RESUMO COMENTADO DO CAPÍTULO IV – OS PAIS FUNDADORES DA ETNOGRAFIA DO LIVRO APRENDER ANTROPOLOGIA

Ozinei dos Santos Chaves1

Para melhor compreensão do tema em questão, levando em consideração que neste capítulo não há uma definição técnica do termo “etnografia”, preocupou-se primeiramente em destacar o conceito, a etimologia, o campo e o objeto de estudo da etnografia, segundo as ideias de dois autores abaixo destacados.

Segundo Marconi e Presotto (2009, P.5), a etnografia faz parte da Antropologia Cultural, campo mais amplo da ciência antropológica. Etimologicamente origina-se do grego (éthnos, povo; grafhein, escrever), consiste em um dos ramos da ciência cultural que preocupa com a descrição das sociedades humanas. Seu objeto de estudo centra-se nas culturas simples, conhecidas como “primitivas ou ágrafas”.

De acordo com Laplatine (2007, p.75), a Etnografia propriamente dita só começa a existir do momento no qual se percebe que o pesquisador deve ele mesmo efetuar no campo sua própria pesquisa, e que esse trabalho de observação direta é parte integrante da pesquisa. Diante disso, Laplatine retrata que a revolução ocorrida nessa disciplina, põe em fim à repartição das tarefas, que eram dividas entre o observador e o pesquisador, e com essa mudança, ocorre um estudo radicalmente diferente do que era. Agora o pesquisador deixa de receber e passa a buscar de forma direta e compartilhada a informação, vivendo e convivendo, falando e pensando a língua do povo estudado, caracterizando uma verdadeira etnografia profissional.

A partir dessas abordagens iniciais, é possível destacar a importância de dois pesquisadores que contribuíram para a elaboração da Etnografia. Dentre eles, observa-se Franz Boas, americano de origem alemã. As palavras-chave de seu trabalho são: história, língua, cultura e descrição; reafirma que a língua é a porta de entrada da cultura; busca as causas históricas (lendas), tentando remontar à micro história. Suas pesquisas eram conduzidas de um ponto de vista microssociológico2. Ele ensina que tudo deve ser anotado e objeto de descrição, considera que não há objeto nobre nem objeto indigno da ciência, anunciando assim, a constituição da “Etnociencias3”.

Independentemente de sua contribuição, tornou-se praticamente desconhecido e isso se deve por duas razoes: nunca escreveu nenhum livro destinado ao público erudito; nunca formulou uma verdadeira teoria. De qualquer modo, ele foi um dos primeiros etnógrafos, pelo fato de sua preocupação de precisão na descrição dos fatos observados.

Nesse contexto destaca-se a figura de Bronislaw Malinowski, polonês naturalizado inglês, dominou a cena antropológica d 1922. Foi um dos primeiros a viver com as populações que estudava e a recolher seus materiais de seus idiomas. Considera que numa sociedade deve ser estudada enquanto uma totalidade. Com ele, a antropologia se tornou uma ciência da alteridade4 que vira as costas ao evolucionismo, e se dedica ao estudo das particularidades de cada cultura. O trabalho dele mostrou que: “a partir de um único costume, ou mesmo de um único objeto (por exemplo, a canoa trobriandesa) aparentemente muito simples, aparece o perfil do conjunto da sociedade”.

Ele elaborou a teoria (o funcionalismo5), dizendo que uma sociedade funciona como um organismo, com seu próprio fundamento e cada cultura tem como função a de satisfazer à sua maneira essas necessidades fundamentais.

Outra contribuição foi o de abrir as fronteiras disciplinares, devendo o homem ser estudado através da tripla articulação do social, do psicológico e do biológico; fez da observação participante uma participação psicológica do pesquisador. Nesse sentido, ensinou não apenas o olhar, mas a escrever, restituindo às cenas da vida cotidiana seu relevo e sua cor através da relação e da experiência pessoal. Mostrando com isso, uma das grandes qualidades, a faculdade de restituição da existência.

Considerando as informações mencionadas, conclui-se que tanto Boas quanto Malinowski contribuíram para a consolidação da etnografia, com disciplina do diálogo, do convívio, do compartilhamento e da investigação social por descrição. Portanto, foram eles que deram o ponta pé inicial para o fortalecimento desse campo de estudo antropológico, proporcionado uma mudança radical no ponto de vista da pesquisa, fazendo do pesquisador passivo a um agente ativo, sujeito de sua própria prática.

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1 É graduando do Curso de Pedagogia da UNICEL – Faculdade Literatus da cidade de Manaus – AM. Email: [email protected].

2 Estudo das relações intergrupais, dos padrões abrangentes de organização social e da estrutura social, da comunidade e da sociedade.

3 Estuda o conhecimento das populações sobre os processos naturais, tentando descobrir o conhecimento humano acerca do mundo natural

4 É concepção que parte do pressuposto básico de que todo homem social interage e interdepende do outro.

5 É o ramo da Antropologia e das Ciências sociais que procura explicar os aspectos da sociedade em termos de funções realizadas por instituições e suas consequências para sociedade como um todo. O funcionalismo foi uma das teorias antropológicas do século XX, até se superada pela Análise Estrutura-funcional ou Estrutural-funcionalismo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LAPLATINE, François. Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense, 2007.

MARCONI, Maria de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia. 7.ed. São Paulo: Atlas, 2009.