O livro do pernambucano Marcos Bagno, Preconceito Linguístico, trata e discute como o próprio título já adianta, sobre o preconceito linguítico, tão recorrente no Brasil. Com a intenção de combater a visão primitiva dos tradicionalistas, propõe uma mudança de atitude com um tom marcadamente politizado, como o autor define.
O livro é dividido em quatro partes, sendo a primeira a mais interessante. Nesse segmento podemos encontrar a mitologia do preconceito. São oito mitos de grande importância para o entendimento da língua portuguesa no Brasil, o terceiro, sétimo e o oitavo foram os que mais despertaram minha atenção.
O terceiro mito "Português é muito difícil", por exemplo, é quebrado com o simples resumo de que se o português fosse realmente difícil ninguém falaria esse idioma, o que é apenas impossível uma vez que somos mais de 190 milhões de brasileiros falando português.
No sétimo mito "É preciso saber gramática para falar e escrever bem", Bagno faz uma crítica aos pais e professores tradicionalistas, que ainda insistem nessa ideia e são a favor do emprego da gramática normativa como lei absoluta. O autor desmistifica a afirmação de uma maneira contundente como exemplo cita escritores que nunca precisaram consultar nenhuma gramática para produzirem trabalhos brilhantes, como Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade e Machado de Assis (que é um exemplo de norma culta e erudição). Se esse mito fosse realmente verdade os gramáticos seriam excelentes escritores.
O oitavo mito afirma que "O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social", contudo os professores de português não ocupam o topo da pirâmide social, nem econômica e nem política do país. O mito facilmente cai por terra.
Já na segunda parte do livro, o autor cita personalidades como o renomado professor Napoleão Mendes de Almeida e Luiz Antonio Sacconi que proliferam o preconceito. Marcos Bagno trás nesse capítulo a descriminação "palpável", os livros e artigos publicados de maneira segregadora e determinista pelos dois escritores já citados.
Bagno não deixa de reconhecer a crise do analfabetismo (funcional ou pleno), no entanto, ao contrário do que muitos pensam, ele não propõe em nenhum momento a extinção da gramática normativa, e sim, uma flexibilidade das regras e adequação às famosas exceções gramaticais que muitas vezes são inexplicáveis. Para o autor e grande parcela dos lingüistas da atualidade a linguagem envolve o uso a adaptação as diversas situações comunicativas. Nesse contexto, a gramática normativa tem sim importância, mas em eventos determinados. É necessário dominar todos os tipos de variações para desta forma comunicar-se com competência em vários grupos.
"A tarefa da gramática seria... definir, identificar e localizar os falantes cultos, coletar a língua usada por eles e descrever essa língua de forma clara, objetiva e com critérios teóricos e metodológicos coerentes" (página 60). Essa afirmação é marcante para entender a real função da gramática e tentar acabar com a ideia de que suas normas regem a fala, uma vez que a gramática, como ele mesmo metaforiza, é um igapó estático enquanto a língua é um rio caudaloso e veloz.
O livro, Preconceito Linguístico, é uma excelente escolha para quem quer entender um pouco mais sobre linguagem e as modificações da língua portuguesa. Com a leitura e compreensão do livro passa-se a apoiar o ensino de maneira inovadora e espontânea, questionado a forma de trabalhar com a gramática em algumas escolas ainda hoje, distante e desvinculada das situações de uso as quais expostas dia após dia.

Nome: Bianca Gudes Alcoforado
Turma: História 2010.1