Trata-se da leitura de dois textos da docente da UNESP a professora Pós-Doutora Maria do Rosário Valencise Gregolin, um publicado em 2003, Análise do Discurso: Lugar de enfrentamentos teóricos, pela UFU (Uberlândia) e o outro publicado em 2005, Michel Pêcheux e História Epistemológica da Linguística, pela UEBA. Cabe ressaltar o valor de ambas as instituições (uma federal e outra estadual) no cenário científico, e a contribuição que esses textos deixam para aqueles que tentam desvendar pela leitura de outros estudiosos e pela procura de conclusões próprias acerca da linguística como ciência construída com fundamento na língua na linguagem, na fala e na enunciação.

Já que os textos foram produzidos pela mesma autora na ordem alfabética dos títulos o texto “Análise do Discurso: Lugar de enfrentamentos teóricos” será o primeiro a ser brevemente comentado. Os estudiosos da linguística que em seu primórdio tiveram grandes dificuldades de estudar a língua em uso, isso no início do século XX, já na década de 60 deste mesmo século estavam passando de uma linguística da frase para uma linguística do discurso e posteriormente o desenvolvimento da teoria da enunciação que se ocupava do discurso. Essa evolução não se deu de forma simples e não se pode falar nela sem citar Benveniste além dos estruturalistas americanos e a proximidade que a análise do discurso tinha e tem com os estudos da filosofia.

A linguística desenvolvida na França sofria forte influência da efervescência cultural que era vivida naquele país e não tinha como deixar de sofrer determinadas influências como do marxismo, o que talvez tenha contribuído para a formação de um enorme número de teorias estudando um mesmo objeto a criação dos alicerces da Análise do Discurso com as contribuições de Althusser, Foucault, Lacan e Bakhtin. Trazendo para os estudos os comportamentos sociais,  a política a economia e a intelectualidade de uma sociedade o que mais ainda contribuiu para os vários desdobramentos do objeto de estudo.

 É descrito a essência da obra de cada um dos teóricos que a autora descreve como pilares da análise do discurso peuchetiano  a saber: Louis Althusser (teses marxistas); Michel Foucaut (pensa a teoria do discurso); Mikahil Bakhtin (inicialmente conhecido na Europa pelas suas obras sobre problemas de literatura décadas de 1960/1970, posteriormente contribuiu com inovações nos estudo linguístico incluindo a história e o sujeito em seus estudos); Lacan (acerca da leitura que esse auto fez da obra de Freud trabalhando conceitos como: “formação imaginária”, “simbólico”, “inconsciente”)

Finalizando esse texto a autor fala sobre a Análise do Discurso no Brasil, sua derivação da AD de Michel Pêcheux. A citação obrigatória da autora Eni Orlandi, e o desenvolvimento da AD no Brasil a partir da década de 1980. A criação do paradigma logicista a partir da década de 1990 e os confrontos teóricos-metodológicos que se tem criado desde então no Brasil acerca da análise do discurso no Brasil e a possibilidade colocada por alguns críticos de que ela seria moda.

O texto “Michel Pêcheux e a História Epistemológica da Linguística” aborda a relação da obra de Pêcheux com outros autores e a construção da linguística e da Análise do Discurso como ciência. Ao abordar o aspecto da linguística entre o logicismo e o sociologismo o autor menciona como a linguística foi pontuada entre outras ciências se tornando um ramo autônomo do conhecimento humano, enfatiza-se nesse momento a elação entre sistemas de língua e formação discursiva.

Na desconstrução das teorias lingüísticas apesar dos apoios e das críticas que as idéias de Saussure receberam, a autora cita Benveniste em que esse disse “meio século depois, não há linguista que não deva algo a Saussure”. Lendo atenciosamente o texto percebe-se a questão das disporás e reunificações são colocadas de uma forma tão exemplificativa que dá uma idéia de contradição ao texto. Quanto à fala de Pêcheux “novamente Saussure ficou sozinho com suas idéias” um cientista ao elaborar as suas idéias e difundi-las, mesmo que para seus alunos, essas idéias deixam de pertencer a ele e passam a pertencer a toda humanidade.

O texto menciona os universos discursivos logicamente estabilizados e os não-estabilizados bem como as zonas intermediárias de processos discursivos. Cabendo ressaltar que a linguística vista por qualquer teoria deve ser vista como fato social, portanto, seu estudo deve levar em consideração os momentos históricos, político, social e os demais contextos humanos.

Quando a autora passa a discorrer acerca da Linguistica, a história, a análise do discurso o texto entra em polifonia com o primeiro texto analisado. 

  

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS

 

 

GREGOLIN, Maria do Rosário Valencise. Análise do Discurso: Lugar de enfrentamentos teóricos: In: FERNANDES, C.; SANTOS, J. B. Teorias Linguísticas: Problemáticas Contemporâneas. UFU: Uberlândia, MG, 2003.

 

GREGOLIN, Maria do Rosário Valencise. Michel Pêcheux e História Epistemológica da Linguística. In: Estudos da Lingua(gem), v.1 UEBA: Vitória da Conquista, BA, 2005. p. 99-111.