RESENHA

Referente ao livro: A formação da classe operária inglesa, 1: a árvore da liberdade / E. P. Thompson; tradução de Denise Bottmann. -6. ed. - São Paulo: Paz e Terra, 2011. pp.9-248.

A Trajetória e o processo de formação da classe trabalhadora na Inglaterra.

O século XX foi um período marcado por grandes mudanças no cenário político global, seguido de inúmeros avanços tecnológicos, conquistas e reviravoltas em relação ao poder, num século marcado entre a eclosão da primeira Guerra Mundial, em 1914 e o Colapso da União Soviética, em 1991. O historiador inglês Edward Palmer Thompson (1924-1993), natural de Oxford, Inglaterra, foi um importante Historiador com envolvimento prático e teórico de cinco décadas no cenário britânico e mundial. Autor de vários livros e com destaque para sua obra máxima “A Formação da Classe Operária Inglesa”. Thompson, contemporâneo de outros historiadores do chamado “Marxismo Inglês” como Eric Hobsbawn, Rodney Hilton e Christopher Hill tiveram papel marcante no partido comunista Inglês.

Em seu livro “A Formação da Classe Operária inglesa”, Thompson busca analisar a trajetória e o processo de formação da classe trabalhadora na Inglaterra entre os anos 1780 e 1832, buscando resgatar uma história produzida pelos trabalhadores, desde a sua organização através de movimentos populares, na qual os trabalhadores ingleses em sua grande parte vão sentir e perceber uma unidade em seus interesses, e assim reconhecem a necessidade de buscarem mecanismos para lutarem contra seus empregadores, até o momento no qual a classe trabalhadora se consolida como tal em um processo que envolve uma série de revoltas e motins, mas que acima de tudo revela as experiências de histórias de trabalhadores explorados.

 Para Thompson a ideia de classe está baseada num fenômeno histórico que integra uma série de fatores diferentes e visivelmente atrelados, tanto no que diz respeito à experiência como na consciência. Pois segundo Alexandra Frota em seu texto “Marxismo e Historiografia no Reino de Vitória: as contribuições de EWARD PALMER THOMPSON”, na qual Thompson evidencia que a formação da classe se dá através dos contextos das lutas históricas, nos quais homens e mulheres de uma determinada sociedade compreendem uma integração em seus interesses e experiências.

Sendo que ao traçar esse posicionamento, Thompson comprova que a luta de classe surgiu a partir do momento em que as pessoas tiveram consciência de sua exploração, e assim passaram a reivindicar os seus direitos buscando no decorrer desse processo mecanismos para se constituírem como classe propriamente dita. Pois segundo Thompson em seu texto “Algumas observações sobre classe e ‘falsa consciência”, ele explica que classe e consciência de classe são sempre o último e não o primeiro degrau de um processo histórico, na qual a ideia de classe só passa a existir através de uma luta de classe.

    Por isso Thompson questiona e critica a noção de classe reproduzida como uma categoria estática, que é defendida pelo marxismo tradicional, o qual trás uma noção de classe pré-existente, trazendo primeiro a ideia de classe, para depois ter a consciência de classe e por fim se constituir a luta de classe.

É com base nesse processo que Thompson nos mostra em seu livro que as origens do movimento operário inglês, surgiram por meio da primeira organização política de perfil operário definido da Grã-Bretanha, a Sociedade londrina de correspondência a (SLC). Pois é a partir desse momento que eles passam a se organizar através de movimentos populares dando início assim a luta de classe, na qual a sociedade Londrina deixava de ser vista apenas como uma inspiração popular radical, e passava no decorrer dos anos a ganhar forma de organizações propriamente operárias, criando assim condições necessárias no ano 1819 para uma revolução constitucional na Inglaterra.

 É Diante desse processo que percebemos a forte presença e influência de determinadas religiões protestantes entre as quais são citadas por Thompson: os batistas os presbiterianos, entre outros que exerceram efetiva importância na organização dos trabalhadores. Dando destaque para a Igreja metodista a qual segundo Thompson exerceu efetiva contribuição positiva e relevante ao movimento operário.

Se constituindo assim no primeiro momento apenas com um espírito democrático em formação. Porém no decorrer da formação da classe operária observamos que o metodismo não apenas proporcionou as formas de reuniões ou organizações, mas também a experiência de organização centralizada e eficiente, a nível tanto distrital como nacional, tornando-se no final do século XVIII um modelo a outras formas de organizações. Sobretudo após 1795 no qual o metodismo ganhou mais força e alcançou maior avanço entre o operariado, conseguindo agir de forma mais intensa como força estabilizadora ou regressiva.

Ao falar sobre os motins e turbas, Thompson ressalta o papel relevante desses fenômenos que afetaram inicialmente o movimento operário, tanto no século XVIII como no inicio do século XIX, sendo constatados alguns motins causados pelos preços do pão, pelos pedágios e portagens, entre outros fatores. Confirmando assim que a Inglaterra no século XVIII passava por um processo de constantes ações turbulentas, no qual Motins ocorriam em quase todas as cidades e distritos até os anos 1840, uma vez que qualquer aumento nos preços ocasionava um motim, que ás vezes era bastante tumultuado como o “Grande Motim do Queijo” na Feira do Ganso em Nottingham, em 1764.

  Ao abordar às origens dos ingleses e o intenso questionamento acerca das diferenças de vida dos Monarcas e Aristocratas perante a angústia do povo inglês, Thompson nos descreve em seu livro que este relacionamento estava repleto de uma constante distinção em relação à posição do inglês comum que usufruía de uma democracia que não lhe proporcionava um sentido positivo e que ainda era composta apenas de poucos direitos. Enquanto que a Aristocracia gozava de um poder que era garantido pelo principio hereditário, assegurando assim sua continuação no poder através de seus sucessores.

Na década de 90, opiniões se repartiam em duas metades, onde de um lado Burke defende o governo e argumenta que observa o seu funcionamento á luz do conhecimento e da tradição. E de outro Paine argumenta que a autoridade do governo provém da aquisição e do poder hereditário numa sociedade dividida em classes, que esta rudemente dividida em duas classes distintas: a dos que pagam impostos e a dos que recebem e vivem dos impostos.

 Sendo constatado que esta noção de classe surge assim como a noção do estamento ou ordem aristocrática parasitária, repartindo a sociedade entre as “classes úteis” ou “produtivas” colocando de um lado, cortesãos, sinecuristas, possuidores de capital, especuladores e intermediárias parasitas, de outro. Da qual segundo Thompson em seu texto “Algumas observações sobre classe e ‘falsa consciência”, afirma que a classe não pode ser reduzida apenas em uma simples medida quantitativa, como por exemplo, tantas pessoas nesta ou naquela determinada relação com os meios de produção, pois isto está seguido em uma definição de tipo estático, ou seja, uma noção marxista de classe.

Ao observarmos está série de agitações que ocorreram no século XVIII e que ganharam proporções impressionantes em busca de uma democracia inglesa, nos anos de 1791 a 1795, no qual percebemos um amadurecimento de uma “consciência operária” diferenciada, ocorrida em meio a diversos acontecimentos como a Revolução Francesa e Gloriosa. Sobretudo com o movimento operário representado pela SLC que encontrou nos últimos meses grandes dificuldades, dentro de um contexto de constantes perseguições e repreensões, mas que se encontrava longe de se dissolver. Pois produziu em si grandes efeitos entre os quais induziam os homens a lerem livros, em vez de gastarem seu tempo nas tabernas, já que o movimento atraía o apoio de milhares de pequenos lojistas, impressores e livreiros, médicos entre outros.

Especialmente com a Revolução Industrial, pois na medida em que avançavam as novas técnicas e as formas de organizações industriais, recuavam os direitos sociais e políticos. Enquanto que a Revolução Francesa consolidava-se em sua velha corrupção, juntando num pânico comum os proprietários de terra e os industriais manufatureiros. Uma vez que a própria existência do movimento operário dos últimos anos prosseguiria e enriqueceria as tradições da fraternidade e da liberdade. Porém a sua organização e a preservação dos seus fundos exigiam a prática de um grupo de funcionários experientes, bem como certa sujeição ou fidelidade excessiva para com sua liderança.

Portanto com base nos argumentos aqui expostos, podemos compreender a grande relevância de seu livro “A formação da classe operária inglesa”, que trouxe contribuições fundamentais para o redimensionamento das ações humanas e suas possibilidades de intervenção no processo histórico, mediante as suas relações e confrontos de classe, que nos proporciona no decorrer de sua leitura uma série de reflexões acerca da ideia de classe, conceito, luta e em especial a formação da classe social. Mostrando nesse sentido a proposta do autor através de sua obra de tirar da obscuridade a ação dos trabalhadores e a sua contribuição ao movimento histórico.

BIBLIOGRAFIA

SCHELER, Alexandra Frota. Marxismo e Historiografia no Reino de Vitória: as contribuições de EDWARD PALMER THOMPSON. Verinotio-Revista On-line de Educação e Ciências Humanas. Nº 6, Ano III, maio de 2007. pp.1-25

THOMPSON, E.P. “Algumas observações sobre classe e ‘falsa consciência”. In: As Peculiaridades dos ingleses e outros artigos. São Paulo: Unicamp, 2001. pp.269-281.

THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa, 1: a árvore da liberdade; tradução de Denise Bottmann. -6. ed. - São Paulo: Paz e Terra, 2011. pp.9-248.