RETROCESSO DA IGREJA CATÓLICA
É impressionante a intolerância e autoritarismo do Papa Bento XVI. O bom Papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II para fazer o aggiornamento da Igreja Católica em relação aos tempos modernos. O espírito do Vaticano II era ecumenismo, o diálogo com outras igrejas cristãs, outros credos e com toda pessoa de boa vontade. O Concílio afirmou o valor sagrado das coisas do mundo, dos valores positivos gerados pelo homem, fosse ele cristão, judeu, muçulmeno, budista, ateu. Na ótica do Concílio, valores como justiça, liberdade, trabalho, respeito à diferença, solidariedade são lugares teologais, ponto de encotro com Deus, tenham os interlocutores fé explícita, implícita ou sejam apenas pessoas de mente aberta aos valores humanos. Depois do Concílio a Igreja reabilitou Galileu e Lutero, pediu perdão aos Judeus, aproximou-se dos maometanos, papas visitaram sinagogas, mesquitas, pagodes; bispos fizeram cultos ecumêmino multiconfessionais, aos quais compareceram cristãos de várias denominações - Católicos, Evangélicos, Ortodoxos - além de Judeus, Muçulmanos, Umbandistas, todos buscando o mesmo objetivo: a paz, o bem maior de todos os povos, incorporado pela fé judeu-cristã. Em nenhum momento a Igreja Católica posicionou-se como dona da verdade e os outros, cristãos de segunda, possuidores de migalhas. Humildemente abraçava todos, seguindo as sábias palavras de Jesus, de imenso alcance ecumênico: "Quem não é contra nós, é a nosso favor". Os irmãos evangélicos deram grande contribuição ao Vaticano II, a saber, a valorização da Palavra de Deus, lida na língua de cada país desde a Reforma Luterana, enquanto a Igreja Católica passou ainda 400 anos rezando missa em latim, o celebrante de costas para a assembléia. Depois do Concílio as litrugias passaram a ser na língua de cada país, o celebrante interagindo com a assembléia.
Primavera na Igreja! Inspirados na Bíblia e na Patrística, os padres conciliares formularam o conceito de cristãos anônimos, que são as pessoas sem fé, mas éticas. Os textos de Mt 25,31-46, Ap 7,1-15, de extraordinário alcance ecumênico, são paradigmas dos cristãos anônimos. No Juízo Final "serão reunidas na presença do Filho do Homem todas nações", mulheres e homens que nunca ouviram falar de Jesus, mas praticaram seus valores (cristãos anônimos). Jesus separará os bons dos maus, os éticos dos não-éticos, dizendo aos éticos: "Vinde, benditos do meu Pai, recebei por herança o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo. Pois eu tive fome e me destes de comer, estava nu e me vestistes ...". Sem entenderem a convocação, admirados perguntarão a Jesus: "Quando foi que te vimos com fome e te alimentamos... Ao que lhes responderá o rei Jesus: cada vez que fizestes o bem a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes". Dirá aos não-éticos, que talvez rezaram muito, mas não praticaram a solidariedade: "Apartai-vos de mim, malditos, porque tive fome e não me destes de comer, estava encarcerado e não me fostes visitar". Admirados, os falsos religiosos, os malditos perguntarão: "Senhor, quando é que te vimos com sede e te negamos água? Ele lhes responderá: todas vezes que deixastes de socorrer a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer". Em Ap, depois de serem resgatados 144 mil de todas as tribos de Israel, "eis que eu vi uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé diante do trono de Deus e do Cordeiro, trajados com vestes brancas e com palmas nas mãos. Quem são e de onde vieram? Estes são os que vêm da grande tribulação: lavaram suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro. Por isso estão diante do trono de Deus, servindo-o dia e noite". Com certeza, todos não pertencem à Igreja Católica. Que alívio!
Eis aí a raiz do ecumenismo cristão, o espírito da salvação trazida por Jesus, incorporada mediante a fé, confessional (explícita) ou dos homens e mulheres de boa vontade, éticos (implícita). Sem exceção, "Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" 2 Tm 2,4. Para isto, disporá os meios (a graça salvifica), dentro e fora da Igreja Católica, pois, "a graça não está presa aos sacrametos", como diz o sábio e maior teólogo cristão, Santo Agostinho de Hipona. A Igreja de Deus é maior que a Igreja Católica, e consiste na reunião de todos os povos na Pessoa de Jesus Cristo, mediante a fé explícita ou implícita. A salvação vem pela fé. A fé que faz de todos os povos um só povo, o povo de Deus, seja qual for seu credo, idealogia, sexo, condição de vida. Como pode o Papa afirmar que a Igreja Católica é a única verdadeira, humilhando os irmãos evangélicos e de outros credos? Além do mais, a Igreja Católica não tem dado ao mundo bons exemplos de vida cristã. Em vez de se ufanar de ser dona da verdade e da santidade, deveria humildemente pedir perdão ao mundo pela praga dos padres pedófilos, oportunistas, acomodados, que se ordenam com projetos pessoais de vida, nem um pouco preocupados com o objetivo número um de Jesus: anunciar o Reino de Deus, evangelizar. "Ide pelo mundo e anunciai a Boa Nova a todos os povos, fazei de todas a nações discípulos meus" Mc 16,15; Mt 28,19. Em vez disto, Roma faz vistas grossas pelos pecados do clero, cuida pouco da santificação dos cristãos, mas fica impondo legalismos, moralismos ao povo de Deus. "Se alguém não cuida dos seus, sobretudo os da sua própria casa, renegou a fé e é pior que um incrédulo" 1 Tm 5,8. Jesus não deve gostar nada disto !
Papa Bento, sua postura não combina com o espírito de Jesus Cristo e das pessoas que crêem nele e vivem vidas dignas, éticas. Que a Cúria Romana permita missas em latim para bispos e padres que não assimilaram o espírito do Vaticano II, dá para aceitar. Mas, fechar-se ao diálogo e concelebrações com outros credos é um retrocesso do qual Jesus Cristo lhe pedirá serveras contas. O Papa está agindo com espírito humano, não conforme o Espírito de Deus. Tenho autoridade para dizer essas coisas, porque o Espírito de Deus habita em mim, sou cristão, membro do Corpo de Cristo. "Deus me deu um Espírito de valentia, não de covardia". Em Nome de Jesus, não lhe reconheço o direito de tomar as decisões que tomou. "Cabe-me mais obedecer a Deus que aos homens". Em Nome de Jesus Cristo, retome o espírito ecumênico do Concílio Vaticano II e faça a Igreja abrir-se ao mundo, dialogando com todos, em vez de constrangir o povo de Deus, que é quase um rebanho sem pastor, com doutrinas autoritárias, contrárias ao espírito cristão. Como humilde cristão, "vou ficar de pé em meu posto de guarda e espreitar o que Javé me dirá, o que responderá à minha queixa, o que o Espírito diz às Igrejas" Hab 2,1; Ap 3,22.
Geraldo Barboza de Carvalho