Wanda Camargo*

 

O senador Cristovam Buarque, que foi um Ministro da Educação com real compromisso com a educação, costuma dizer que “o futuro de um país tem a cara de sua escola pública no presente. Escola maltratada e atrasada é futuro atrasado e desequilibrado”. Não é boa a situação material da maioria das nossas escolas públicas: edificações carentes de manutenção e até mesmo depredadas, laboratórios de informática e de ciências inexistentes ou mal equipados, áreas de lazer inadequadas, poucas com bibliotecas.

Entre as poucas realizações do comunismo soviético que sobreviveram ao século XX,destacam-se as estações de metrô de Moscou. Os dirigentes consideraram, acertadamente, que as pessoas que as utilizariammereciam o melhor que o Estado pudesse proporcionar - inclusive esteticamente: construíram-nas com materiais e recursos artísticos que nobres usavam em seus palácios em outras eras - e o resultado é magnífico, são atrações turísticas da cidade, conservadase amadaspelos quase nove milhões de pessoas que as utilizam todo dia.

João Clemente Jorge Trinta, o carnavalesco Joãosinho Trinta, afirmava que o povo gosta de luxo; talvez não goste necessariamente de luxo, mas certamente gosta de ser bem tratado e respeitado.Escolas mal cuidadas desestimulam alunos e professores, dão-lhes a noção exata da pouca importância com que são vistos pelos órgãos públicos.Escolas precisam ter conforto térmico e acústico, boa luminosidade, boa ventilação, segurança estrutural. Também precisam ser motivo de orgulho para os que nelas trabalham e estudam.

Uma parte das escolas públicas, principalmente as instaladas em regiões de difícil acesso e extrema pobreza - ou seja, onde o ensino é indispensável até como forma de melhoria das condições comunitárias -, estão instaladas em regiões violentas, sob o comando do tráfico e com alunos acostumados aos maus tratos, eles mesmos vítimas com dificuldades de aprendizagem, ou então já afeitos à brutalidade como forma de relacionamento.

Sabe-se, por meio de várias experiências da psicologia do comportamento, que destruição atrai destruição. Uma vidraça quebrada em um prédio pode motivar a quebra de várias outras, por sugerir que o lugar está abandonado, e assim por diante. Agravando este quadro, o Brasil é um dos raros países, afora os abaixo da linha de pobreza extrema, onde a questão da alfabetização ainda é precária e incompleta para a população de mais baixa renda -e para começar a vencer este desafio, deve-se considerar que os alunos (parte deles morando em lugares precários) têm todo o direito de estudar em escolas onde se sintam bem e das quais se orgulhem.

Os diretores, professores e comunidades que não se deixam abater pelas dificuldades e encaram a tarefa de manter suas escolas em boas condições, com o melhor uso dos poucos recursos disponíveis, com mutirões, criatividade, determinação e coragem, colhem resultados até acima de suas expectativas: melhora a qualidade do ensino e do aprendizado, melhora a autoestima de alunos e professores e até mesmo a criminalidade do entorno diminui. Embora isso não isente os governantes da necessária atenção ao assunto, envia a mensagem de que a escola não se entregou, brilha como deve ser sempre: um farol indicando o melhor caminho.

 

* Wanda Camargo, educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.