A leitura de "Nações e nacionalismo" pode, a princípio, causar certa estranheza, pois trata-se de uma obra de sistematização, Hobsbawm concentrou em seu livro o conteúdo proferido em quatro Conferências de Wiles que aconteceram na "Universidade de Queen, em Belfast, em maio de 1985". Ele faz uma discussão sobre a questão nacional que segundo suas palavras "é, notoriamente, um tema controverso" (pág. 10). E ele não procurou fazê-lo menos controverso.
O autor organizou seu livro em cinco capítulos, nos três primeiros destaca conceitos sobre nação, fazendo uma abordagem deste em vários países e entre vários autores, que ele utiliza como fonte, que produziram discursos na época como Walter Bagehot, John Stuart Mill e Erneste Renan. Segue discorrendo sobre o conceito de protonacionalismo popular, dando importância ao fato de como homens e mulheres comuns sentiam-se a respeito da nacionalidade, e por fim como o Estado administrativo moderno ajudou a patrocinar a emergência do nacionalismo. Nos outros três capítulos, expõe as transformações do conceito, chegando ao apogeu em 1918-1950 e por fim um balanço do nacionalismo no final do século XX.
Em sua bibliografia e autores de época que ele utiliza, faz uma crítica a autores que fizeram um estudo acadêmico do nacionalismo, após a Primeira Guerra, como Carleton B. Hayes e Hans, pois estariam perneados da atração de escrever sobre o assunto no momento de redesenhamento da Europa. Na introdução, Hobsbawm, seleciona uma lista de autores e obras que considera fundamental para a introdução sobre o tema, cita os trabalhos de Hroch, Benedict Anderson, A. D. Smith entre outros, todos concentrando-se na pergunta: "O que é uma nação?" (pág. 14).
Tendo como ponto de partida a abordagem que concede atenção particular as transformações do conceito, o autor delimita sua posição. Utiliza o terno nacionalismo como fundamental para o sustento da unidade política e nacional; a nação não vem antes do Estado e do nacionalismo, estes é que geram a nação; a questão nacional está ligada aos estágios econômicos e tecnológicos; utiliza um princípio de dualidade, o alto como o governo, os ativistas dos movimentos nacionalistas, e o do baixo, as pessoas comuns, que são envolvidas em propagandas; e por ultimo ele segue a divisão que Hroch faz dos movimentos nacionais: fase A ? puramente cultural, fase B ? política, e fase C ? sustentação de massa.
Hobsbawm utiliza o conceito de nação no sentido moderno a "característica básica da nação moderna e de tudo o que a ela está ligado é a sua modernidade" (pág. 27). Também leva em consideração que o governo, antes de 1884, não estava ligado ao conceito de nação, como mais tarde irá estabelecer-se. Assim o autor estabelece um marco, a partir da Era das Revoluções (1830) que o conceito começa operar em seu discurso político e social. Assim segue reconstruindo uma teoria liberal coerente de nação, para isso utiliza os autores liberais, como John Stuart Mill e Walter Bagehot e partindo de uma crítica a Adam Smith e seu conceito simples de nação: um Estado territorial, chega a Maxr e Engels com a nação representando um estágio de desenvolvimento histórico da sociedade humana.
Além dos conceitos de nação e nacionalismo, Hobsbawm trabalha com o conceito de protonacionalismo. Busca responder como o "patriotismo nacional" tão distante da experiência da maioria dos homens "torna-se tão rápido uma força política poderosa?" (pág. 63). Cita o conceito de "comunidade imaginada" de Benedict Anderson, formas supra locais que vão além dos espaços reais como um devoção e laços e vocabulários políticos de grupos seletos: Como por exemplo ( e Hobsbawm utiliza muitos exemplos neste trabalho) "Até 1945, onde há vestígios, os que falavam dialetos germânicos, e cujas elites usavam a língua da cultura alemã; padronizada e escrita, estavam estabelecidas não em suas regiões principais da Europa central mas também como classes dirigentes e como os citadinos nos trechos de áreas camponesas por toda a Europa do leste e do sudeste (...) todos eles viam a si mesmos como alemães" (pág. 64).
Chega agora a pergunta o que constituía o protonacionalismo popular? Para responder essa pergunta o autor analisa dois itens: a linguagem e a etnicidade. Diante a linguagem as pessoas pertenciam simbolicamente a uma coletividade e diante de etnia sentiam-se pertencentes a um grupo de origem comum e de descendência. Mas sabe-se que somente isso não basta para formar os conceitos de nacionalidades e nações, pois sabe-se muito pouco sobre o que aconteceu nas mentes da maioria dos homens e mulheres principalmente dos analfabetos.
Outra questão é o governo que está diretamente ligado ao conceito de nação, é ele que cria formas burocráticas, uma máquina administrativa que envolve ao cidadãos, cria uma religião cívica e a lealdade ao Estado. Perpassa o Estado também a discussão sobre a língua oficial, mas não se pode esquecer que não é só essa questão que decide a nacionalidade, é importante distinguir entre o nacionalismo exclusivo dos estados e dos movimentos políticos de direita.
Os requisitos técnicos do Estado administrativo moderno ajudam a patrocinar a emergência do nacionalismo mas não de forma assumida por um sentimento de identificação nacional único, dentre as transformações do nacionalismo, pode ser concluído que ainda saibamos muito pouco sobre o que significa consciência nacional, pois essa aquisição não pode ser separada da aquisição de outras consciências sociais e políticas.
Hobsbawm considera os anos 1918 e 1950 como anos do apogeu do nacionalismo, pois foi o final da primeira guerra oferece uma excelente oportunidade para compreender as limitações e o potencial de nacionalidade e estado-nação. "Ele destaca que as economias nacionais têm sido questionadas por uma nova divisão internacional do trabalho que inclui organizações supranacionais acima do controle dos governos causando novos problemas relacionados a nacionalidade" .
O livro demonstra como o conceito de nação e de nacionalidade, passaram por transformações , principalmente em seu conceito moderno, uma vez que neste contexto que Eric Hobsbawm trabalha e analisa.