1 RESUMO DO FILME: “CABRA MARCADO PARA MORRER

O filme em comento começou a ser gravado em meados de 1962. Dirigido por Eduardo Coutinho, a película inicia com uma musica que versa acerca de um país subdesenvolvido, tema que casa perfeitamente com o propósito do filme. Mostra, inclusive, crianças efetuando o trabalho destinado a adultos. Entretanto, nada destes fatos destoa da realidade a qual estamos habituados.

Este filme contaria a trajetória de lutas de um personagem real, líder de uma liga camponesa, em busca da conscientização dos trabalhadores rurais acerca da importância da reforma agrária no Brasil, em face da escassez de terras para os menos apossados, enquanto uma minoria rica era detentora de terras que em muitos casos eram esquecidas e não cumpriam com sua função social.

João Pedro Teixeira veio a falecer aos quarenta e quatro anos de idade, e seus companheiros de luta partilhavam dos mesmos  ideais que seu líder, a melhoria da vida no campo. Em uma determinada época, houve um conflito entre policiais e camponeses no povoado de Sapé, na Paraíba, e tal litígio ceifou a vida de onze pessoas. Posteriormente o local fora tomado pelos policiais, algo que inviabilizou a continuação das filmagens da película em comento.

O início da narrativa dos fatos através de um dos camponeses retrata a dificuldade vivida por aquele povo, inclusive no que tange ao sepultamento de seus entes queridos, já que a Prefeitura do local somente possuía um único caixão, que era utilizado exclusivamente para o transporte do cadáver, e, logo após seu uso, o mesmo retornava para a sede da Prefeitura.A região da Galiléia, onde os camponeses habitavam, constituía-se de uma divisão de lotes de terras, nas quais 150 famílias pagavam anualmente ao senhor do engenho para que pudessem usufruir da terra e garantir seu sustento.

Contudo, o senhor do engenho optara por expulsar os camponeses de suas terras após descobrir que as ligas camponesas não tinham como único escopo garantir votos, mas possuíam outros objetivos. Diante da expulsão, os camponeses contrataram um advogado para pleitear seus direitos. A desapropriação das terras mediante justa e previa indenização fora realizada, conforme os ditames da própria Constituição federal. Todavia, os camponeses agraciados com as terras jamais receberam a escritura de suas terras.

Conforme explanado anteriormente, as ligas camponesas foram criadas desde a década de 50 e tinham o escopo de conscientizar e mobilizar os trabalhadores do campo acerca da importância da reforma agrária no país. Durante o governo de João Goulart, essas associações cresceram demasiadamente, e também houve a multiplicação de sindicatos rurais. Ou seja, o movimento havia ganhado maior força política para velar pelos seus interesses.

Elizabeth Teixeira casou-se com João Pedro em 1942, se conheceram em um barracão e depois fugiram. João trabalhava em uma pedreira, logo após, iniciara seu trabalho junto aos sindicatos rurais. Depois se mudara para a Paraíba, local onde fundara a liga camponesa de Sapé em 1958 e em 1962 João Pedro fora assassinado.           

João Pedro fora assassinado em uma emboscada por dois soldados da polícia militar, um vaqueiro que prestava serviços na fazenda de um latifundiário. O juiz do processo decretou a prisão do latifundiário, Agnaldo, como um suposto mandante do crime. Contudo, o mesmo se livrara da prisão no momento em que fora designado a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado de Pernanbuco. Em março de 1965, os dois policiais que executaram João Pedro foram inocentados através do Tribunal do Júri.

Após a morte de seu marido, Elizabeth liderou a liga por um determinado período de tempo, porém, não dera continuidade à luta na qual seu marido se dedicara. O exército, por sua vez, invadiu a Galiléia a procura de três camponeses e das pessoas que trabalhavam nas filmagens do longa metragem, pois, acreditavam ser estrangeiros revolucionários que apoiavam os ideais dos camponeses. Levaram todo o material utilizado nas filmagens de Cabra marcado para morrer, e nessa invasão, alguns dos integrantes do elenco do filme foram presos.

Em depoimento feito por um dos habitantes da região, o camponês revela a um policial que os mesmos somente possuem fome e doenças, e que necessitam de terras para garantir seu sustento. Contudo, os policiais acreditavam que os camponeses possuíam inúmeras armas que seriam utilizadas por eles em uma possível revolução pelas terras. Entretanto, as armas dos latifundiários, os policiais se recusaram a tomar, sob a alegação de que as armas lhes pertencia, e com eles deveriam permanecer.

Um dos camponeses, cansado de passar dias se escondendo, resolveu se entregar e fora submetido à prisão. Ocasião em que fora torturado e humilhado, perdendo um olho e a audição, em decorrência da violência física a qual estava sendo submetido naquele lugar.

Cerca de uma semana antes da prisão de um dos camponeses, Elizabeth mudou-se de Recife, juntamente com os demais integrantes do filme, pois, caso ficassem, seriam presos. Mudou seu nome para Maria, como forma de disfarce.

Passados três meses do assassinato de João Pedro, seu filho, também chamado de João Pedro, fora morto por três tiros. Na sepultura de João Pedro Teixeira não há qualquer escritura, contudo, em uma cruz colocada na beira da estada onde ele falecera, haviam os dizeres “Aqui jaz João Pedro Teixeira, marco da Reforma Agrária”.

O filme retrata a dura realidade das pessoas pobres durante o regime militar, que para muitos fora a era das trevas da política brasileira. Os militares perseguiam os camponeses que lutavam por melhores condições de vida e salário, tal período evidencia a luta desses camponeses e dos sindicatos rurais  e suas ligas para obter a tão sonhada reforma agrária. A realidade mostrada revela que nesse país quem manda é a pequena elite oligárquica, porém, a voz da massa continua a ecoar e jamais se calará diante das adversidades da vida sofrida que a maioria leva.

2  DAS LIGAS CAMPONESAS

           

As primeiras ligas camponesas surgiram no Brasil no ano de 1945, após a ditadura do presidente Getúlio Vargas. O movimento tinha como escopo a luta pela reforma agrária e a melhoria das condições de vida das pessoas que obtinham seu sustento do campo.

Contudo, diante das dificuldades impostas, inclusive, pelos próprios lideres políticos, os movimentos não se organizavam mais com o vigor de outrora, conforme pode ser observado pela película na qual se ateve o presente trabalho.

Em 1962, fora criado o jornal A Liga, veículo de divulgação do movimento. Com a aprovação do Estatuto do Trabalhador Rural, nesse mesmo ano foram criados diversos sindicatos rurais, advindos das próprias ligas camponesas.

Há relatos de ligas camponesas criadas na região da Galiléia, conforme descreve perfeitamente o filme “Cabra Marcado para Morrer”, no qual um grupo de camponeses laboravam nas terras de um latifundiário, e para garantir o sustento dos seus, teriam que pagar ao proprietário anualmente determinado valor. Contudo, com o passar do tempo, o latifundiário tentara expulsá-los de suas terras, o que os levou a reivindicar seus direitos. Os movimentos ganharam maiores repercussões e maior força política nesse cenário marcado pelo sofrimento de uma maioria em detrimento de uma minoria detentora de terras.