MARTIN, Heidegger. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1983, 2ª edição...pg 51 a 88.


MARTIN Heidegger filósofo e poeta, questionador do tempo e do homem, do ser e da morte, da terra e dos deuses. Homem que intriga tanto pelo o pensamento como pela própria vida. Foi um dos maiores pensadores do século XX, que acelerou a problematização do ser e da história, revelando em si, uma das mais belas filosofias.
Heidegger usa muitos os termos: linguagem, técnica, poetar, pensar, coisa, verdade e por fim existência e essência, isto se explica na sua insatisfação como todo o conteúdo até então existente dentro da filosofia, e propõe reformá-la, seguindo os passos trilhados por Nietzsche, Holderlin e deixa continuada, onde percebemos sua nítida influência em Gadamer e o Circulo Hermenêutico.
O ser encontra-se com a verdade, e a verdade é o sentido único de procurar a nítida existência. A verdade pela verdade é o caminho a ser percorrido, Heidegger vê o caminho, mas antes de ver simplesmente este caminho, já idealiza o que quer com o "é" da questão e o que se pretende com este "caminhar", "trilhar", é este o ponto onde podemos encontrar uma maior veracidade com seus textos, enxergar o caminho é só percorrê-lo quando se tiver um determinado objetivo já fixado.
Segundo Heidegger o Real é uma possibilidade positiva de verdade, e esta verdade é deslavamento, é realmente "é", a posição do "é" diferente do "poder-ser".
O itinerário heideggeriano é está em busca da verdade, a verdade do Ser. Heidegger mostra como o esquecimento do ser da metafísica, é a maior provocação para a questão do pensamento.
A possibilidade de encontrar o real na verdade é justificável pela intrínseca formalização do ser dos entes. "Aprender o ser dos entes e explicar o próprio ser é tarefa da ontologia" (SeT. 7 pg. 56). O real é a veracidade do ser que se torna presente no "é", o mesmo é que Parmêndes apontou no fragmento 16 e Heráclito no fragmento 50. O Ser tornou-se real no "ai" do ser dos entes. O real é o desvelar-se da verdade.
A finalidade deste estudo é a apreciação do real, mas do real como essência da verdade, e quando falamos em essência de verdade, pretendemos o sonho ontológico de Heidegger, isto é, a superação não só da metafísica mais também do nada, que toma existência na própria forma do ser, onde enxergamos a concordância (homoíosis) no desocult amento (alétheia) para a supra existência (Ek-sistir).
No entanto Aristóteles equacionou o problema da verdade, definindo-a como a conformidade da mente como o objeto. Sendo que a verdade passa a ser lógica e o seu fundamento é a verdade ontológica, a verdade da coisa. Nesse caso, a verdade é bilateral: a verdade da mente e a verdade da coisa.
Heidegger nos revela uma seqüencia de intervenções, o claro é que a finalidade primeira do que é proposto é retirar o nada do que é real, mais a problemática heideggeriano não nos permite fazê-lo sem antes provar a existência do nada, então o caminho torna-se o inverso para chegar à normalidade, isto é, primeiro provar que o nada existe e em seguida, tendo a existência do nada, retirá-lo do que é real, um caminho de ida e volta. A centralização do problema se dá agora em duas vias diretas para a superação da verdade que se leva a encontrar-se com o nada.
A primeira via é a existência do nada, a busca originária de uma realidade de libertação de lugar.
Heidegger investiga o "vazio" e a "falta". O vazio não é um nada, não é também uma falta.
O nada para Heidegger não é um vazio ou uma falta e sim uma ausência, que nos permite dizer que já esteve lá... Ou que ainda chegará apenas no momento do "é" ainda é ou foi ausente, ausente não diz que é vazio e muito menos falta, aqui chegamos a um tipo de existencialidade nádica.
Quando nos aproximamos da idéia heideggeriana do nada, é inevitável não percorrermos sua obra "O que é Metafísica?", onde na elaboração desta questão, interroga-se: "Que é o nada?". "Heidegger ainda acrescenta: Pois o nada é a negação da totalidade do ente, o absolutamente não ? ente", assim o esvaziar é um tipo de ausência. O esvaziamento de algo diz que: em algum momento lá esteve, e que talvez volte a se preencher, assim é a ausência, estava e deixou de estar, com a possibilidade de retorno, e será neste retorno que o desenvolvimento nádico se transforma em clareza de realidade, isto é, existência.
O intuito da questão é procurar a verdade em si, alétheia como desnivelamento para o real.
A segunda via é a de "constatação", e a verdadeira finalidade da superação a metafísica heideggeriana, retirar o nada, uma vez já existente, do real que é real.
A verdade é caminho para o real, mais a "verdade" e não a verdade, isto é, a verdade suposta de forma verdadeiramente e essencialmente verdade. Dessa forma existe um super-existir que formula tudo isso, e como no caso do nada foi a ausência, aqui será a liberdade, daí a idéia de conjunto dos seres e entes , Liberdade positiva (caminho positivo para a realidade do verdadeiramente verdade: Liberdade negativa (abandono ao desnivelamento do ente como tal, dessa forma é ser-aí (dasein) ek-sistente "deixar-ser" que leva a liberdade que por ora possui o homem: "Desein ist in der Wahrheit" ? O Deasein está na verdade (SeT. 44 pg. 289), onde há espaço para Um-wesen, Um-wahrheiet e Verschlossenheit.
Sendo que o verdadeiro é a apresentação "mais clara" do real, a sistemática é como realizá-la, o devir da verdade é a sua clarificação como desocultamento. O Desein está na verdade e é este ser que leva ao caminho do verdadeiro, isto é, do real, e no real que se aloja o verdadeiro. Da mesma forma é na língua, e na forma de fala que apreciamos a verdade como real e dessa forma retirar dela o nada. Falar do real é pior do que admitir sua possibilidade como "ausente" do nada, da mesma forma que tudo é técnico difere do que é essência de técnica: e ainda, como afirma Heidegger em "Ciência e Meditação", a ciência é a teoria do real.
Segundo Heidegger o real é aquilo que tem existência perpétua, insere-se no total verdadeiro, já as existências, que tem seu fim na morte, não tem e nem procede a uma existência perpétua mais momentânea, que ora está aqui ora já se acabou, designando o homem um ser-para-a-morte (Sein-zum-Tode).
A possibilidade do real como essência da verdade, claramente sugere uma "possibilidade" de querer, terminar o sonho ontológico de Heidegger, incluir nessa formulação de idéia Heideggeriano o ser em problematização com o real e ainda chegar ao ponto de aproximá-lo com o nada, que já sendo existente nos permite uma conotação de ser e não ser diferente das propostas pelos metafísicos, com isso a superação metafísica do real e de suas possibilidades estará mais próxima se não elucidadas, mais cabe aqui uma outra alternativa, de que todos os seres dos entes são em sua totalidade o que são, o da questão continua a ser uma incógnita,.
Heidegger sabedor disso já nos colocava em "Da Experiência do Pensar" ? "Nós chegamos muito tarde para os deuses e muito cedo para o ser", hoje com nossa mentalidade não podemos chegar a uma conclusão clara sobre o ser, por isso Heidegger acredita que o caminho de solução dessas problemáticas são as possibilidades, talvez os deuses saibam a resposta e nos não podemos, em hipótese nenhuma perguntar a interrogá-los, nos basta a compreensão do real.
Heidegger leva o termo "morte" como algo bem presente dessa totalidade: "Próprio desses mortais é o estar em grau de conhecer o morrer como o caminho para a morte. Na morte se recolhe o máximo ocultamente do Ser." A morte está além de "todo morrer".
Veremos que a metafísica nasce de um pensamento que já penetrou na superação da metafísica. A essência de tais transições pertence o fato de, em certos limites, terem que falar ainda a linguagem daquilo que auxiliam a superar.
A investigação moderna está engajada, com outros modos de representação e com outras espécies de produção do ente que se caracteriza pela vontade de vontade. "Vontade", compreendida como traço básico da entidade do ente, é, tão radicalmente, a identificação do ente com o que é atual é transformada em incondicional falibilidade da geral objetivação. Porém a ciência moderna nem serve a um fim que lhe é primeiramente proposto, nem procura uma "verdade em si". Ela é, enquanto um modo de objetivação calculada do ente, uma condição estabelecida pela própria vontade de vontade, através da qual esta garante o domínio de sua essência.
No entanto todo o comportamento que se relaciona com o ente testemunha, desta maneira, já é certo saber do ser, mas atesta simultaneamente a incapacidade de, por suas próprias forças, permanecer na lei da verdade deste saber. A metafísica é a história desta verdade. Ela diz o que o ente é, enquanto ela conceitua a entidade do ente. Na entidade do ente pensa a metafísica o ser, sem, contudo, poder considerar, pela sua maneira de pensar, a verdade do ser que lhe permanece o fundamento desconhecido e infundado
No entanto este interrogar deve pensar metaforicamente, vale dizer, não mais metafisicamente. Num sentido essencial, tal questionar permanece ambivalente.
Sendo que cada pergunta objetiva é já uma ponte para a reposta. Resposta essencial são, constantemente, apenas o último passo das próprias questões. A resposta essencial haure sua força sustentada na insistência do perguntar. A resposta essencial é apenas o começo de uma responsabilidade. Nela o interrogar desperta mais originariamente. É também, por isso, que a questão autêntica não é suprimida pela resposta encontrada.
As dificuldades para acompanhar o pensamento da preleção são de duas espécies. Uma surge dos enigmas que ocultam no âmbito do que aqui é pensado. As outras se originam da incapacidade e também, muitas vezes, dá má vontade para pensar. A reflexão deve apenas recolher tudo na serena tranqüilidade da logânima meditação.
Porém podemos citarmos algumas proposições básicas as objeções e falsas opiniões que são:
- A preleção transforma "o nada" em um único objeto da metafísica.
- A preleção eleva uma disposição de humor isolada e ainda por cima deprimente, angústia, ao privilégio de única disposição de humor fundamental.
- A preleção toma posição contra a "lógica".
Em qualquer lugar e em qualquer amplitude em que a pesquisa explore o ente, em parte alguma, encontra ela o ser. Em vez de cedermos a esta presa de uma perspicácia vazia e sacrificamos a enigmática multiplicidade do nada a amplidão daquilo que garante a todo ente ( a possibilidade de ) ser. Isto é o próprio ser.
A angústia dá-nos uma experiência de ser como o outro com relação a todo ente, suposto que ? por causa da "angústia" diante da angústia, quer dizer, na pura atitude medrosa do temor ? nós não nos esquivemos, fugindo da voz silenciosa que nos dispõe para o espanto do abismo. Tomando como guia a simplista diferença entre "em cima" e "em baixo", podemos registrar, então, as "disposições de humor" nas classes das que elevam e das que deprimem.
A disposição para a angústia é o sim á insistência para realizar o suprimento apelo, o único que atinge a essência do homem.
A "angústia" em face da angústia, pelo contrário, pode enganar-se de tal modo que desconheça as simples referências na esfera essencial da angústia. A coragem reconhece, no abismo do espanto. O espaço do ser apenas entrevisto, a partir de cuja iluminação cada ente primeiramente retorna aquilo que é capaz de ser. Mas o ser não é produto do pensamento pelo ser.
O pensamento exato se prende unicamente ao calculo do ente e a este serve exclusivamente. O resultado do cálculo com o ente vale como enumerável. O pensamento calculador submete mesmo à ordem de tudo dominar a partir da lógica de seu pensamento procedimento. Chamemos de pensamento fundamental aquele cujos pensamentos não apenas calculam, mas são determinados pelo outro do ente. Este pensamento responde ao apelo do ser enquanto o homem entrega sua essência historial à simplicidade da única necessidade que não violenta enquanto submete, mas que cria o despojamento em que se planifica na liberdade do sacrifício.
O sacrifício é destituído de toda violência porque é a dissipação da essência do homem ? que emana do abismo da liberdade ? para a defesa da verdade do ser o ente.
O pensamento originário é o eco do favor do ser pelo qual se ilumina e pode ser apropriado o único acontecimento: que é ente é. Este eco é a resposta humana à palavra da voz silenciosa do ser. A resposta do pensamento é a origem da palavra humana: palavra que primeiramente faz surgir a linguagem como manifestação da palavra nas palavras.
O sacrifício pode, sem dúvida, ser preparado e servido pelo agir e produzir na esfera do ente, mas jamais pode ser por ele realizado. Também o pensamento essencial é um agir ? protegendo o ser-aí instaurado para a defesa da dignidade do ser. Esta insistência é a impossibilidade que não permite que seja contestada a oculta disposição para a despedida própria de cada sacrifício. O sacrifício tem sua terra natal na essência daquele acontecimento que é o ser chamado o homem para a verdade do ser. A mania dos fins confunde a limpeza do respeito humilde (preparado para a angústia) da coragem para o sacrifício, que presume morar na vizinhança do indestrutível.
O pensamento essencial preta atenção aos lentos sinais do que não pode ser calculado e nele reconhece o advento do inelutável, que não ser antecipado pelo o pensamento. O auxiliar que este pensamento presto não provoca sucesso porque não precisa de repercussão. O pensamento essencial auxilia com sua simples insistência no ser-ai na medida em que nela se desencadeia o que lhe é semelhante, sem que ela, entretanto, disso pudesse dispor ou mesmo apenas saber.
Segundo Heidegger o pensamento, dócil à voz do ser, procura encontrar-lhe a palavra através da qual a verdade do ser chegue à linguagem. O dizer do pensamento vem do silêncio longamente guardado e da cuidadosa clarificação do âmbito nele aberto. De igual nomear o poeta. O pensamento diz o ser. O poeta nomeia o sagrado.
Um dos lugares fundamentais em que reina a indigência da linguagem é a angústia, no sentido do espanto, no qual o abismo do nada dispõe o homem. O nada, enquanto o outro do ente é o véu do ser.
A última poesia do último poeta da Grécia antiga, Édipo em colonos, de Sófocles, encerra com a palavra que incompreensivelmente se volta sobre a oculta história deste povo e conserva seu começo na ignota verdade do ser.
Na busca do retorno da metafísica podemos dizer que ela pensa o ente enquanto ente. A representação metafísica deve esta visão à luz, isto é, aquilo que tal pensamento experimente como luz, não é em si mesma objeto de análise: pois este pensamento analisa e representa continuamente me apenas o ente sob o ponto de vista do ente. A luz mesma vale como suficientemente esclarecida pelo o fato de garantir a transparência a cada ponto de vista sobre o ente.
O ser se manifestou num desvelamento (alétheia). O ser não é pensado em sua essência desveladora, isto é, em sua verdade. A verdade do ser pode chame-se, por isso, o chão no qual a metafísica, como raiz da árvore da filosofia, se apóia e do qual retira seu alimento. A árvore da filosofia surge do solo onde se oculta às raízes da metafísica. O solo é, sem dúvida, o elemento no qual a raiz da árvore se desenvolve. O chão é chão para a raiz, dentro dele ela se esquece em favor da árvore.
A filosofia não se reconhece em seu fundamento. Na medida em que um pensamento se põe em marcha para experimentar seu pensamento procura pensar na própria verdade do ser, em vez de apenas representar o ente enquanto ente, ele abandonou, de certa maneira, a metafísica. Visto da parte da metafísica, o pensamento se dirige de volta para o fundamento da metafísica.
A metafísica permanecer a primeira instância da filosofia. No pensamento da verdade do ser a metafísica está superada. Esta "superação da metafísica", contudo, não rejeita a metafísica. Enquanto o homem permanece animal rationalr é ele animal metaphysicum. Enquanto o homem se compreender como animal racional, pertence à metafísica, na palavra de Kant, à natureza do homem. Se bem-sucedido, talvez fosse possível ao pensamento retornar ao fundamento da metafísica, provocando uma mudança da essência do homem de cuja metamorfose poderia resultar uma transformação da metafísica.
Tal modo de pensar ultrapassa o pensamento atual que não pensa no chão em que se desenvolve a raiz da filosofia. O pensamento tentado em Ser e Tempo põe-se em marcha para preparar a superação da metafísica assim atendida.
No entanto com o advento ou ausência da verdade do ser, está em jogo outra coisa: não a constituição da filosofia, não apenas a própria filosofia, mas a proximamente ou instância daquilo de que a filosofia, com o pensamento que representa o ente enquanto tal recebe sua essência e sua necessidade.
A essência da verdade sempre aparece à metafísica apenas na forma derivada da verdade do conhecimento e da enunciação. O desvelamento, porém, poderia ser algo mais originário que a verdade no sentido da veritas.
Entretanto, a metafísica expressa o ser constantemente das mais diversas formas. Ela mesma suscita e fortalece a aparência de que a questão do ser foi por ela levantada e respondida. Ela não problemática por que é que somente pensa ser enquanto representa o ente enquanto ente. Ela visa ao ente em sua totalidade. Ela nomeia o ser e tem em mira o ente enquanto ente. Ela, de maneira alguma, tem suas razões numa simples negligência do pensamento ou numa exatidão no dizer. Em conseqüência desta geral troca, a representação atinge o auge da confusão quanto se afirma que a metafísica realmente põe a questão do ser.
Até parece que a metafísica, sem seu conhecimento, está condenada a ser, pela maneira como pensa o ente, a barreira que impede que o homem atinja a originária relação do ser com o ser humano.
Porém tudo depende de que, em seu tempo oportuno, o pensamento se torne mais pensamento.
O pensamento tenta em Ser e Tempo está "a caminho" para situar o pensamento num caminho em cuja marcha possa alcançar o interior da relação da vontade do ser com a essência do homem: esta marcha para abrir ao pensamento uma senda na qual medite consentaneamente o ser mesmo em sua verdade.
Para reunir, ao mesmo tempo, uma palavra a revelação do ser com a essência do homem, como também a referência fundamental do homem à abertura ("a)" do ser enquanto tal foi escolhido para o âmbito essencial, em que se situa o homem enquanto homem, o nome "ser-aí". Isto foi feito, apesar de a metafísica usar este nome para aquilo que em geral é designado existência, atualidade, realidade e objetividade, não obstante até se falar, na linguagem comum, em "ser-aí humano", repetindo o significado metafísico da palavra.
"A essência do ser-aí consiste em sua existência". O nome "existência" é usado, em Ser e Tempo, exclusivamente como caracterização do ser do homem.
O sustentar assim compreendido é a essência da ékstasis que deve ser pensada.
O ente que é ao modo da existência é o homem. Somente o homem existe. O rochedo é, mas não existe. A árvore é, mas não existe. O anjo é, mas não existe. Deus é, mas não existe. A frase: "Somente o homem existe" de nenhum modo significa apenas que o homem é um ente real, e que todos os entes restantes são irreais e apenas aparência ou a representação do homem. "O homem existe" dizemos que o homem é aquele ente cujo ser é assinalado pela insistência no desenvolvimento do ser a partir do ser e no ser. A essência existencial do homem é a razão pela qual o homem representa o ente enquanto tal e pode ter consciência do que é representado. A consciência, pelo contrário, nem é a primeira a criar a abertura do ente, nem a primeira que dá ao homem o este aberto para o ente.
A questão dá existência sempre está apenas a serviço da única questão do pensamento, a saber, a serviço da pergunta ( a ser desenvolvida) pela verdade do ser, como o fundamento escondido de toda a metafísica, o tratado Ser e Tempo, que tenta o retorno ao fundamento da metafísica, não traz como título Existência e Tempo, também não Consciência e Tempo, mas Ser e Tempo. Este título. Porém, também não pode ser pensado como se correspondessem a estes outros títulos de uso corrente.
Relacionar o começo da história, em que o ser se desvela no pensamento dos gregos, pode mostrar que os gregos desde os primórdios experimentaram o ser do ente como a presença do presente.
Tanto a palavra grega quanto a latina e a portuguesa permanece do mesmo modo sem vida.
A essência desde presentear está profundamente oculta no primitivo nome do ser. O ser enquanto tal se constitui ocultamente de tempo. O tempo remete ao desvelamento, quer dizer, à verdade do ser. O tempo possui ainda bem outra essência que não apenas ainda ao foi pensada pelo conceito de tempo da metafísica, mas nunca o poderá ser.
Nos primeiros nomes metafísicos do ser fala uma essência escondida de tempo, assim também no seu último nome: no "eterno retorno do mesmo". Durante a época da metafísica, a história do ser está repassada por uma imprensada essência de tempo. O espaço não está ordenado nem paralelamente a este tempo nem situado dentro dele.
A relação que vem da metafísica e que procura penetrar na referência da verdade do ser ao ser humano é concebido como compreensão. A compreensão é o projeto estático jogado, quer dizer, o projeto insistente no âmbito do aberto.
O prefácio de Ser e Tempo, na primeira página do tratado, encerra com as frases: "A elaboração concreta da questão do sentido do "ser" é o objetivo do presente trabalho. Seu fim provisório e fornecer uma interpretação do tempo como horizonte de toda compreensão possível do ser"
A filosofia não podia trazer facilmente uma prova mais clara para o poder do esquecimento do ser em que toda ela se afundou ? esquecimento que, entretanto, se tornou e permaneceu o desafio herdado pelo pensamento de Ser e Tempo ? do que a sonâmbula segurança com que ela passou por alto a autêntica e única questão de Ser e Tempo.
Sendo que a metafísica diz o que é o ente enquanto o ente. A metafísica se movimenta no âmbito do ón He ón. A metafísica, porém, representa a entidade do ente de duas maneiras: de um lado a totalidade do ente enquanto tal, no sentido dos traços mais gerais (ón Kathólou, Koinón); de outro, porém, e ao mesmo, a totalidade do ente enquanto tal, no sentido do ente supremo e por isso divino (ón Kathótou, akrótaton, theion ). Em Aristóteles o desvelamento do ente enquanto tal propriamente se projetou nesta dupla direção (vide metafísica, livros XI, V E X).
De acordo com sua essência ela é, simultaneamente, ontologia no sentido mais restrito e teologia. A essência ontoteológica da filosofia propriamente dita (prótephilosophia) deve estar sem dúvida, fundada no modo com lhe chega ao aberto o ón, a saber, enquanto ente.
A metafísica tem, enquanto a verdade do ente enquanto tal, duas formas. A metafísica aceita esta dupla face pelo fato de ser o que é: a representação do ente enquanto ente. Para a metafísica não resta escolha.
De acordo com isto foi retomada, pelo pensamento, a questão do ón, ela (vide Ser e tempo, prefácio).
Se a metafísica realmente dedica sua representação ao ón he ón, ela permanece fundada sobre este elemento velado no ón. E enquanto este pensamento se caracteriza a si mesmo como ontologia fundamental, ele se interpõe, com tal designação, seu próprio caminho e obscurece. A expressão "ontológica fundamental" parece induzir à opinião de que o pensamento que procura pensar a verdade do ser e não como toda ontologia, a verdade do ente, é, enquanto antologia fundamental, ela mesma ainda uma espécie de ontologia.
Mas toda filosofia que se movimenta na representação mediata ou imediata da "transcendência" permanece necessariamente ontologia no sentido essencial, procure ela preparar uma fundamentação da ontologia ou rejeitar ela a ontologia que para sua segurança busca uma crispação conceitual de vivências.
Discutiu-se, entretanto, muito sobre a angústia e o nada que foram abordados na preleção. Mas ninguém teve a idéia de meditar por que a preleção que procura pensar, partindo do pensamento da verdade do ser, no nada, e a partir deste, na essência da metafísica, considera a questão formulada com a questão fundamental da metafísica. Pela questão final vemo-nos colocados diante da suspeita de que uma reflexão que procura pensar o ser, seguindo o caminho do nada, retorne no fim novamente a uma questão sobre o ente. Para acúmulo de tudo, a questão final é, sem dúvida, aquela que o metafísico Leibniz formulou em seus Príncipes de La Nature e de La Grce.
O nada que a preleção meditou com seu único tema. É preciso meditar o final desta preleção a partir do ponto de vista que lhe é próprio e em tudo a orienta.
A partir da essência e da verdade da metafísica, então o sentido da questão que encerra a preleção pode ser o seguinte: Donde vem, que, em toda parte, o ente tem a hegemonia e reivindica para si todo "é", enquanto fica esquecido aquilo que não é um ente, o nada aqui pensado como o próprio ser. Se as coisas fossem diferentes para a metafísica, então Leibniz não poderia dizer, na passagem referida, esclarecendo: "Car Le rien est plus simple ET plus facile que quelque chose".
No entanto, concluímos que tal procura que aspira pelo o ente no ser, se articula agora numa questão que é o ente, enquanto é. A filosofia está a caminho do ser do ente, quer dizer, a caminho do ente sob o ponto de vista do ser.