RESUMO DO TEXTO:
"FRACASSO ESCOLAR"
Por Marcos Paterra

FERNÁNDEZ, Alicia. Os Idiomas do Aprendente: Análise das modalidades
ensinantes com famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. p. 23 ? 50.

Conforme Alicia Fernández, o maior problema é a busca pelos culpados do fracasso escolar e, a partir daí, percebe-se um jogo onde ora se culpa a criança, ora a família, ora uma determinada classe social, ora todo um sistema econômico, político e social. A autora nos mostra existe que não existe um culpado para a não- aprendizagem; Se a aprendizagem acontece em um vínculo, se ela é um processo que ocorre entre subjetividades, nunca uma única pessoa pode ser culpada.
"É certo que, muitas vezes, o "fracasso escolar" pode intervir como fator desencadeante de um "problema de aprendizagem" que, de outro modo não teria aparecido. Essa situação, que torna mais complexo e difícil o diagnóstico, exige uma maior responsabilidade e precisão teórica por parte da psicopedagogia. "(FERNANDEZ, P. 25. 2001)
Alicia Fernández nos lembra que "a culpa, o considerar-se culpado, em geral, está no nível imaginário"; e coloca que o contrário da culpa é a responsabilidade. Para ser responsável por seus atos, é necessário poder sair do lugar da culpa.
Sobre essa ótica Fernandez afirma que a postura psicopedagógica sobre o fracasso escolar é a de propiciar modalidades de aprendizagem que " [...] potencializem possibilidades singulares de cada pessoa, oferecendo ? lhe espaços em que possa realizar experiências com ensinantes que favoreçam esse processo".
"A problemática da aprendizagem é uma realidade alienante e
imobilizadora que pode apresentar-se tanto individual quanto
coletivamente. Em sua produção, intervém fatores que dizem respeito ao socioeconômico, ao educacional, ao emocional, ao intelectual, ao orgânico e ao corporal. Portanto, para sua terapêutica e prevenção, impõe-se o encontro entre diferentes áreas de especialização: psicopedagogia, psicologia, psicanálise, pedagogia, pediatria, sociologia, etc." (FERNANDEZ, P. 26. 2001)
Conforme a autora "a liberação da inteligência aprisionada só poderá dar -se através do encontro com o prazer de aprender que foi perdido". Ou seja, o aluno só conseguirá retomar para si a importância da aprendizagem, quando voltar a acreditar em si mesmo e perceber que há pessoas que acreditam nele igualmente, sem preconceitos, marginalizações ou expectativas inatingíveis.
Sobre esse prisma a autora revela que a principal tarefa na relação com os pacientes (aos quais denominou : "aprendensinantes") é "ajudá-los a recuperar o prazer de aprender" e, de modo igual, os ensinantes aspirarem , recuperar o prazer de trabalhar aprendendo e de aprender trabalhando.
Conforme Alicia Fernandez a psicopedagogia vem para explicar também que na fabricação do problema de aprendizagem como sintoma intervém questões que dizem respeito à significação inconsciente do conhecer e do aprender e ao posicionamento diante do escondido.
"[...] Por último, e não menos importante, a psicopedagogia clínica vem para dizer também que, na fabricação do fracasso escolar, participam questões relativas ao posicionamento dos "ensinantes professores", mas também dos "ensinantes médicos" e do poder médico, as quais, exibindo, por vezes, um conjunto de informações hegemônicas e monopolistas, supõem o aprendente como um "sistema nervoso central caminhando". (FERNANDEZ, P. 27. 2001)
Fernandez em seu texto nos diz que como diagnóstico, um fracasso escolar pode diferenciar-se de um problema de aprendizagem, analisando a modalidade de aprendizagem do aprendente em sua relação com a modalidade ensinante da escola. Nas situações de fracasso escolar, a modalidade de aprendizagem do sujeito não se torna patológica; quando se constitui um problema de aprendizagem (inibição cognitiva ou sintoma), a modalidade de aprendizagem altera-se.
Em seu livro a autora afirma que aprendizagem escolar, reflete-se toda a dinâmica social e familiar, dessa forma, o trabalho do psicopedagogo será saber escutar e olhar para além e para aquém daquilo que se percebe.
A autora enfatiza que o trabalho da escola torna-se mais difícil, pois, por melhor que seja a instituição este não pode substituir a família, Fernandez afirma : "se pensarmos no problema de aprendizagem como só derivado do organismo ou só da inteligência, para sua cura não haveria necessidade de recorrer a família."
O texto deixa claro que a intervenção psicopedagógica nas escolas deve dirigir seu olhar simultaneamente para seis instâncias:
- ao sujeito aprendente que sustenta cada aluno;
- ao sujeito ensinante que habita e nutre cada aluno;
- à relação particular do professor com seu grupo e com seus alunos;
- à modalidade de aprendizagem do professor e, em consequência, à sua modalidade de ensino;
- ao grupo de pares real e imaginário a que pertence o professor;
- ao sistema educativo como um todo.
Ao se tratar de resolução do problema de aprendizagem, que antecede prioritariamente de causas que se referem à estrutura individual e familiar da criança (problema de aprendizagem-sintoma ou inibição) faz-se necessária uma intervenção psicopedagógica mais pontual.
A autora nos informa que de acordo com cada situação, será possível optar por:
a) tratamento individual e familiar psicopedagógico;
b) grupo de tratamento psicopedagógico de crianças;
c) grupo de orientação paralelo de mães;
d) oficinas de arte, arte-terapia, recreação com objetivos terapêuticos,
etc;
e) entrevistas familiares psicopedagógicas, etc.
Fernandez, nos mostra que a aprendizagem escolar, é um reflexo da dinâmica social e famíliar e que devemos atentar a suas diversas causas.
A autora diferencia esquematicamente situações que se mostram como "não-aprendizagem" :
? fracasso escolar;
? problemas de aprendizagem da ordem do sintoma;
? inibição cognitiva;
? oligotimia, baseada em uma estrutura psicótica.
A autora nos mostra a gravidade da profissão de psicopedagogo, onde nas escolas solicitam tarefas impossíveis, devido ao fato da quantia excessiva de demanda , questionando a posição do psicopedagogo na escola.
Nesse contexto Alicia Fernandez nos diz que o profissional da psicopedagogia deve filtrar suas informações e questionar quem são os que demandam, e até que ponto não é apenas uma queixa.

"A psicopedagoga ou o psicopedagogo é alguém que convoca todos a refletirem sobre sua atividade, a reconhecerem-se como autores, a desfrutarem o que têm para dar. Alguém que ajuda o sujeito a descobrir que ele pensa, embora permaneça muito sepultado, no fundo de cada aluno e de cada professor. Alguém que permite ao professor ou à professora recordar-se de quando era menino ou menina. Alguém que permita a cada habitante da escola sentir a alegria de aprender para além das exigências de currículos e notas." (FERNADEZ. P.35. 2001)

A autora na pagina 38, acrescenta que a "escuta" da psicopedagogia não se situa no aluno, no professor, na sociedade ou família, e sim nas múltiplas relações entre eles.
A intervenção psicopedagógica clínica é caracterizada pela correção ou remediação de alguma dificuldade apresentada pelo aluno.
Porém, muitas crianças são submetidas a métodos reeducativos que tentam uma "ortopedia mental" como se fosse possível colocar "próteses cognitivas".
"O fracasso escolar ou o problema de aprendizagem deve ser sempre um enigma a ser decifrado que não deve ser calado, mas escutado. Desse modo, quando o "não sei" aparece como principal resposta, podemos perguntar-nos o que é que não está permitido saber.
Nossa escuta não se dirige aos conteúdos não-aprendidos, nem aos aprendidos, nem às operações cognitivas não-logradas ou logradas, nem aos condicionantes orgânicos, nem aos inconscientes, mas às articulações entre essas diferentes instâncias." (FERNADEZ. P.38. 2001)

Fernandez afirma que a psicopedagogia dirige-se para a relação entre a modalidade ensinante da escola e a modalidade de aprendizagem de cada aluno, e a este como aprendente e ensinante em seu grupo de pares.
Dessa forma esse "Sujeito autor" constitui-se quando o sujeito ensinante eaprendente, em cada pessoa, pode entrar em um diálogo.
Conforme o texto a intervenção psicopedagógica nas escolas deve se atentar simultaneamente em sei tópicos :
- ao sujeito aprendente que sustenta cada aluno;
- ao sujeito ensinante que habita e nutre cada aluno;
- à relação particular do professor com seu grupo e com seus alunos;
- à modalidade de aprendizagem do professor e, em consequência, à
sua modalidade de ensino;
- ao grupo de pares real e imaginário a que pertence o professor;
- ao sistema educativo como um todo.
Direcionando o olhar nesses seis tópicos, poderá ter uma circulação singular de conhecimento que se estabeleceu entre os diversos personagens e o conhecimento.
Com relação a intervenção psicopedagógica com professores Fernandez , afirma que é necessário que a intervenção tenha inicio a partir de seu próprio espaço de autoria de pensamento, por isso a escuta tanto do professor quanto do aluno se faz necessária, procurando entender e interpretar o contexto tanto do aluno quanto do professor.
Ao comentar em seu texto sobre intervenção psicopedagógica clinica, Fernandez, deixa claro que é muito diferente da reeducação, já que esta última tende a corrigir ou remediar.


"Assim, muitas crianças são submetidas a métodos reeducativos que tentam uma "ortopedia mental" como se fosse possível colocar "próteses cognitivas".(FERNADEZ. P.38. 2001)
Alicia Fernandez conclui que a escuta não se dirige aos conteúdos não-aprendidos, nem aos aprendidos, nem às operações cognitivas não-logradas ou logradas, nem aos condicionantes orgânicos, nem aos inconscientes, mas às articulações entre essas diferentes instâncias. Não se situa no aluno, nem no professor, nem na sociedade, nem nos meios de comunicação como ensinantes, mas nas múltiplas relações entre eles.












"Se um aluno "está no mundo da lua", o problema do professor será o de como trazer a "lua" ao mundo da criança, já que, se quiser expulsar a "lua" da aula, expulsará também o aprendente que há em seu aluno. Por outro lado, essas "luas" costumam estar habitadas pelas situações mais dolorosas da vida das crianças. "