava conteúdos, como alguém deposita dinheiro num banco.
Ora, esta é a nossa realidade, principalmente no ensino médio. Professores que dominam o conteúdo de sua disciplina, mas que ainda não se desenvolveram na prática do “como ensinar” e da “utilização prática dos conteúdos ministrados”.
Recordo-me dos idos tempos de ensino médio... Para que serviam todos aqueles conteúdos???? Matriz, logaritmo, velocidade, Lei de Newton, regras gramaticais etc.
Vi e vejo meus filhos fazerem questionamento similar: em que vou utilizá-los???
Hoje, como eterna aprendiz, consigo perceber os usos de tudo o que me foi ensinado... mas, nunca demonstrado pelos meus educadores!
Volto ao questionamento feito anteriormente: Será este o caminho? Será que reformulando o currículo, ampliando a carga horária para os alunos e preparando-os para o mercado de trabalho é suficiente? Será que um Plano de Intervenção Pedagógica, que na realidade nunca funcionou já que muitos professores mal o conhecem, poderá realizar a tão sonhada revitalização do ensino médio?
Respondo com certeza que não!
Não há como melhorar o ensino médio, assim como também outros níveis, se não houver investimentos na formação continuada dos profissionais da educação.
Como inspetora escolar da SEE/MG, tenho visto excelentes profissionais que dominam o conteúdo de suas disciplinas, mas que ainda não possuem metodologias diversificadas e não relacionam seus conteúdos à realidade dos educandos.
Tenho realizado alguns cursos de capacitação e, após cada encontro, escuto colegas afirmarem que ensinar significativamente não é tão difícil como imaginavam. Isto prova que o que falta é colocar a mão na massa e ensiná-los o “como ensinar”. Prepará-los didaticamente e metodologicamente para o ofício.
Assim, conseguiremos manter nossos jovens interessados na aprendizagem, pois veem no que se ensina o uso prático na vida. Ensinar “para” e “pela” vida digna e cidadã, eis nosso objetivo.
Investir em mudança curricular, carga horária, entre outros, de nada adiantará se não se investir no principal agente da educação: o professor.
Implantar projetos que não contemplem a formação continuada dos professores, ensinando-os a arte de ensinar, será um desperdício de verba pública.
Ao nosso Governador Anastasia vai a dica: a estrutura já está estabelecida, o que falta é melhorar a prática dos agentes educacionais. E digo com toda experiência de educadora: fará toda a diferença!