Donna Haraway (autora feminista) escreveu uma teoria sobre o assunto sexo-gênero para compor o dicionário marxista alemão, pois até então não havia um conceito teórico sobre gênero na perspectiva marxista. Haraway relata que teve muita dificuldade em teorizar tal conceito, pois em alemão não há distinção entre as palavras gênero e sexo, existindo somente a palavra Geschlecht e consequentemente os significados acabam se tornado o mesmo.


"A raiz da palavra em inglês, francês e espanhol é o verbo latino GENERARE = gerar e a alteração latina GENER = raça ou tipo. Os substantivos "Geschlecht", "Gender", "Genre" e "Gênero" se referem à idéia de espécie, tipo e classe. Gênero em inglês tem sido usado neste sentido "genérico", continuadamente, pelo menos desde o século XIV. As palavras modernas em inglês e alemão, "Gender" e "Geschlecht", referem diretamente conceitos de sexo, sexualidade, diferença sexuais, geração, engendramento e assim por diante". (HARAWAY, 2004)


Haraway explica que a diferenciação e complexa relação entre sexo-gênero são partes da história política das palavras, pois o gênero refere-se à construção e a classificação de sistemas de diferença.

"Os significados compartilhados das categorias raciais e sexuais de gênero apontam para as histórias modernas das opressões coloniais, racistas e sexuais entrelaçadas nos sistemas de produção e inscrição do corpo e seus conseqüentes discursos libertários e de opressão. A dificuldade de acomodar as opressões racial e sexual nas teorias marxistas de classe encontra paralelo na própria história das palavras". (HARAWAY, 2004)

As teorias feministas iniciaram sua articulação sobre gênero depois do pós-guerra, e dizem que a relação sexo-gênero existem como forma de opressão das mulheres devido a uma questão cultural que é marcante dentro da sociedade em que vivemos. Portanto os conceitos de gênero colocam de modo agudo os problemas da composição cultural, da tradução lingüística e da solidariedade política.
Haraway afirma que os significados modernos de gênero se enraizaram na observação de Simone de Beauvoir, onde ela defende que "não se nasce mulher" e no contexto do pós-guerra onde a mulher passou a ser vista como sujeito coletivo, histórico, ou seja, sujeito da própria história. Sendo assim Gênero é um conceito desenvolvido para contestar a naturalização da diferença sexual em várias arenas de lutas. A teoria e a prática feminista em torno do gênero buscam explicar e transformar sistemas históricos de diferença sexual, nas quais "homens" e "mulheres" são socialmente constituídos e posicionados em relação de hierarquia e antagonismo. Junto com as teorias feministas, a história das lutas das mulheres foi amplamente debatida em muitos partidos marxistas europeus no final do século XIX e início do século XX.
"A história das reformulações políticas de gênero pelas feministas ocidentais depois dos anos sessenta deve passar pela construção de sentidos e tecnologias de sexo e gênero nas ciências da vida normalizadoras, liberais, terapêutico-intervencionistas, empiricistas e funcionalistas, especialmente nos Estados Unidos, incluindo-se aí a psicologia, a psicanálise, a medicina, a biologia e a sociologia". (HARAWAY, 2004)
A identidade de gênero foi produzida a partir de vários componentes como: uma leitura de Freud, sexologistas como Kraff-Ebing, e Havelock Ellis, o desenvolvimento da endocrinologia bioquímica e fisiológica, à psicobiologia de diferenças sexuais nascida da psicologia, às hipóteses de dimorfismo sexual hormonal e as primeiras cirurgias de redefinição de gênero por volta de 1960. Em seguida surgem à contrariedade entre "determinismo biológico" e "construcionismo social" (teoria defendida pelo movimento feminista)
Por volta de 1968, o psicanalista Robert Stoller apresentou seu projeto vinculado com o UCLA (Centro Médico para o estudo de Intersexuais e Transexuais da Universidade da Califórnia, em Los Angeles) sobre o termo "identidade de gênero" no Congresso Internacional de Psicanálise, em Estocolmo e revelou: O conceito de identidade de gênero no quadro da distinção biologia/cultura, de tal modo que sexo esta vinculado à biologia (hormônios, genes, sistema nervoso, morfologia) e gênero à cultura (psicologia, sociologia).
Judith Butler ( HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/Filosofia" \o "Filosofia" filósofa  HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%B3s-estruturalismo" \o "Pós-estruturalismo" pós-estruturalista  HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/Estados_Unidos_da_Am%C3%A9rica" \o "Estados Unidos da América" estadunidense) argumenta que o discurso sobre identidade de gênero é instríseco às ficcções de coerência heterossexual e que o feminismo precisa aprender a produzir uma legitimidade narrativa para todo um conjunto de gêneros não coerentes, além disso, a identidade de gênero insiste na não redutibilidade e na relação antagônica entre homens e mulheres coerentes.
Uma idéia ficcionária reguladora acredita que o conceito de gênero ocidental é que a maternidade é natural e a paternidade cultural. Através desse conceito teórico e analisando o conceito de gênero a antropóloga Marilyn Strathern mostra com suas pesquisas etnográficas entre os melanésios que as "as mulheres fazem os bebês" ela apontou que o centro da produção da crença de que as mulheres fazem os bebês (e seu par, que os homens se fazem a si mesmo). Ela argumenta que os homens e as mulheres não existem em estado permanente como sujeitos e objetos em contextos aristotélicos, hegelianos, marxistas ou freudianos. Os melanésios têm uma dinâmica e uma geometria diferentes. Para os ocidentais, uma conseqüência central dos conceitos de diferença de gênero é que uma pessoa pode ser transformada por outra em objeto e roubada de seu estatuto como sujeito. As ocidentais acreditam que deve se manter como se fosse uma posse. Esta posse pode estar associada com a produção cultural ou pode ter nascido com ela.
O discurso da diferença entre sexo e gênero inicia-se nos anos 50 e 60, porém é no final dos anos 70 que tais discursos são criados com um intuito a um debate político e científico e à crítica ao "determinismo biológico" e a ciência sexista especialmente a biologia e a medicina.
Uma tendência realizada por Gayle Rubin sobre a teoria e a política feminista sobre sexo/gênero através dos discursos de Marx e Freud, de Lacan e Lévi-Strauss. Foi realizada por volta de 1975, onde ele examinava a "domesticação das mulheres" nas quais as fêmeas humanas eram materiais brutos na produção social de mulheres através da troca de sistemas de parentesco controladas por homens na instituição da cultura humana. Essa domesticação definia sexo-gênero como o sistema de relações sociais que transformava a sexualidade biológica em produto da atividade humana e no qual são satisfeitas as necessidades sexuais específicas daí historicamente resultante e conclui que os homens possuíam direitos sobre as mulheres e que devido ao heterossexualismo obrigatório. Assim a opressão das mulheres pelos homens se realizava pela troca de mulheres na fundação da cultura por meio do sistema de parentesco.
A partir desta publicação de Rubin alguns teóricos e teóricas iniciam suas teses a favor do lesbianismo como é o caso de Monique Witting e Adrienne Rich que também defendem a idéia de que a heterossexualidade compulsória está na raiz da opressão das mulheres. Rich utilizou o "continuum lésbico" para concluir que as mulheres possuem o direito de escolher seus relacionamentos. Com isso a figura da lésbica se tornou geradora de discursos nos debates feministas, pois a categoria sexo-gênero antes dos anos 70 era sinônima de apropriação dos homens.
A teoria feminista segundo Sandra Hargind discutiu três importantes elementos em relação à temática gênero são eles: 1) uma categoria fundamental através da qual se atribui sentido a tudo. 2) uma maneira de organizar as relações sociais e 3) uma estrutura da identidade pessoal.
Em relação à teoria marxista, Haraway cita uma autora chamada Catherine Mackinnon que argumenta que:

"A sexualidade é para o feminismo o que o trabalho é para o marxismo: o que é mais próprio de cada um e o que mais se tira de cada um... A sexualidade é este processo social que cria, organiza, expressa e direciona o desejo, criando os seres sociais que conhecemos como homens e mulheres, do mesmo modo como suas relações criam à sociedade..." (MACKINNON apud HARAWAY, 2004)

São vários os conceitos do par sexo-gênero dentre elas Haraway destaca: De Lauretis que definiu gênero como a construção social de "mulher" e "homem" e a produção semiótica da subjetividade, portanto gênero tinha a ver com a "história, as práticas e a imbricação de sentido e experiência", isto é, os efeitos constitutivos mútuos na semiose do mundo exterior da realidade com o mundo interior da subjetividade.
Nancy Chodorow adotou o conceito de sistema de sexo-gênero em seu estudo da organização social da educação na família, que produz as mulheres como mais capazes de relações não hostis do que os homens, mas que também perpetua a posição subordina das mulheres por meio de sua produção como pessoas estruturadas para a maternidade na patriarcado e define que a "identidade de gênero", com sua rede de significados da ciência social empírica, que é deferente da "aquisição de posições de subjetividade", com sua rede de significados da ciência social empírica, que é diferente da "aquisição de posições de subjetividade sexuada".
Para Evelyn Keller gênero é um sistema de relações sociais, simbólicas e psíquicas na quais homens e mulheres estão diferentemente alocados. "......A expressão de gênero é como uma experiência cognitiva na qual a individuação psíquica masculina produz um investimento na impessoalidade, na reificação e na dominação" Keller descreveu seu projeto para tentar compreender o "sistema de ciência-gênero" enfatizando a construção social e concentrando-se nos aspectos psicodinâmicos dessa construção, Keller desenvolveu sua tese com o objetivo de saber como a construção de homens e mulheres afetou a construção da ciência.
Haraway cita ainda teóricas como Carby, Spillers, Hurtado que questionaram o conceito de gênero através de uma exploração da história e das conseqüências desses temas. E conclui seu artigo dizendo que o fato de permanecer homem ou mulher marcado pelo gênero é uma questão eminentemente política, pois o poder político e explicativo da categoria "social" de gênero depende da historicização das categorias de sexo, carne, corpo, biologia, raça e natureza, que geraram o conceito de sistema de sexo/gênero num momento e num lugar particular na teoria feminista sendo implodidas em teorias da corporificação articuladas, diferenciadas, responsáveis, localizadas e com conseqüências, nas quais a natureza não mais seja imaginada e representada como recurso para a cultura ou o sexo para o gênero. Sendo assim o conceito de gênero foi desenvolvido como uma categoria para explorar o que significa "mulher", para problematizar o que era anteriormente dado.



As diferenças entre homens e mulheres são marcadas fortemente pela sociedade que vivemos. A forma de lidar com um ou com outro sexo é fator delimitante nas relações sociais. Desde pequenos somos codificados pelo sexo biológico e predestinados a seguir os padrões sociais destinados a cada um deles.