Ressignificando a Prática Pedagógica: conhecer para intervir 

Francisca Nildene Nogueira1 

Os desafios que se impõem ao campo educacional são variados e complexos. Visto que, a educação vem passando por constantes transformações ao longo dos anos, exigindo cada vez mais de seus atores uma postura consciente de pensar e fazer educação.

Isso nos leva a refletir sobre as práticas pedagógicas que estão imbuídas nesse contexto, do descompasso em que há entre o discurso e o ato pedagógico, uma vez que hoje não faz sentido, e nunca fez, agir sem um conhecimento teórico e prático da ação pedagógica, pois este orienta toda prática educativa.

Agir na prática educativa (tal como em qualquer outra prática) com consciência clara da teoria que sustenta nossa ação nos dá força, pois dessa forma não só temos ciência do que queremos, mas também sabemos para onde estamos querendo caminhar e como queremos caminhar para lá, o que implica ter clareza dos fins que desejamos atingir (nossos objetivos filosófico-políticos) e da metodologia que vamos utilizar para chegar aos resultados desejados. (LUCKESI, 2011, p. 62)

 

Assim, frisamos a necessidade de ter clara a teoria epistemológica que embasa toda a ação pedagógica, já que nenhuma prática é neutra, estando consciente ou não, toda ação pedagógica está atrelada a uma concepção teórica, sobre o que é a aprendizagem, o que é ensinar.

Partindo desse pressuposto, a teoria epistemológica que fundamenta toda ação da proposta didática, na qual compreende o sujeito como ser biológico e histórico é a teoria socioconstrutivista, em que tem como principal precursor Vygotsky. Essa teoria pressupõe uma concepção de sujeito ativo e capaz de construir seu próprio conhecimento na interação com o objeto de conhecimento e, principalmente, com as pessoas, as linguagens e a cultura.

Nesse sentido, na escola a aprendizagem se dá através da interação da criança com o professor, com os colegas e com os materiais pedagógicos. Conforme Simonetti (2005), o conhecimento surge da ação, da experimentação incidindo sempre a uma ação mental/prática, em que os conteúdos escolares surgem de uma intenção pedagógica, ou seja, das atividades didáticas planejadas e sistematizadas pelo professor. Portanto, na escola as crianças aprendem de forma ativa e mediada pela intervenção didática do professor.

Vale frisar que, o professor sendo o mediador dessa relação pedagógica deverá conhecer as reais necessidades didáticas e a heterogeneidade de aprendizagem de seus alunos, desejando que eles aprendam. Luckesi (2011), ressalta que se o professor estiver desejoso que seus alunos aprendam, seus alunos aprenderão porque investirá neles criando as condições necessárias. A prática pedagógica estará focada no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, possibilitando aos mesmos, atividades contextualizadas, desafiadoras e significativas que os façam superar e criar novos saberes.

Desse modo, Vygostsky evidencia a importância do papel do outro social na interação, trazendo à tona um conceito de sua teoria nas relações entre o desenvolvimento e o aprendizado, a ideia de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). É de suma importância o professor entender desse conceito para melhor mediar e intervir pedagogicamente. Simonetti (2005), nos esclarece que,

Para Vygotsky, ZDP é um espaço que separa o conhecimento atual (CA) do conhecimento potencial (CP), isto é, do conhecimento possível de alcançar. Dizendo de outra forma, ZDP é a distância entre o que a criança sabe no momento e o que potencialmente poderá saber com a ajuda da professora, dos colegas, da família. Por exemplo, num certo momento uma criança escreve silabicamente, mas potencialmente ela pode chegar à escrita alfabética. Nesse caso a ZDP é essa distância entre a escrita silábica (CA) e a alfabética (CP).

É essencial que a professora identifique os conhecimentos prévios das crianças, esteja consciente do que elas sabem no momento (CA) para poder atuar com intencionalidade pedagógica na ZDP. A professora deve ser capaz de identificar o delicado momento em que a criança está apta a dar um passo à frente no seu processo de aprendizagem, encurtando a ZDP, isto é, diminuindo a distância entre o CA e o CP. (SIMONETTI, 2005, p. 47) 

Portanto, o papel da escola será proporcionar o desenvolvimento de atividades desafiadoras que estimulem os alunos a atuarem na construção de zonas de desenvolvimento proximal, sendo a intervenção do professor uma ação didática efetiva na qual, objetiva alcançar avanços na aprendizagem que não ocorreriam de maneira espontânea.

Diante do exposto, o planejamento das ações a serem desenvolvidas é imprescindível, pois é a base para uma ação sistemática. Segundo Barbosa (2006, p. 61), planejar é analisar uma dada realidade, refletindo sobre as condições existentes, e prever as formas alternativas da ação para superar as dificuldades ou alcançar objetivos desejados.

Partindo dessa reflexão, evidencia o papel da investigação, do conhecer como algo relevante para a atuação e intervenção eficientes com o intuito de viabilizar resultados satisfatórios, ou seja, cumprir o objetivo da escola: a aprendizagem de todos os alunos.

Esse é um desafio que deve ser superado a cada dia. É salutar ressignificar a prática pedagógica para que de fato se concretize o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. Cabe a escola, aos professores, oportunizar as crianças viver desafiadoras situações significativas de vida, acreditando nas capacidades delas superar os desafios que lhes são propostos. Então, escola e aluno juntos estarão imbuídos num processo de ensino e aprendizagem rico no aprender e também no ensinar. 

REFERÊNCIAS 

BARBOSA, Jane Rangel Alves. Didática do ensino superior. Curitiba: IESDE, 2006.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem: Componente do Ato Pedagógico. São Paulo: Cortez, 2011.

SIMONETTI, Amália. O desafio de Alfabetizar e Letrar. Fortaleza: Edições Livro Técnico, 2005.

1. Especialização em Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos (Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ) e Gestão Escolar (Universidade Federal do Ceará – UFC).  Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará –UECE e em Letras pela Faculdade do Vale do Jaguaribe-FVJ.