O objetivo deste artigo é o de introduzir um pouco das relações políticas do século XXI, que, somadas a grande falta de participações das massas para sua construção constituem um caos de amplitude global ao sistema político brasileiro. Para a grande massa deste país, a política é um tema desinteressante, chato, ligado intimamente aos chamados colarinhos brancos, sempre traiçoeiros e na face de quem nunca mais olhará para trás, quando, em uma época muito longínqua dependeu de seus conterrâneos para ser eleito. Mas em épocas de mensalões, sanguessugas e cuecas cheias de dinheiro a voz do povo foi ouvida, apenas quando foi ferido. Certa vez disse um homem: o homem de bem pode ter toda a sua família morta, a tristeza vem e passa. Mas se este homem tiver seu patrimônio violado buscará a vingança.

Antes de tudo, é preciso desmistificar a política como um campo que pertence somente aos políticos, a política está no nosso dia-a-dia, nas relações interpessoais, no comercio, na padaria, na farmácia em todos os lugares onde existem pessoas a política está presente. Mas a grande falta de participação popular na mesma é que está pesando no fardo brasileiro. A luta pela interpretação das diversas lacunas que se formam na política brasileira aumenta mais cada dia que passa, mas se a interpretação não pode nunca acabar, isto quer simplesmente significar que não há nada a interpretar.

Não há nada absolutamente primário a interpretar, por que, no fundo, tudo é interpretação, cada símbolo é em si mesmo não a coisa que se oferece à interpretação, mas a interpretação de outros símbolos (Foucault, 1987, p. 22) aquilo que elegemos como uma questão a ser avaliada está lá, engendrada no existente, mas algo ao qual manifestamos a ação de conhecê-la para poder modificá-la. Isto é possível a medida que nos despimos de uma roupagem de conformismo e passamos a conhecer o campo de forças ao qual a política está envolvida. Os acontecimentos não são somente furto deste campo, mas está intimamente ligado a sua produção.

Um processo cíclico que é produzido por alguns fatores: O imaginário popular que diz que todos os políticos são corruptos, amparados por esta afirmação eles se vêem em meio a um oceano de possibilidades, que acompanhados por seus compatriotas formam as quadrilhas de corrupção; a impunidade do sistema judiciário brasileiro, que oferece penas mínimas a crimes considerados hediondos, ao mesmo tempo em que prevê privilégios aos que possuem formação superior; a supervalorização da propriedade privada que incide em classes média e baixa, aqueles que possuem bens de valor não desejam perdê-los, aqueles que não os possuem fazem de tudo para obtê-los; a cultura capitalista na qual é melhor quem possui mais e em que as relações interpessoais são desvalorizadas, imediatas e impessoais. Quais os rumos de nosso país? O que fazer com a crescente violência de abandona os centros urbanos e avança em direção aos interiores? Quais os caminhos da modernidade nas relações humanas? São perguntas que tiram noites de sono de grandes cientistas.

Mas enquanto não juntarmos forças para entender (e, conseqüentemente descristalizar) o campo de forças no qual é formado o universo político brasileiro, estaremos sempre à mercê destas e de outras aberrações sociais, tais como meninas sendo atingidas por balas perdidas ou crianças sendo arrastadas por bandido sobre quilômetros de asfalto. Não, enquanto o povo brasileiro deixar de ser acomodado estes acontecimentos passarão a fazer parte do retrato do nosso país, não como país do terceiro mundo, e sim de um país que se deixou dominar por duas mil pessoas de ternos finos e vestidos longos. Que nossas crianças nos perdoem.   

Dedico ao pequeno Hélio e a corajosa Priscila, crianças inocentes vítimas do descaso do povo brasileiro.

Referências:

FOURCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Tradução de Roberto C. M. Machado e Eduardo J. Moraes, Rio de Janeiro Rj, Ed. Nau, 1996.

Nietzsche, Freud e Marx Theatrum Philosoficum.Tradução de Jorge Lima Barreto, São Paulo, SP, Ed. princípio, 1987.

Vigiar e Punir. Tradução de Lígia Ponde Vassalo. Petrópolis, Ed. Vozes, 1987b.