RESUMO DOS TEXTOS:

TEXTO E DISCURSO: Limites e convergências.

DISCURSO: definição e extensão.

 

                      Maria Elizabete S. da Purificação

Pós-graduada em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido (IFRN); Estudante de Licenciatura em Letras Língua Inglesa – UERN; Bacharel em Secretariado Executivo (UNIFACEX).

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Guimarães (2009) inicia seu estudo, buscando definições de discurso, elementando quais os elos que existem entre língua e linguagem no discurso, subjetividade na linguagem, Ideologia, formação ideológica e formação discursiva, para então discutir a análise do discurso e os fatores de interdiscursividade.

Sobre as definições e concepções acerca do vocábulo discurso, Guimarães (2009) acredita que esse termo está associado a outros termos tais como enunciação, pragmática e texto, assim discurso pode ser concebido so as variadas perspectivas. A autora menciona que o seu estudo está focado no discurso “como um lugar de intermediação entre língua e a fala” (GUIMARÃES, 2009, p.87).

Para Guimarães (2009) o nível discursivo reúne dois tipos de traços: uns pertencem ao sistema linguístico, outros provenientes dos distintos tipos discursivos que a fala vai configurando e compreendem o conjunto de princípios, tipos e estruturas em constantes transformações e interdefinição, que as diversas práticas discursivas vão gerando. Sobre essa perspectiva:

 

É ainda consenso geral entender o discurso como uma unidade que permite a integração de duas orientações filosófico-linguísticas que, através do tempo, tem dividido o estudo da linguagem: a linguagem como conhecimento e a linguagem como comunicação, isto é, a ênfase no estudo do sistema abstrato ou a ênfase no sistema em uso (GUIMARÃES, 2009, p.88).

 

Em face do exposto, concebe-se também o discurso sob duas modalidades: como evento e como significação. Como evento, compreendemos a língua enquanto ato de fala, já o discurso como significação é considerado como algo durável e passível de compreensão, afirma Guimarães (2009). Assim, é possível conceber discurso pelo que a linguística textual chama de superfície discursiva, que corresponde ao conjunto de enunciados realizados, produzidos a partir de determinada “posição do sujeito numa estrutura social”, diz Guimarães (2009, p.89).

Para Guimarães (2009), no processo discursivo, o sentido da fala não existe por si só, mas é determinada pelas posições ideológicas inseridas no contexto histórico-social em que as palavras são produzidas, dando vida assim aos discursos.

Compreendemos também que todo discurso é projetado ou planejado a fim de cumprir algum objetivo, por isso Guimarães (2009, p.91) diz que “o locutor não constrói o seu discurso divorciado da imagem que convoca do seu alocutário”, já que todo discurso é endereçado a um interlocutor.

Conforme os campos a que se associa, o discurso se diversificam como produção verbal: a) De uma área da ciência tais como o discurso da pedagogia, da arquitetura, da matemática; b) Do âmbito da produção, que é os discursos empresariais, financeiro, o agrícola; c) De uma associação, tais como discurso dos sindicatos, dos Pais e Mestres; d) De uma estética literária, tais como discurso do classicismo, do surrealismo, o do pós-modernismo; e) Dos sistemas de governo: o discurso da monarquia, o da democracia, o do parlamentarismo; f) Das posições políticas: o discurso do fascismo, o do comunismo, o do neoliberalismo; g) Das seitas religiosas: o discurso do protestantismo, o do budismo, o do catolicismo; h) Dos membros de uma classe social: o discurso das elites, o dos operários, o dos professores; i) De um período histórico; o da Idade Antiga, da Idade Média, do Modernismo (GUIMARÃES, 2009).

Assim, compreendemos que toda essa diversidade comunga a necessidade de apreender a profundidade da construção de um discurso, se cada tipo de discurso carece de elementos constitutivos diferentes, entendemos que os sujeitos de discurso manifestam determinadas intenções para promover seus discursos.

Para Guimarães (2009, p.93) “o discurso é, na verdade, um processo interacional entre sujeitos situados social e historicamente”. Vejamos o exemplo que autora se utiliza para mostrar essa assertiva: por exemplo, na sala de aula, quando o professor interage com os alunos, nesse processo, o alcance dos efeitos é baseado numa tríplice natureza do discurso: o discurso como ação, como efeito de sentidos e como acontecimento. Na primeira situação, o professor em sala de aula é o sujeito do discurso, onde as operações de natureza linguística passam a fornecer efeitos de sentidos para os alunos, bem como as interações entre professor aluno se configuram como um acontecimento, uma vez que o locutor é o agenciador do discurso, geralmente em sala de aula, o professor é o mediador dos discursos em suas práticas didáticas.

Guimarães (2009) concebe língua e linguagem no discurso segundo a concepção de que a linguagem não pode ser considerada um sistema de formas e regras linguísticas de que o sujeito se apropria segundo suas necessidades de comunicação, pelo contrário, ela é entendida como um processo de interlocução, que pressupõe a constituição de e por sujeitos numa determinada situação histórica e social.

Assim, compreendemos que a linguagem é uma atividade social que envolve sujeitos que se inter-relacionam buscando interagir entre si, mas também “atuam uns sobre os outros, estabelecendo relações contratuais, causando efeitos, desencadeando relações”, diz Guimarães (2009, p.95).

A língua é uma necessidade do homem para expressar sua linguagem, de certa forma o discurso se manifesta através da linguagem. Para Guimarães (2009) enquanto discurso, a linguagem é interação na medida em que está engajada numa intencionalidade. Por isso também entendemos a linguagem como subjetiva, “uma vez que é expressa por sujeitos dominados por intenções e propósitos definidos”, declara Guimarães (2009, p.96), dentro dessas intenções e objetivos, o intuito dos sujeitos é convencer o outro e chegar a determinadas conclusões através dos discursos.

Compreendemos também que, o discursos segundo suas intencionalidades, geralmente representam relações de poder, como por exemplo o discurso político no contexto eleitoral, são valiosos recursos de argumentação, considera Guimarães (2009).

Outro assunto discutido no texto de Guimarães (2009) são so efeitos da ideologia nos discursos, e para a autora, o ideológico de cada discurso é apenas uma pequena parcela do que chamamos de ideologia ou formação ideológica, pois,

 

a ideologia se instaura na sociedade principalmente pela língua, da qual o sujeito se apropria para comunicar-se, fazer-se entender- fato que justifica a definição de discurso como ponto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos (GUIMARÃES, 2009, p.103).

 

 

Guimarães (2009) destaca que a ideologia tem o poder de mover o mundo e as pessoas, pois espelha uma visão abrangente do mundo, d diversidade de valores sobre determinada situação, dessa forma, estes são os tipos de ideologias mais comuns: ideologia comunista, ideologia fascista, ideologia cristã, etc.

Sobre formação ideológica e formação discursiva, quais os elos existentes entre essas duas posições? Em Guimarães (2009) identificamos que a noção de ideologia está ligada intimamente á formação ideológica, e também a formação discursiva, pois “ambas completam-se para a caracterização de uma conjuntura social num dado momento”, diz Guimarães (2009, p.109). Dessa forma, a autora elementa que uma das maneiras de captar a ideologia contida em um discurso, é feita através da Análise do Discurso, que se trata de um tipo de estudo capaz de identificar, inclusive mapear as ideias contidas em um discurso segundo a formação ideológica do discursante.

Sobre Análise do Discurso Guimarães (2009) concebe que é uma expressão que tem recebido diferentes interpretações por conta de investigadores de diferentes disciplinas, pois para um sociolinguística, o processo de análise tem a ver com a estrutura da interação verbal contida na conversação; já para um psicolinguísta, observa a natureza dos processos de compreensão de textos escritos. Para um linguista, preocupa-se com o processo de interação e construção social de conhecimento e linguagem, para um linguista computacional com a produção de modelos operativos de compreensão de textos em contextos limitados.

No entanto, tais tendências dificultam o processo de Análise de Discurso, visto que depende de cada área do conhecimento, surgem os vários mecanismos de utilização da análise, para Guimarães (2009, p.114) “não pode, portanto, o discurso ser objeto de uma investigação puramente linguística”, por isso a Análise do discurso compreende um domínio mais vasto, sendo importante lembrar que a ideologia é fonte essencial de construção do sujeito e floresce a partir das formações discursivas adotadas pelos sujeitos de discurso.

Guimarães (2009) diz que o sentido discursivo se constrói, na verdade no interdiscurso, que é o elemento particularmente constitutivo do discurso, visto que todas as práticas sociais são sustentadas por um discurso, neste externaliza-se as ideologias de um sujeito.

Em continuidade aos estudos acerca da análise do discurso, neste tópico do estudo Guimarães (2009) discute texto e discurso, elementando quais os pontos em comum e quais as linhas que marcam o fim da extensão que esses dois polos tem em comum. Para a autora, as propostas da linguagem textual identifica o texto como um documento no qual se inscrevem as múltiplas possibilidades do discurso.

Guimarães (2009) destaca que as ciências da linguagem distinguem texto e discurso. Texto considera-se uma produção formal resultante de escolhas e articulações feitas pelo produtor do texto, amparado pelos recursos linguísticos, o discurso é esse mesmo texto, que se discursiva na medida em que seus analistas buscam intenções implícitas movidas pelo caráter ideológico, estes seriam alguns dos limites e convergências que caracterizam texto e discurso.

Em continuação as análises comparativas, Guimarães (2009, p.127) considera que texto e discurso constituem “uma mesma materialidade linguística”. Assim é possível conceber que os dois congregam “um mesmo conjunto de palavras e ideias organizadas, com coesão e coerência”. No entanto, o que diferem um do outro está nos traços com que os processos da enunciação marcam a materialidade textual.

Para Guimarães (2009) o texto passa a ser considerado discurso quando o leitor ou ouvinte identifica o objetivo de suas intenções, é através das análises de textos que pode-se identificar os processos ideológicos do discursante, pois “o discurso privilegia a natureza funcional e interativa e não o aspecto formal e estrutural da língua”, diz Guimarães (2009, p.127).

O sentido do texto não é único, preconiza Guimarães (2009), uma vez que admite uma pluralidade de leituras. No entanto, as possíveis interpretações do texto, dependem da capacidade de análise que são percebidas pelo analista do discurso, pois em “Análise do Discurso, o texto deve ser pensado em relação ao discurso; o texto remete ao discurso, o discurso valida o texto como uma unidade de significação,” complementa Guimarães (2009, p.128).

Guimarães (2009) discute s questões que enveredam o sentido do texto/discurso, enfocando que estes organizam-se num jogo interno de dependência estruturais e nas relações com aquilo que está fora dele. Esses mecanismos deixam clara a diferença entre sentido linguístico e sentido discursivo, vejamos o que Guimarães (2009) menciona sobre tais mecanismos:

O sentido linguístico constrói uma visão simbolizada, e essencialmente referencial do mundo, já o sentido discursivo não opera com esse tipo de unidade. O signo atua no discurso como uma proposição de sentido, articulando-se com outros signos buscando construir o sentido discursivo (GUIMARÃES, 2009).

Acerca das relações intertextuais e relações discursivas, Guimarães (2009) postula que os discursos só significam na interdiscursividade, assim como os textos só significam na intertextualidade, no entanto a autora mostra elementos que distinguem estes dois tipos de relações: A interdiscursividade refere-se à enunciação ou processo de produção discursiva, já a intertextualidade diz respeito aos enunciados ou textos que resultam do processo de enunciação.

Para Guimarães (2009, p.134) intertextualidade é “um processo de incorporação de um texto em outro, seja para produzir o sentido incorporado, seja para transforma-lo”. Interdiscursividade se configura como “interação com um dado discurso, uma memoria discursiva, que constitui um contexto global que envolve e condiciona a atividade linguística” (Op.cit).

Em continuidade ao estudo, Guimarães (2009) destaca a importância das estratégias cognitivas, textuais e sociointeracionais, definindo o quanto a estratégia é relevante como uma ação que conduz a determinado objetivo específicos nas análises de textos ou discursos.

O processo de intertextualidade efetiva-se no funcionamento de diversos mecanismos, tais como: citação, alusão e estilização. Sobre citação Guimarães (2009, p.137) diz que é “um instrumento intertextual capaz de desempenhar várias funções, segundo sua colocação na linearidade do texto”, já a alusão no processo intertextual/interdiscursivo, “representa-se na referência pouco precisa ou indireta a alguém ou a alguma coisa”. No processo intertextual, se configura também nos textos, os processos de estilização, segundo Guimarães (2009, p.139) “visa ao aprimoramento ao apuro do texto em relação á sua forma, conservando, no entanto, a configuração temática – processo característico da intertextualidade”.

Guimarães (2009) finaliza esse tópico do estudo mencionando que a análise no nível do discurso permite observar como a linguagem é utilizada a fim de realizar atos comunicativos específicos num gênero discursivo particular, relacionando o texto com o contexto, com intenções comunicativas, com informação, dessa forma, concebe-se que a linguagem ao se fazer texto, contribui para a contextualizar as circunstâncias que a determinam como texto, no entanto ao se considerar quanto discurso, outros elementos constitutivos são levados em consideração, como é o caso das inclusões ideológicas e sociais do discursante.

 

REFERÊNCIAS

 

GUIMARÃES, Elisa. Texto e discurso: limites e convergências. In: __________. Texto, discurso e ensino. São Paulo: Contexto, 2009.

 

_________. Discurso: definição e extensão. In: __________. Texto, discurso e ensino. São Paulo: Contexto, 2009.