Ressonâncias de um passado.

 

Apenas um costume.

Um estilo de vida.

Natural.

Secreto.

Habituei-me.

O habito.

Naturalmente.

Transformou em cultura.

Não tive outra saída.

 Faltou-me reassunção.

Como se fosse rebanho.

Reboco reativo.

Tardiamente.

Recidiva ao tempo.

O mundo teria que ser dessa forma.

Polimorfo.

 

 

Acostumei-me.

Um dia era Fernando.

Outro um imitador.

Não tinha perspectiva.

Um mundo inexcedível.

O sol brilhava.

A terra girava.

 O fenômeno da noite.

O movimento das estrelas.

Tantos universos paralelos.

Onde ficavam as essências.

Imaginárias.

Platônicas.

 

Quem era a minha pessoa.

Nunca pude saber desse fato.

A exuberância.

A minha especulação.

Metafísica.

Até sabia da origem.

De onde tudo iniciou.

Mas para onde vou.

É uma incógnita.

Refiro a metafísica.

Pelo menos parcialmente.

A inexorabilidade do destino.

Metaforicamente.

Diria um segredo.

Mas sei a lógica do medo.

O pavor da misericórdia.

A imaginação dos deuses.

A escuridão da noite.  

 

 

 Mudei-me.

Naturalmente.

Na forma em que sou.

Sem saber das diferenças.

Esse mundo ingrato.

Mesmo sendo bom.

Tudo é errado.

Até o mesmo caminho da fluência.

Mas o medo indelével.

De saber a verdade.

O que é a verdade.

Apenas o não ser.

A inexistência.

O mundo é essa lógica.

Imperceptível.

A vida a ausência de tudo.

Ate mesmo da sua realização.

 

 

Estou aqui

Porque tive que estar.

Mas estou fluindo.

Estou  indo.

Tenho  que ir.

Não existe outro caminho.

A única coisa que sei.

É que não sou.

O resto é ilusão.

Um velho poeta.

Metafórico.

Perdido imensamente em uma trilha.

A única razoável para a reflexão.  

 

Antes de ir.

Estou despedindo da natureza.

Das pedras.

Das arvores.

Dos velhos riachos de minas gerais.

Da cidade de Itapagipe.

É que a vida é uma partida permanente.

O tempo uma ilusão da existência.

Deixamos de ser.

Assim que originou a primeira partícula.

De átomo, feita de gelo.

E que perdeu indefinidamente no universo.

Somos ainda resquício dessa partícula.

 

Quanto a mim.

Sou o que sou.

Mas o que sou.

É a mesma coisa.

 Do seu ser.

Talvez a diferença.

Que tenho sido.

Muitos outros.

A maioria deles.

Já morreu.

Engraçado um deles.

Restou em mim.

Ainda estou aqui.

Luto para ser eu mesmo.

Mas isso é impossível.

Tanto idiossincrasia.

Solitariamente.

 Ainda tenho que dizer.

Possivelmente.

Virão outros.

Exatamente por esse motivo.

Nem mesmo nome.

 Posso  ter.

Apenas rosto e a linguagem.

 

O mundo é a repetição.

De ideologias.

Sem sentido.

Algumas completamente loucas.

Entretanto tidas como normais.

Uma delas.

Imaginar Deus.

A outra que o homem tem uma alma.

O homem não tem nada.

É um invólucro comum.

Sem diferença de um cabrito.

É inútil insistir.

Como se fôssemos especiais.

Não existe nada de especial no universo.

A não ser tão somente ele.  

Ele é lindo.

Ruim é o que está nele.

Que forma ele.

Composto de gente imbecil.

Mas eles não se sentem idiotas.

Porque o idiota não se percebe.

É igual a um boi pastando o campo.

 

Já tive a oportunidade.

De sentar em um trilho.

Ficar uma tarde e uma parte da noite.

Olhando intensamente para a natureza.

Sentido cada movimento.

Como tudo isso é lindo.

E como tudo nasceu sozinho.

Do nada.

Sem uma fonte criadora.

Afirmo aqui nesse poema.

 Com absoluta certeza.

Garanto essa verdade.

Deus não existe.

Não existe céu e nem inferno.

Não existe nenhuma forma condenatória.

Você é totalmente livre.

Pode fazer o que for bom para você.

Desde que não faça mal a outros.

Viva a sua vida.

A única vida que você tem para viver.

 

Após esgotar a sua vida.

Você será apenas um fluido de pó.

Sem nenhum vício a não ser o químico.

Antes você deixara de ser.

E vai deixando sem perceber.

Perdendo a si próprio.

Igual a uma estrela quando queima.

Seu hidrogênio.

E transforma num buraco negro.

Esperando a natureza toda.

Transformar no mesmo buraco.

E nós também transformaremos.

Durante milhões e milhões de anos.

Esperamos novas concentrações.

De energias.

Para surgir outras implosões.

Na espera de novos mundos.

Quem sabe um deles.

Possa ter vida.

Exatamente como a nossa.

O homo desenvolvendo a linguagem.

Deixando de ser apenas um primata.

Mais isso levará muito tempo.

Então aproveite a vida agora.

Esqueçam-se dos deuses.

Livram-se dos políticos.

Dos juízes e da polícia.

Também dos síndicos de prédio.

Dos comerciantes.

Possivelmente também.

Dos pastores.

Das ideologias.

Sejam em vossos interiores.

Livres.

Para vocês mesmos.

 

Façam  tudo o que devam fazer.

Até a vida esgotar se.

Serás depois eternamente.

Um resquício de pó químico.

Perdido no vácuo.

Sem lei de gravidade.

Girando para todas as direções.

Grudados em outras partículas.

Esperando o acúmulo de energias.

Na esperançado universo renascer.

Mas você mesmo nunca mais poderá ser.

A não ser essa partícula perdidamente.

Grudada em tudo.

Então viva a única vida que teve a sorte de ter.

E não culpe ninguém a não serem os políticos.

 

 

Edjar Dias de Vasconcelos.