RESUMO CRÍTICO DO FILME "MENSAGENS DA ESCRITA"

O Filme em questão aborda o analfabetismo no interior do País, em especial na região do norte de Minas Gerais, quase na divida com a região nordeste,  no ano de 2010.

Como todos os  anteriores, o Projeto cidadão Nota 10 é um projeto com o objetivo de erradicar o analfabetismo no País através da Educação Popular. Levam os professores às regiões aqui retratadas para levar promover a educação escolar e a alfabetização a esta parte da população brasileira tão carente de recursos e de cultura.

No Brasil de acordo com estudos do Ministério da Educação, são milhões de analfabetos acima dos 15 anos, cerca de analfabetos 16 milhões totalmente analfabetos, 33 milhões de pessoas que não chegaram a concluir o ensino básico. Cerca de 50% dessa população localizada nas regiões norte e nordeste. (BARROS, 2013)

Ainda segundo a autora, esta situação está diretamente ligada a conceitos de escolas arcaicos que não proporcionam condições de um melhor aprendizado, de forma a respeitar a individualidade de cada aluno.

A Revista Veja, em sua edição virtual de setembro deste ano, publicou uma matéria sobre o assunto “analfabetismo”. Na referida matéria, afirma que o analfabetismo no país, tem endereço e cara: Pessoas mais velhas e nordestinas.

Neste trabalho, nos foi oferecido 3 vídeos nos quais tem como foco a  educação e seus programas.

O primeiro filme retrata a situação posta acima, em relação a extinção do analfabetismo  e coloca em cheque tais modos e modelos. Trás a história de pessoas com pouco ou nenhum tempo de estudos, que não sabiam ler nem escrever e que participaram de um Projeto que tinha como objetivo alfabetizar brasileiros que vivem em regiões distantes, com pouco acesso a escola, seja por motivo de não haver escolas na região onde residem, seja por não terem tido a oportunidade de manterem-se na escola por conta de auxiliar os pais no trabalho da lavoura.

O filme mostra a história de pessoas que não  sabiam ler nem escrever e que atualmente, já em idade avançada, voltaram aos bancos escolares para aprender a ler e escrever.

Todos têm a mesma história de vida, ou seja,  todos largaram a escola, muitos por opção, outros por falta dela, para inicialmente trabalhar “na roça” como os mesmo dizem, seja para ajudar os pais, seja para auxiliar no sustendo familiar. Isso fica claro em relação ao reconhecimento dos participantes do Projeto.

Participando do Projeto, os mesmos tiveram a oportunidade de conhecer as letras, de iniciar a alfabetização. Ambos falam com alegria e determinação em manterem-se na escola para “melhorar a leitura” e reconhecem que a falta desse conhecimento prejudicam-nos  e os limitam de melhores condições de vida. (NAOE, 2012)

A questão do analfabetismo e seus eternos projetos de erradicá-lo vem de longa data no Brasil. Desde a década de 1970 são criados Projetos para a erradicação do analfabetismo.

Na década de 60, com o Estado associado à Igreja Católica, novo impulso foi dado às campanhas de alfabetização de adultos. No entanto, em 1964, com o golpe militar, todos os movimentos de alfabetização que se vinculavam à idéia de fortalecimento de uma cultura popular foram reprimidos. O Movimento de Educação de Bases (MEB) sobreviveu por estar ligado ao MEC e à igreja Católica. Todavia, devido às pressões e à escassez de recursos financeiros, grande parte do sistema encerrou suas atividades em 1966. (LOPES E SOUZA, 2005)

O MOBRAL foi um dos pioneiros nesta tentativa, tinha como objetivo apenas o uso funcional da língua. Tal objetivo acabou por trazer outro grave problema, pois estigmatizava os alunos. Além de ter “vida curta, tais programas como o antigo Mobral e o atual “Brasil Alfabetizado” tem curta duração e não é fácil mudar o habito de uma pessoa em apenas oito meses. (CUNHA, 2013). Este Programa foi extinto no ano de 1985 e substituído pelo pela Fundação EDUCAR, com os mesmos propósitos.

Como de costume, o Projeto da Fundação EDUCAR teve vida curta. Durou apenas 10 anos, e no ano de 1990, no governo de Fernando Collor, com o objetivo de “enxugar a máquina” a Fundação EDUCAR fechou as portas, passando tais responsabilidades de educação básica aos Estados e Municípios. (LOPES e SOUSA, 2005)

Paralelamente, em 1971, são criados os Centros de Estudos Supletivos em todo o País, com a proposta de ser um modelo de educação do futuro, atendendo às necessidades de uma sociedade em processo de modernização. O objetivo era escolarizar um grande número de pessoas, mediante um baixo custo operacional, satisfazendo às necessidades de um mercado de trabalho competitivo, com exigência de escolarização cada vez maior. (LOPES e SOUSA, 2005).

No ano de 2003, no então governo de Lula, é criado o Programa Brasil Alfabetizado, que tinha os mesmos objetivos  que os anteriores, mas que teria duração de quatro anos.

Outros fatores que contribuem para o fracasso desses projetos são a falta de estrutura nos locais onde são oferecidas as aulas, falta de escolas no campo, falta de transporte coletivo, necessidade de trabalhar para auxiliar no sustento familiar,  falta de profissionais específicos  da educação nesses projetos, pois em muitos casos, os professores são pessoas que concluíram somente o ensino médio.

Ainda nos referindo a infraestrutura das escolas rurais, estudos do IPEA  de 2007 apontavam que no período entre 1997 a 2005,  das 4.224  escolas sem fornecimento de água potável, mais de  92 % estavam na zona rural;    25.981 i escolas não possuía saneamento básico e destas, 98,7% da zona rural;  No ano de 2011, ainda segundo dados do IPEA, a área rural detinha 98,1% das escolas sem esgoto sanitário e 99,6% das sem energia elétrica. Apenas em termos de abastecimento de água a situação piorou, aumentando em 85% o número de escolas sem esse atendimento, das quais 97,9% eram estabelecimentos rurais. (CUNHA, 2012)

Todos os Projetos têm o objetivo de diminuir ou erradicar o analfabetismo no país, compromisso assumido pelo Brasil em diversas ocasiões e documentos, mas o maior descaso é com a educação. A Educação é que em muitos caos, é quem sofre com tais projetos mal elaborados, mal planejados e que em muitos casos não chega a seu objetivo final. Diminuir o numero de pessoas que não sabem “desenhar” o nome próprio, não quer dizer que o mesmo esteja alfabetizado. Um indivíduo que sabe ler, mas não entende o que lê, não muda em muita coisa na prática do seu dia a dia. Quantidade sem qualidade não resolve o problema social da falta de letrados.

O que observamos é que embora haja um desejo por  parte dos nossos governantes em erradicar o analfabetismo, ainda há toda uma questão político-social que envolve o tema. Daí nós nos perguntamos, realmente se tal desejo é real ou simples idéias ou projetos politiqueiros.

FILME:  O BEM COMUM

O filme é uma produção do Programa Globo Ecologia, do ano de 2010, da Rede Globo de TV em questão nos trás a realidade das cidades no coração do estado do Amazonas, nas cidades de Jutaí, a época, uma cidade ás margens do rio Solimões com 27 mil habitantes, cem comunidades riberinhas, sendo  todos dependentes da pesca do Pirarucu, que já teve seu período de fartura e atualmente encontra-se escasso.

A abordagem inicial se dá na comunidade chamada Pinheiro de Baixo, que foi praticamente abandonada devido o fraco movimento da pesca. A população então migrou para cidades vizinhas.

A comunidade de Acapori de Baixo deu a volta por cima, graças ao MEB, a comunidade que tinha cerca de 90% de sua população analfabeta no início da implantação do Projeto, em 1984. Com isso, parte da população migrava para Jutaí, que, não tendo condições de suportar o aumento repentino de sua população, passou a apresentar problemas sociais comuns a outras cidades, como prostituição, roubos, furtos e  violência.

Inicialmente o MEB preocupou-se em organizar e unir as comunidades em prol de melhorias locais, como energia elétrica, escolas, postos de saúde, etc. No ano de 1988, a pesca já estava em período critico graças à pesca predatória e indiscriminada dos peixes do rio Solimões, o que levou o IBAMA a proibir sua pesca. A população então decide fechar os  lagos por cinco anos, mesmo sem o apoio de todos, que não entendiam corretamente os motivos para tal atitude.  Durante esse período, a população viveu de pesca de outros pequenos peixes e da agricultura, sempre apoiados por lideres regionais. Após cinco anos sem que nenhum pescador pescasse o pirarucu, o rio novamente se encheu de peixes, que levou a população a se unir mais ainda em torno de um novo objetivo, desta vez, para liberar a pesca do pirarucu.

A contagem dos peixes virou pesquisa científica e o plano de manejo foi colocado em prática. O Ibama permitiu a pesca do pirarucu com tamanho igual ou superior a um metro e meio, e  que somente trinta por cento da quantidade de peixes nos  lagos monitorados poderia ser capturada naquele ano. O plano de manejo era dividido em três fases: Procriação, área protegida que não pode haver captura de peixes; Manejo: local onde os peixes se desenvolveram e cresceram e terá a pesca sob orientação:  Manutenção: Local utilizado para a pesca pela comunidade.

Em 2000 o MEB, que foi quem sempre deu apoio a este Projeto de Manejo à pesca do Pirarucu,  deixa de atuar na região, mas deixou raízes e a comunidade se organizou com ajuda de sindicatos, associação de moradores e deu continuidade ao projeto.

Durante a pesca do Pirarucu, é importante frisar a participação dos mais jovens. Eles observam os procedimentos dos pescares mais velhos, com intuito de aprender as lições do oficio.

Com a ajuda do Projeto de Manejo, os pescadores afirmam que levam uma vida melhor, pois a pesca ficou mais atraente e lucrativa, proporcionando melhor qualidade de vida àquela população.

Com ajuda do MEB, a população pode entender que toda matéria prima pode vir a acabar, se não houver uma forma de preservação e que o aumento de produtividade não precisa passar pela destruição ambiental, nem pelo desaparecimento da espécie. Basta que novos valores sejam levados em conta. Sabemos hoje que os recursos naturais são limitados e que em breve, nossas reservas mundiais de água potável, recursos minerais e energéticos, como o petróleo por  exemplo, terminarão. (FERNANDEZ, 2013 )

De acordo ainda com Fernandez, o governo, que gastou, entre 2003 e meados de 2005, um total de R$ 330 milhões para alfabetizar 3,4 milhões de adultos, por meio do programa Brasil Alfabetizado

Através do incentivo a essas atitudes, o Brasil continua perdendo a chance de fazer a diferença num mundo globalizado. Fica à mercê de políticos e empresários desonestos, que utilizam a ignorância das massas em proveito próprio, como estamos cansados de ler, ouvir e ver nos noticiários. (FERNANDEZ, 2013)

Segundo Rodrigues (...) o  analfabetismo é a expressão da pobreza, conseqüência inevitável de uma estrutura social injusta e excludente. É ingênuo tentar superá-lo sem combater suas causas. Sendo assim, boa parte da população retratada nos filmes em questão vive ou viveram em estado de extrema pobreza e não coincidente, baixa escolaridade.

É urgente a presença de educadores criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. Que lutem lado a lado pela causa dos educandos a partir do conhecimento das condições de vida do analfabeto, como o salário, o emprego, a moradia, suas  Histórias, suas lutas, organização, conhecimento, habilidades, enfim, só assim podemos falar realmente de saber ensinando, em que o objeto ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos. (RODRIGUES)

CONCLUSÃO:

            O tema abordado nos filmes é o analfabetismo e as condições em que vivem as pessoas retratadas. Em ambos é possível observar primeiramente que a educação básica, ou a falta dela, é um dos agravantes para as condições sanitárias, de saúde, de pobreza citadas nas duas obras.

            Mas o foco maior se dá para o momento em que os mesmos passaram a ter conhecimento, em relação à cultura, sociedade, aprendizado. E como após a entrada dessas pessoas nos Projetos voltados para a Educação, o quanto as coisas começaram a mudar. Mudaram suas concepções de vida, mudaram a maneira como levavam e como levam as suas vidas, a partir do momento que  deixaram de ser analfabetos e passaram a ler e assinar os seus próprios nomes, mesmo que ainda apresentando muitas dificuldades.

            Para eles, deixar de ser “analfabeto” e “saber assinar “ o próprio nome já motivo de orgulho, de ser mais um brasileiro que sai do grande grupo que, mesmo com dificuldade, mas “já assina o nome” e já não são mais chamados de analfabetos. Conhecem as letras, já fazem leitura e jaó não se sente mais um “estrangeiro” no próprio país.

            Sabemos que ainda há muito a se plantar nessa seara, mas o terreno deve ser bem preparado antes de jogar as sementes. Antes de iniciar projetos políticos e eleitoreiros, valeria à pena, investir na infra-estrutura, na rede básica tanto de saúde como de educação; valeria a pena investir na escola que tenha condições de receber tanto os alunos, assim como os professore. Vale a pena investir na formação de professores, capacitados e comprometidos com a causa, não somente pelo “amor à causa”, pelo deseja de querer um país melhor, mas que os professores tenham boas condições de realizarem seus ofícios com dignidade, com condições próprias e assim alcançarem um bom resultado esperado.

            Como o Brasil é um país continental, sabemos que a distância dos grandes centros é um dos fatores de complexidade para que a educação não chegue até a população das zonas do interior e pequenos municípios, mas é sabido que há falta de vontade política em alfabetizar a população das zonas rurais, por esse nosso “Brasilzão”

            A falta de projetos que tenham continuidade é outro fator que devemos levar em conta. Muitos Projetos têm vida curta, sejam por falta de estrutura física, seja por falta de mão do ora especializada (professores ou mesmo profissionais da educação), como citado acima.

            O trabalho infantil, a necessidade de ajudar financeiramente os pais,  nos campos de lavoura, acabam por tirar crianças e jovens da escola.  A falta de exemplo dentro de casa, a não conscientização de que ser alfabetizado é importante até para melhorar a produção rural. Todo esse conjunto de fatores contribui para a evasão escolar. Assim como a repetência, também acaba pro desestimular a criança e/ou o jovem a manter-se na escola.

            Como profissional da educação, creio que alfabetizar uma criança é muito mais eficiente, do que alfabetizar um adulto, pois, em muitos casos, os próprios adultos já se habituaram a “somente desenhar o nome”, pois cria-se uma falsa impressão de não ser analfabeto, pois como já citamos , ele não “assina” com o “carimbo do dedão”, e não se considera analfabeto.

            Esperamos que muito em breve, possamos erradicar de uma vez por todas essa chaga que entristece o país, com seus milhões de analfabetos e analfabetos funcionais. Esperamos que os governos cumpram, cada um nas suas competências, aquilo que compete a cada um.

            Somente a educação poderá melhorar a qualidade de vida do cidadão, seja ele da cidade, seja ele do campo. É a educação que irá mudar a qualidade de vida desse sujeito e conseqüentemente, mudar a situação do país.

REFERÊNCIAS

LOPES, S. P., SOUSA, L. S., EJA: Uma educação possível ou mera utopia? 2005. Disponível em: http://www.cereja.org.br/pdf/revista_v/revista_selvaplopes.pdf. Acesso: 19/10/2013.

BARROS, J. Analfabetismo no Brasil. Disponível em: http://educador.brasilescola.com/politica-educacional/analfabetismo-no-brasil.htm

RITTO, C. Educação – o Brasil ganha 300 mil analfabetos em apenas um ano. Revista Veja, 27/09/2013. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/brasil-ganha-300000-analfabetos-em-apenas-um-ano  Acesso em 12/10/2013.

NAOE, A. Analfabetismo no Brasil evidencia desigualdades sociais históricas. Com Ciência – Revista Eletrônica Jornalismo Científico. 10/02/2012. Disponível em: http://comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=74&id=923  Acesso em: 12/10/2013.

FERNANDEZ, H. M. A EJA e sua participação no crescimento da produtividade brasileira.  Revista Brasil Escola. Disponível em:  http://www.brasilescola.com/economia/a-eja-sua-participacao-no-crescimento-produtividade-.htm   Acesso: 20/10/2013.

RODRIGUES, E. F., EJA e Economia Solidária: Um diálogo entre os princípios da ECOSOL e a prática da Educação Popular. Dissertação de Mestrado em Educação; Universidade Federal do ABC. Disponível em: http://proex.ufabc.edu.br/ejaecosol/eja-e-economia-solidaria-um-dialogo-entre-os-principios-da-ecosol-e-a-pratica-da-educacao-popular/ Acesso em: 30/10/13.