1 – Orígenes de Alexandria (185 – 253 a. C.)

Foi um filósofo e teólogo neoplatônico patrístico e foi um dos padres gregos. Se distinguiu por sua erudição e escrita prolífica cristã.

Discípulo querido por Anônimo de Alexandria, era ligado à Escola Catequética de Alexandria. Desta inspirou vários escritores cristãos.

Não deve ser confundido com Orígenes, o pagão, que era mais jovem e também participante da Escola de Alexandria, mas era discípulo de Plotino.

CAPÍTULO I – De Principiis

Introdução e livro IV

Começa dizendo que todos que creem em Cristo provém da graça que parte dos ensinamentos de Cristo. Continua afirmando que também os profetas falavam por influência do verbo de Deus que é Cristo, afirmando inclusive que também é o próprio Cristo que fala pelo Apóstolo Paulo, citando seu próprio testemunho.

CAPÍTULO II

Afirma que muitos duvidam de Deus e questionam toda a natureza, por isso se faz necessária uma investigação sobre a verdade, principalmente depois que esta foi revelada na pessoa de Jesus Cristo.

Dessa forma diz que se reportará à tradição apostólica para fundamentar sua apologética à ceerca da verdade cristã.

CAPITULO III

Afirma que a doutrina dos apóstolos defende uma verdade que é necessária a todos e que foi manifestada de diversas maneiras. Apenas uns pela viv6encia, outros a externaram pelo dom da palavra e da sabedoria, mas importa que esta alcance a todos que estejam abertos à receberem a graça da sabedoria.

CAPÍTULO IV – O conteúdo da doutrina dos Apóstolos

1 - Demonstra que os Apóstolos transmitiram a presença de Deus na história do povo de Israel desde os Profetas e de Abraão, mostrando que Deus sempre esteve ao lado de seu povo, testificado no Antigo e no Novo testamento.

 2 – Anuncia que Jesus Cristo nasceu e cresceu em meio ao povo, morreu e foi ressussitado dentre os mortos pelo Espírito Santo. Conviveu com os apóstolos e subiu aos céus.

3 - Afirma que depois de Cristo o próprio Espírito Santo se manifestou dentre os apóstolos e os acompanhou em sua missão, inclusive o mesmo Espíritu é que inspirou os profetas e os que vieram no advento de Jesus.

CAPÍTULO V

Diz que a alma será passível de julgamento após a morte e esta será julgada conforme seus merecimentos. Ainda cita que esta alma é dotada de livre arbítrio e que nesta vida deve travar uma batalha com os demônios que estão à espreita para perderem as almas. Demônios estes que foram anjos e que se precipitaram do céu por negarem a Deus.

Conta que este mundo foi criado e que se consumirá no final por conta de sua corrupção. Diz ainda que as Escrituras foram escritas de maneira espiritual e que nem todos a compreendem e ainda que a mesma somente é revelada a alguns por meio do Espírito Santo.

Conta ainda sobre um livro que se dizia escrito por Pedro chamado Assomaton (incorpóreo), sobre a natureza de um demônio incorpóreo, mas que segundo Orígenes este não é inspirado nem contado entre os escritos da Igreja.

Cita que os anjos auxiliam na salvação dos homens, mas que os planetas são inanimados.

DE PRINCIPIIS – LIVRO IV

1ª Parte

Diz que não basta se utilizar da inteligência, mas se deve recorrer à Sagrada Escritura para se explicar o que é incompreensível, pois através da inspiração do Espírito Santo se pode chegar à iluminação. Começa então pelos ditos de Moisés que foi o primeiro legislador de Deus.

Muitos outros povos legislaram e seus legisladores gostariam que suas leis fossem obedecidas e inclusive que fossem universalizadas, mas ninguém o conseguiu.

O entanto muitas nações seguiram os ensinamentos de Moisés observando suas leis, chegando até à morte por conta disso, culminando na observância dos ensinamentos de Jesus.

          Por isso é incrível aos olhos de todos que esta religião se tenha difundido por tantos povos, mesmo que seus doutores não sejam tão eruditos, mas que por força do Espírito Santo conquistou os corações de muitos.

          É certo ainda que tinha sido predito que sucederiam diversos reis e líderes em Judá até que viesse o Cristo, e como se pode observar já não existem mais reis entre os judeus e seu sacerdócio se findou com a vinda de Cristo.

          E ainda depois de tudo seria retirada a coroa do povo de Israel e se daria a eleição de um povo insensato como assim aconteceu com os gentios. Por isso a doutrina de Jesus se difundiu sobre a terra e isso não acabará antes que desapareça a Lua, a terra e o mar.

          Por isso é que se pode dizer que tal obra não foi realizada por mãos humanas, mas diretamente por Cristo, escolhendo um povo considerado por Israel como insensato começando pelos apóstolos.

          Este sinal de graça emana de Cristo que em pouco mais de um ano difundiu sua mensagem inundando a terra com sua doutrina conquistando inclusive os gentios, destituindo e vencendo a grande besta. Por isso facilmente se percebe que os apóstolos difundem algo maior que eles, que é sobre-humano, que provém de Deus. Sinais que evidenciam o poder da graça Divina.

          Assim, pelo advento de Cristo se comprova que os Profetas e Moisés eram inspirados por Deus, realizando suas profecias. Por isso é fácil a qualquer um notar a inspiração divina das escrituras por si próprio, dada a manifestação de Deus.

          É algo trabalhoso comprovar todas as profecias, mas estas se revelam nas Escrituras desde que o leitor seja digno.

          Tudo o que nos é dispensado na Terra provém da providência divina, mas nem tudo é claro aos olhos do observador, permanecendo um mistério. Tanto que estas coisas são de maior conhecimentos dos habitantes do céu. De forma que o conhecimento pleno das coisas e das escrituras está envolto em mistério nos recipientes mais vis da palavra. E por conta disso é que mais uma vez se comprova a inspiração divina, pois seus mistérios se mantêm em vasos de barro que são as palavras humanas que contem transmitem a verdade divina, pois a mesma não é transmitida por meio de eloquência e astúcia das escrituras. Por isso é que a beleza da revelação se encontra guardada no âmago de nossos corações porque contemplaram o advento de Cristo que comprovou as profecias.

          2ª Parte

          Agora cabe a nós explicarmos porque tantos caem em erros na interpretação das Sagradas Escrituras.

          Os Judeus por dureza de coração acreditavam que a libertação vinda de Cristo seria visível e sensível, de modo que escolheriam o bem antes de renegar o mal. Como também de modo infantil acreditaram que o leão e o boi beberiam leite juntos, e por conta de não se concretizarem a literalidade das Escrituras também não creram em Jesus como sendo Cristo e o crucificaram.

          Os hereges por sua vez mal interpretando as Escrituras acreditaram que Cristo nos apresentou um Deus mais prefeito e detrimento daquele criador do começo dos tempos. Outros se entregaram a fábulas e contos sobre o Deus criador, que só poderiam mesmo ser interpretações de homens injustos e cruéis.

          Mas a causa real do mau entendimento das escrituras reside está no fato de não as entenderem no sentido espiritual, mas à lerera, ou seja, porque não foram redigidas por invenção humana, mas por obra do espírito santo. Por isso iremos aqui demonstrar como de fato a interpretação foi ensinada por Cristo aos apóstolos e transmitida a nós.

          Todos a priori são ignorantes com relação às Escrituras, pois com dificuldade perscrutam os mistérios em forma de sacramento e coisas espirituais. Por isso deve se investigar o que está por detrás dos fatos narrados pois são mistérios difíceis de interpretação, pois como se destrinchar histórias sobre núpcias, guerras, filhos e quaisquer outros contos senão de forma espiritual? Está aí o fato do erro, pois os que procedem achando que já sabem não chegam nunca a conhecer, a não ser que se entreguem à ação do Espírito Santo que revela a verdade mesmo na ignorância do homem revelando-lhe o que buscar.

          Mas para que não se pense que apenas os escritos profético são recheados de mistérios o que podemos dizer sobre os evangelhos que carregam a mesma essência? O que não dizer dos escritos de João e dos Apóstolos sobre os profundos mistérios que acompanham o que está escrito por detrás das palavras? Por isso é fácil encontrar os que dizem conhecer as escrituras e ainda os que dizem que não havia a verdade nos profetas mas só em Jesus, sendo que o próprio Cristo diz que a verdade sempre esteve presente nos livros antigos.

          Mas retomando o assunto vejamos como a própria Escritura nos ensina sobre a perfeita interpretação. Devem-se fazer três descrições da Escritura segundo a alma, sendo que a primeira é o entendimento comum e histórico e isso deve ser anunciado a todos para sua edificação, porém nem tudo que parece histórico deve ser entendido como tal, mas segundo a alma e o espírito. Assim, deve se interpretar segundo a alma da escritura que nos traz uma mensagem objetiva sobre algo, e segundo o espírito da Escritura que nos transmite o que há de espiritual na mensagem. Pois do contrário não se chegará ao consenso de que algumas coisas são ditas em forma de alegorias, sobre o que o próprio Paulo Apóstolo repreendeu.

          3ª Parte

          Assim, não há como se chegar ao pleno entendimento senão pela perfeição da ciência na inspiração da verdade e sabedoria divina. Por isso aos homens a quem é dado esta função de interpretar será dada a incumbência de transmitir toda a verdade oculta nas escrituras para a edificação de todos por meio dos mistérios divinos.

          Quando o Espírito Santo iluminou os escritores da verdade celeste os muniu de sabedoria para transmitir a mensagem divina, porém não o fez aos que não tinham a disponibilidade nem a intenção de empreenderem tal indústria. Assim, pelo Espírito Santo estes homens narraram a criação do homem bem como seu delito, passando pela história do povo que procedeu dele contando suas batalhas e vitórias como também suas adversidades. Isso aconteceu por obra e inspiração da sabedoria divina até mesmo por meio dos profetas formando o corpo da Escritura para que por ela muitos fossem edificados. Contudo em meio a essa narração histórica coube ao Espírito incluir certas interrupções, inconveniências e impossibilidades para que o seu entendimento não fosse imediato, vedando a superficialidade do entendimento para que a compreensão partisse da ciência da sabedoria divina. Assim conveio ao Espírito Santo guardar a consequência da inteligência espiritual para que se guardassem as para esta as coisas ocultas só reveladas por meio de mistérios, com o intuito que buscássemos as coisas mais profundas da revelação divina.

          Mas o Espírito não se restringiu a inspirar as Escrituras somente até o advento de Cristo, mas também aos Apóstolos e Evangelistas gerando o mesmo sistema das narrativas anteriores com seus muitos pormenores. Por isso é que à toda Escritura cabe uma interpretação sábia pois não se pode entender de maneira histórica, mas procurando conhecer o que está por detrás das palavras. Porém não defendemos que as Escrituras não contenham histórias verdadeiras, mas que estas sejam investigadas à luz da sabedoria, todavia é certo de que lendo atentamente as Escrituras poder-se-á notar que alguns relatos dificilmente poderiam ser entendidos de maneira literal. Um grande exemplo disso é quando vemos citar os nomes de Israel, Judá e Jeruzalem em vários sentidos, hora de maneira espiritual, hora como uma cidade do céu, hora como o local e hora como o povo de Deus, de forma que assim o Salvador queria nos proporcionar uma inteligência mais elevada sobre as coisas divinas.

          Para a interpretação de tantos gêneros se faz necessário se quebrar a trava para que se perscrute estes mistérios, e isso só pode ser feito sob a inspiração do Espírito Santo, pois o que está escrito são sombras e imagem das coisas celestes.

          Outras passagens que descrevem por exemplo as purificações do povo, o recenseamento e as leis do Levítico e Deuteronômio são também passíveis de interpretação para que as mesmas de fato nos conduzam à perfeição. Assim, pela interpretação destas leis à luz do advento de Cristo percebemos a plenificação da lei como sombra dos bens futuros, ao mesmo tempo que a segunda vinda de Cristo levará à perfeição do que anteriormente presenciamos no primeiro advento, de modo que se confirmará que toda a profecia não foi escrita pela fragilidade humana, senão por obra do Espírito Santo.

          Ver-se-á então que a verdade divina guardada nos frágeis vasos da viu letra será revelada de maneira plena aos olhos de todos, e que hoje apenas temos acesso apenas pela ciência e sabedoria divina. Por isso o apóstolo Paulo insiste que quanto mais nos aprofundamos nos mistérios divinos, mais tomamos consciência de que outros mistérios se nos apresentam, mostrando quão infindáveis são as veredas divinas.

          Assim, o próprio Salomão ainda afirma que não se pode chegar ao conhecimento das coisas divinas, nem mesmo pela investigação do que existe na natureza e na realidade humana, sendo que só é do conhecimento de Jesus Cristo e do Espírito Santo o conhecimento de tudo. Mesmo aos anjos e aos santos que por meio da perfeição evangélica cheguem a vislumbrar alguma luz da sabedoria divina, ainda assim não a tem completamente.

          Por isso, a quem queira empreender essa busca, não perca tempo com as palavras que na verdade são invólucros de inúmeros significados a que importa na verdade investigar. É o que os gregos chamam de incorpóreo, e que só é imputado à Deus em sua trindade, pois as outras criaturas dependem de corpo, ainda que estes sejam espirituais.

          Se conclui que depois desta exposição tenhamos explicado bem que não é pela vileza das palavras que se chega a auscultar os mistérios divinos, mas por uma inteligência muito mais simples inspirada no Espírito Santo, o qual também inspirou as Escrituras .

         

 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SITE PATRÍSTICA BRASIL: http://patristicabrasil.blogspot.com.br/search/label/S%C3%A9culo%20I