Cléia Rení Fortes Jagmin *

            A pedagoga Maira Lamaison (ZH de 15/01) foi extremamente feliz em suas colocações sobre a responsabilidade da família sobre a atual situação da educação brasileira. Pais são os primeiros e principais modelos para as crianças. Deles deveria vir afeto, estímulo, segurança, respeito, orientação, proteção, esperança, além da promoção das necessidades básicas da prole.

            Porém quero mostrar que muitos pais, assim como os professores, na grande maioria das vezes, não são culpados.

            Tais pais deviam ter recebido de seus pais o mesmo, quando criança. Mas, na sociedade atual, cada geração tem recebido menos do que a anterior. Não porque não amem seus filhos, mas porque a vida tem exigido que cada vez mais “malabarismos” sejam necessários para que os brasileiros sobrevivam. Falta emprego, falta moradia, os salários são baixos, para trabalhar, os casais (quando vivem com os filhos), precisam deixá-los uns cuidando dos outros, ou em creches que mais são depósitos de crianças, pois hoje o casal precisa trabalhar.

             Muitas famílias são incompletas, as mães, geralmente assumem a responsabilidade de cuidar dos filhos quando os casais separam. Sem ter casa para dividir, pois famílias pobres não têm como adquirir uma moradia, mãe, filhos e até netos (adolescentes tem filhos cada vez mais cedo) vão morar com a família da mãe (ou na casa de outros parentes).

            Falta dinheiro para ter um espaço para morar com os filhos, para tentar reestruturar a vida familiar. Os que conseguem adquirir uma casinha afastam-se cada vez mais dos centros dos bairros e vão viver em vilas periféricas, em áreas verdes, quase anônimos, pois nem endereços específicos podem ter.

             Em gerações anteriores, (anos sessenta/setenta) a mãe cuidava dos filhos, olhava seus cadernos, ajudava nos temas, ou, no mínimo, organizava a rotina diária, abrindo espaço para o “tema de casa”.

            Ela preparava as refeições, cuidava da higiene, dos filhos e da casa, tinha tempo de ir à escola, falava com os professores, conhecia os colegas dos filhos. O pai tinha trabalho, tinha horário para retornar. Ninguém precisava ganhar Bolsa Família, nem era “obrigado” a ir, para não perder a BF. O salário cobria os gastos. Estudar e saber eram direito de cada criança e os pais zelavam por ele.

            Atualmente, as famílias também estão desamparadas quanto aos cuidados com a saúde. Para consultar precisam tirar ficha, chegar cedo ao Posto, esperar horas por atendimento, perder um tempo de trabalho que muitos patrões não aceitam. Se houver uma doença mais séria, as esperas para consulta ou para internação são normalmente de dias, podendo chegar até anos.

            Será que os PROFESSORES e as FAMÌLIAS conseguem superar tantas carências que as crianças estão enfrentando. Não acham que está na hora de enfrentar a realidade de frente e ver que precisamos de medidas urgentes de respeito ao povo do País.

            Países que estão se desenvolvendo (realmente), colocam a educação como prioridade e utilizam leis severas para quem fere os direitos humanos.

  • Pedagoga/Orientadora da Rede Estadual