Na introdução de "Los levantamientos populares en la edad media", Guy Fourquin informa o objetivo do livro: um novo olhar sobre os levantamentos, utilizando-se da história (é claro) mas também de outras disciplinas "que se ocupan de las mentalidades colectivas, la psicología y la mitología sociales, sobre todo las de las multitudes." Também faz uma discussão teórica sobre os problemas de análise e da utilização de certos termos no estudo da Idade Média, voltando-se para o marxismo.
No primeiro problema "o que gera os levantamentos?" ele refere-se aos autores M. Eliede e J. Monnerot (que é bastante utilizado pelo autor) para salientar a importância das mentalidades coletivas em torno dos mitos e angústias que norteiam a origem dos levantamentos, não deixando de lembrar a questão do pensamento individual "todas las sociedades suscitan el problema de los orígenes individuales y colectivos" (lembrando da importância da psicanálise).
Partindo para a sociologia dos levantamentos e como a Idade Média é vista no séc. XIX, Guy Fourquin remete ao estudo da visão marxista que influencia muitos autores. Descreve a teoria de Marx e como ele atribui uma "motivación fundamentalmente económica" aos levantamentos, como as formas de produção delimitam a situação das classes " la importancia social de una clase de hombres, su situación en la escala social están en función de la relación de esta clase com la producción". O autor cita três erros em Marx para tratar da sociologia dos conflitos: reduzir os conflitos a classe, o conflito de classes leva a revolução e estão diretamente ligados a propriedades e aos meios de produção. Antes de partir para a sua análise dos agentes dos levantamentos ele coloca a diferença entre rebelião e revolução que pode ser exprimida nesta frase "si la revolución es siempre un acto llena de esperanza, la desesperanza está presente en el corazón de la revuolta".
Para explicar os levantamentos o autor faz um reconhecimento dos grupos sociais analisando (ou confrontando) Marx e Mousnier. Marx dividindo a sociedade medieval em classes especificadas pelos meios de produção e constituindo uma hierarquia entre elas. Mousnier aplicando a idéia de estratos sociais caracterizado pela divisão de trabalho e pelo juízo de valor presente nas funções sociais. As funções sociais estão diretamente ligadas a idéia da divisão por Ordens caracterizando a sociedade trifuncional. Nesta divisão, diferente de Marx, não há uma hierarquia mais sim uma harmonia social( A não ser para alguns teólogos, onde os oratores estariam mais perto de Deus).
Esta concepção cristã da sociedade é reconhecida até os séc. XIV e XV onde as assembléias convocavam representastes das três ordens. Cita outros grupos da sociedade como por exemplo os marginalizados, o cidadão da cidade e os burgueses que não estão incluídas nas ordens, mas que não deixam de ser um elemento importante nos levantamentos durante e no final da Idade Média .
Assim, para Guy Fourquin uma sociedade de classes está em formação no final do séc. XIV onde já se encontra a de circulação da nobreza, onde a burguesia procura o enobrecimento com a nobreza de "toga".
Toda a análise teórica da primeira parte do livro foi necessária para destacar quem são os agentes dos levantamentos e que tipo de pessoas ou ordens participam destes. Sem deixar de lado quais as motivações destes conflitos que não estão relacionados a lutas de classe e a uma mudança da "ordem social".
Os levantamentos possuem motivações diferentes que dão características particulares para cada tipo: "movimientos mesiánicos, levantemientos ligados a los problemas de la movilidade social o de la circulación de las élites, revueltas relacionadas com la coyuntura". O autor segue descrevendo todos esses tipos e elencando os seus agentes.
Inicia pelos movimentos messiânicos, onde os marginalizados possuem um lugar distinto, dividindo-o em três. As cruzadas ligadas ao mileniarismo e ao avanço turco como também a busca da cidade de Deus (Jerusalém). Nestas participaram os bellatores, mas alguns pobres nas primeiras. Os movimentos dos impostores ligados a idéia dos mitos, principalmente o do "imperador dos últimos dias" onde todos os estratos foram participantes. Ainda o movimento dos flagelantes, pessoas que seguiam se martirizando como Cristo para retardar a chegada do mau. Por fim o mileniarismo igualitário, movimento dos intelectuais, na maioria cléricos, com seus pensamentos comunistas e de igualdade.
As revoltas, motins, crimes ligados ao problema da mobilidade social se dá principalmente entre a burguesia que se encontra entre o camponês e a nobreza, essa novo "grupo", essa nova "classe média" são os candidatos a cargos da elite dominante. Geralmente alianças entre grupos que procuram essa ascensão. Outra questão é a disputa por uma cargo político, investidas de uma elite contra outra elite política.
Ligados a conjuntura econômica e política, a guerras civis, clima, aumento dos impostos definem-se revoltas rurais e urbanas onde as condições de vida estão precárias. Os levantamentos camponês se limitavam geralmente ao campo, mas algumas pessoas, por essas condições, se deslocavam para as cidades. Nas cidades as manifestações se davam contra os ricos, eram feitas principalmente por assalariados, artesãos contra os patrícios.
Na segunda parte onde o autor descreve muitas revoltas e movimentos ligados a todos os estratos sociais, ele sempre procura despertar o leitor para essa nova perspectiva da História Medieval e dos motivos que levavam as pessoas a seguir messias, crer em mitos, procurar e querer algo que fosse diferente da realidade em que estavam passando, destacando as diferenças e particularidades de cada tipo de levantamento, seja pelo fanatismo ou pela busca de poder. E nomeando essas tipologias remete-se ao estudo mais aprofundado de cada momento partindo da Idade Média chegando a Modernidade onde os movimentos passam por algumas transições aproximando-se assim das teorias de Marx.