Em uma parte de seu livro destinada apenas a sua tese , Harvey explica qual o seu objetivo em discutir o tema: Condição Pós ? Moderna. Ele coloca que vem ocorrendo "desde mais ou menos de 1972" uma mudança nas estruturas políticas - econômicas e nas práticas culturais, estas mudanças se dão pelas "novas maneiras dominantes pelas quais experimentarmos o tempo e o espaço". E assim, para abordar toda essa questão, faz um levantamento de um conjunto de idéias da pós ? modernidade.
Ele organiza o seu livro desta forma, discorrendo sobre como se deu a transição da modernidade à pós ? modernidade, estabelecendo a importância da relação entre os dois movimentos e destacando as características de um e de outro. Como Harvey mesmo coloca, para entendermos a nova maneira de experimentarmos o tempo e o espaço é necessário compreendermos estes dentro da organização do capitalismo. O autor levanta uma hipótese de transição que ocorreu a partir do final século XX, chegando no colapso em 1973, quando se "iniciou um período de rápida mudança, de fluidez e de incerteza".
Sobre experimentar o tempo e o espaço, David Harvey, estipula "vínculos materiais entre os processos políticos - econômicos e os processos culturais" , isto é, entre o pós ? modernismo e a hipótese de transição do capitalismo que ele descreve. Assim chega a conclusão que "o pós ? modernismo pode ser considerado uma condição histórica ? geográfica esta que se dá pela renovação do materialismo histórico e do projeto iluminista.
Retomando a idéia de que para tratar do pós ? modernismo, tem-se que remeter ao modernismo, trago a discussão do autor sobre a modernidade, onde, voltando-se para Baudelaire em um artigo publicado 1863 "The painter of modern life" que descreveu a modernidade enquanto " é o transitório, o fugidio, o contingente; é uma metade da arte, sendo a outra o eterno e o imutável" , faz um debate de como em meio a um modelo histórico com rupturas e transformações podemos descobrir elementos eternos e imutáveis. Para isso remete-se ao projeto iluminista (Habermas) que foi um movimento secular e racional de libertação do homem. Segundo o autor eles dão uma resposta filosófica a mudança do tempo e do espaço no modernismo. O conceito de "destruição criativa" também cabe aqui para discutir o eterno e o efêmero, pois essa é a condição essencial da modernidade. O efêmero seguido das bases materiais, que remetiam a mudança e a fragmentação, e o eterno seguido de um congelamento do tempo. "O recurso às técnicas da montagem/Colagem fornecia um meio de tratar desse problema, visto que diferentes, efeitos extraídos de diferentes tempos ( velhos jornais) e espaços ( o uso de objetos comuns) podiam ser superpostos para criar um efeito simultâneo " .
A modernização também deve, segundo Harvey, ser estudada para analisar a pós ? modernidade. Ele refere-se a Marx como uns dos grandes escritores modernistas e de pensamento iluminista. Traz de Marx o conceito de "fetichismo da mercadoria" remetendo, para o funcionamento do capitalismo, toda uma obrigação de "esforços para criar novas necessidades nos outros, enfatizando o cultivo de apetites imaginários e o papel de fantasia, do capricho e do impulso". Toda essa analise da modernidade e do modernismo cabe, segundo ele, para mostrar que o pós ? modernismo é mais uma continuidade do que a diferença, "parece-me mais sensível ver este último como um tipo particular de crise do primeiro, uma crise que é o lado fragmentário, efêmero e caótico da formulação de Baudelaire".
Tratando ainda do capitalismo, ele trabalha com a hipótese de transição de um "regime de acumulação e de um modo de regulamentação social e política a ele associado" . Cita uma escola de pensamento chamada de "Escola da regulamentação" e é a partir desta que segue discorrendo sobre o sistema de acumulação e as suas transformações.
Tomando o "Fordismo" como modelo para o capitalismo moderno, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, caracterizado pelo "capital fixo na produção em massa, mercados estáveis, padronizados e homogêneos, uma configuração fixa de influencia e poder político-econômicos, uma autoridade e metateorias facilmente identificáveis, um sólido alicerce na materialidade e na racionalidade técnico-científico e outras coisas dessa espécie" , analisa como se deu toda a transição para um sistema de "acumulação flexível", esta que se dá pelo confronto direto com a rigidez do outro sistema. "Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional ."
Harvey, como já foi colocado, trabalha com a hipótese de transição, trazendo todas as dificuldades que permeiam esta questão. Seria, a acumulação flexível, uma continuidade do capitalismo ou uma oposição? Dando preferencia ao autor Swyngedouw pois "fornece muito mais detalhes sobre transformações no campo da tecnologia e do processo de trabalho, ao mesmo tempo que avalia como o regime e suas modalidades de regulamentação se transformaram" , estabelece continuidades na transição, principalmente em três características essenciais do capitalismo: o crescimento econômico, a exploração do trabalho e a dinâmica tecnológica e organizacional. A superacumulação, que Marx argumentava que nunca podia ser eliminada do capitalismo, fez com que três características, que são um número limitado de soluções possíveis, pudessem produzir um crescimento equilibrado sem problemas seguido pelas decisões da burguesia: a desvalorização de mercadorias, o controle macroeconômico e a absorção da superacumulação.
E é nesse meio que a acumulação flexível se mostra como uma nova configuração, segundo o autor não como Piore e Sabel, ou Pollert e Gordon descrevem: como uma possibilidade de uma reconstituição das relações de trabalho e dos sistemas de produção e uma legitimação de práticas políticas, respectivamente. Para ele (em suas conclusões provisórias) "devemos concentrar o nosso olhar nos aspectos financeiros da organização capitalista, no papel do crédito, (...) na estabilidade de médio prazo no atual regime de acumulação e nos domínios das novas rodadas e formas de reparo temporal e espacial , pois é nesse novo regime que vão ocorrer a reviravolta nas práticas sociais e dos valores individuais. Valores que principalmente estão ligados ao tempo e ao espaço dentro da sociedade capitalista que se faz presente, pois "onde quer que vá o capitalismo, seu aparato ilusório, seus fetichismos e o seu sistema de espelhos não demoram a acompanha-lo."
O autor faz referencia a Berman, destacando que ele equipara a modernidade de uma nova maneira de experimentar o espaço e o tempo. David Harvey também faz isso com a pós ? modernidade, falando do espaço e do tempo na vida social. Pois para ele o tempo e o espaço "são categorias básicas da existência humana" , mas não atribui a eles um sentido único e objetivo para explicar as percepções humanas, mais sim busca na história o conceito de tempo-espaço em determinados épocas. No capitalismo por exemplo, "as práticas e os processos materiais de reprodução social se encontram em permanente mudança, segue-se que tanto as qualidades objetivas como os significados do tempo e do espaço também se modificam." É baseado nesse pressuposto que ele parte para a analise das experiências individuais e coletivas em relação ao tempo e ao espaço pois não há uma linguagem independente para eles, sem investigar e compreender a ação social, especificamente na pós ? modernidade: o poder social, isto é, o uso do dinheiro interligado a esse poder. A acumulação pelo lucro, a intensificação do trabalho e do tempo de produção pelo tempo de circulação de troca , e de giro capital, uma modificação radical da maneira como o valor é representado como moeda, tudo isso traz uma nova bagagem de valores individuais e sociais que trazem grandes mudanças "nos sistemas de representação, nas formas culturais e no sentimento filosófico"
Toda essa aceleração da troca acelera também o consumo. As "informações, associadas com racionalizações nas técnicas de distribuição" , possibilitam uma circulação maior de mercadorias, para os mercados de massa, para o consumo de serviços. A primeira conseqüência de toda essa nova concepção de tempo e espaço, é a efemeridade dos produtos, da moda, das idéias, das ideologias... A imagem também tornou-se mercadoria, surgiu um mercado da construções das imagens e da aquisição de imagens (roupas de grife, carro da moda) que passa ser um aspecto vital da concorrência e de estabelecimento de identidades (símbolos de riqueza, de posição, de fama e de poder). Neste meio surgi também a "necessidade de descobrir ou produzir algum tipo de verdade eterna" , busca de raízes históricas, valores, uma idéia de estar acima da sociedade consumista. Essa breve descrição de como o autor estrutura a sociedade , é para mostrar como o ele faz dela um meio para levar-nos a compreender uma linguagem de imagens que é capaz de espelhar toda a trama que cerca a pós ? modernidade.
Por fim, na última parte de seu livro Harvey faz uma conclusão de todo o seu trabalho passando pelos temas já tratados nos outros capítulos, deixando fluir suas conclusões mais resumidas em relação a pós ? modernidade. Isso torna o livro bem organizado, uma vez que o fechamento retoma as questões principais em relação as transformações da aparência superficial do capitalismo e das novas formas culturais a ele ligado.