BECKER, Bertha. AMAZÔNIA: GEOPOLÍTICA NA VIRADA DO III MILÊNIO. São Paulo: Garamond, 2004.

RESENHA DO TEXTO: "O legado Histórico e as Mudanças Estruturais em fins do século xx (cap. I); A Amazônia e a Globalização (cap. II); O Novo Lugar da Amazônia no Brasil (cap. III)."

CAP I

O processo histórico da Amazônia configura hoje o seu papel fundamental no espaço econômico, político e social, o que implica na formação territorial, no planejamento regional e na incógnita do heartland.
Desta forma, a formação territorial da região se constitui a partir do processo de colonização feito por portugueses e missionários jesuítas, o que delineou a exploração dos recursos naturais, a priori a extração das drogas do sertão foi base econômica para exportação. No decorrer do tempo o "boom" da borracha também possuiu esse intuito mercantil e mais tarde a definição dos limites da região foram configurados, no período de 1899 e 1930.
Sendo assim, a formação da região nos destaca estratégias a fim de obter maior controle do território além de, tratar da ocupação territorial, aborda a extração de recursos na região Amazônica, o que estende para o mercado interno e externo, definido o espaço como economia de fronteira.
Isso nos permite destacar que houve, e ainda há conflitos econômicos, sociais e políticos em torno da região assim como, discussões que giram ao redor da forma a ser utilizada a terra, das consequências que a economia de fronteira traz para a região Amazônica e para o mundo.
Desse modo, a estrutura governamental propõe o planejamento regional na década de 30, com sua fase inicial comandada por Getúlio Vargas que incentiva projetos para a escala de ação, no entanto resultados efetivos à respeito de integração, modernização, também implementação de projetos e no geral de desenvolvimento é ocasionado a princípio por Juscelino Kubitschek.
Desde então, o desenvolvimento acelerado provocou mudanças estruturais na região, proporcionando redes de circulação de pessoas, mercadorias, telecomunicações, começando a região a se industrializar, urbanizar. Todavia, isto nos auxilia compreender que a região também sofreu uma série de conseqüências negativas como: crescimento demográfico desordenado, a implantação de rodovias trouxe desmatamentos, conflitos fundiários além de desestruturar a cultura local, saberes historicamente construídos.
Por isso: "À crise do Estado e à resistência social, somou-se a pressão ambientalista internacional e nacional para gerar um vetor tecno-ecológico". (BECKER, 2004, p.27). Nesse sentido, entende-se a necessidade de tratar a fronteira sócio-ambiental estimulando a preservação ambiental, no que concerne a implementação de projetos comunitários, organizações não governamentais (ONGs) além de motivar o uso sustentável do território.
No entanto a "incógnita do heartland" nos faz compreender o contrário, isso se refere aos interesses econômicos, políticos e sociais disposto por empresas de grande porte assim como, outras potências.
Por isso, percebemos o vetor tecno-industrial nos dias atuais, pois mudanças estruturais ocorreram na nova escala da região e que perduram até hoje promovendo alterações na estrutura da sociedade regional.

CAP.II

Sendo assim, no espaço cientifíco-tecnológico a Amazônia ganha novas proporções e torna-se alvo de iniciativas políticas, econômicas e sociais. O capital natural nessa região volta-se para a biodiversidade com o intuito de explorar os recursos naturais visando o desenvolvimento sustentável da floresta.
Nesse contexto, a implantação de vários projetos também procura incentivar a viabilização de uma rede protetora do meio ambiente. Isso significa que cada projeto possui o intuito de ampliar a escala de ação e assim, precaver a região Amazônica de possíveis atos ilícitos, como a biopirataria, a ocupação desordenada, a exploração excessiva dos recursos naturais entre outros.
Contudo, percebemos que o objetivo idealizado da criação desses projetos não cumpriu em muito com sua finalidade, pois ainda verificamos a invasão de atores nos territórios privados e públicos. Além da superexploração existente com relação ao território e aos recursos. Isto indica a necessidade de uma rede de vigilância eficaz.
Não obstante, os elementos naturais como o ar, a vida e a água também se tornam fonte de discussões e entraves políticos e econômicos do país com outras potências. A mercantilização do ar, voltada para o seqüestro de carbono, redução das emissões de gases que provocam o efeito estufa permite investimentos mais barato em países periféricos.
Enquanto a biodiversidade enfoque do mercado vida é identificada como fator primordial para o avanço da fronteira científica, abordando a biotecnologia e ainda o incentivo a regulação desse mercado par tanto efetivar uma rede de proteção da região e assim, superar a superexploração dos recursos naturais.
Da mesma forma, o mercado água procura visar o uso adequado desse elemento, pois, o consumo desordenado pode provocar sua escassez, sendo no futuro alvo de conflitos.
Nessa perspectiva, torna-se importante salientar que a exploração da natureza é necessária para a subsistência da população nativa, índios e ribeirinhos. Além de, fornecer para o país produtos que auxiliam a mercantilização e favorecem o fluxo de capital do país. Porém, o que provoca fonte de preocupação é como a floresta vem sendo explorada, como está sendo a ocupação do território e assim, a integração da região com outras localidades, enfatizando o novo papel estratégico das fronteiras políticas.
Isto nos permite englobar fatores sociais, sociais, econômicos, políticos, culturais e demográficos diferenciados de acordo com cada local. Assim, as fronteiras devem exercer uma fonte de combate às atividades ilegais e fazendo-se necessário manifestar as redes técnicas de segurança em torno da região, onde essa vigilância possa garantir o uso sustentável da floresta além de, precaver invasores que desejam se apropriar do território (posseiros), ou que atuam de forma ilícita no mesmo e conter a rede de biopirataria.
Para isso, o Estado deve preocupar-se com o sistema de proteção do território, uma das estratégias de defesa contra o narcotráfico, por exemplo, é a operação cobra reunindo agentes federais, forças armadas e ONGs a fim de obter maior controle e fiscalização da área, fronteira Brasil-Colômbia.
Do mesmo modo, devemos atentar para o papel que cada indivíduo possui enquanto cidadão e ser humano. A população deve conscientizar-se de suas atitudes perante o meio em que vive e ao território que fornece riqueza para frutificar nosso país quanto ao fluxo de capital e mercadorias.
Isso nos possibilita apontar para a certificação florestal, onde a promoção de parcerias incentiva o uso sustentável da floresta a fim de usufruírem e comercializarem os recursos com este cuidado, o que nos destacam os econegócios e projetos com suas propostas.

CAP.III

Sendo assim, com a nova estruturação da Amazônia no que concerne às mudanças demográficas, à integração regional. Esse espaço vem ganhando novas perspectivas.
Nesse sentido, a implantação do novo meio de integração regional trouxe benefícios e conseqüências, por isso:
"As rodovias atraíram a população para a terra firme e para as novas áreas, abrindo grandes clareiras na floresta e sob o influxo da nova circulação a Amazônia se urbanizou e se industrializou, embora com sérios problemas sociais e ambientais" (BECKER, 2004, p.73)
Isso significa que a integração via estrada possibilitou o acesso mais rápido à região, diferentemente do antigo meio de circulação fluvial além de possibilitar maior infra-estrutura. No entanto acarretou com o acesso mais fácil grande fluxo de pessoas para a região consequentemente a necessidade do território, fez com que os migrantes utilizassem o meio. O ponto em questão é que isso trouxe para a região um arco de povoamento acompanhado de intenso desmatamento, queimadas, conflitos fundiários e superexploração dos recursos naturais tanto para subsistência quanto para sua mercantilização.
Desta forma, incentivar o reflorestamento, concentrar a reforma agrária nas áreas desmatadas, criar novos projetos sociais, reservas extrativistas, valorizar os recursos renováveis são propostas que propiciam o desenvolvimento sustentável e podem determinar a recuperação das áreas afetadas pelo desmatamento ou mau uso da terra.
Sob essa questão, recai o enfoque da necessidade de contenção dos atos ilícitos presentes na região assim como o estímulo à rede de segurança na mesma torna-se imprescindível, além de detectar no território que atividades como a pecuária extensiva provoca grande extensão de desmatamento o que nos permite apontar juntamente com a ocupação fundiária ilegal fatores que devem ser rompidos a fim de preservar o meio ambiente. Para isso, o avanço tecnológico, a biotecnologia pode auxiliar nesse processo, porém à utilizando de modo sustentável.
No contexto da ocupação territorial, a migração intra-regional possibilitou a redução dosa conflitos fundiários, pois a retirada da população foi em busca de melhores oportunidades. Assim, a área urbana cresceu o que facilitou a perda de condições de fronteira demográfica da região.
E ainda, no que concerne a produção agropecuária, sua extensão vem sendo reduzida no sentido de abrir espaço para áreas com fins de conservação ambiental, criação de terras indígenas além do ritmo de transformação do uso da terra. No entanto a intensificação desse uso consiste em aumentar a produtividade desse espaço. Isso quer dizer que a área de povoamento consolidado constitui um, local onde a expansão interna das pastagens juntamente com o progresso técnico determina a delimitação das frentes de expansão localizadas.
Com relação a modernização das terras provocando a expansão de atividades como a pecuária, o algodão, a soja estão incentivando o setor agroindustrial e assim promovendo conquistas econômicas no mercado interno e externo. Desse modo, o crescimento da produtividade torna-se explícito assim como, o uso sustentável dessas tecnologias podem auxiliar no desenvolvimento regional, porém, é inegável que simultaneamente quando não bem gerenciado esse trabalho tecnológico o desenvolvimento sustentável fica comprometido.
Logo, a expansão da agropecuária ou de outras atividades extrativistas acaba também por determinar a constituição desse espaço tecnológico, delimitando maior produtividade, maior fonte geradora de renda, crescimento da urbanização local o que implica na dinâmica demográfica da região Amazônica assim como, no processo de expansão doa infra-estrutura de transporte e comunicações.

Por fim, a reconfiguração da região Amazônica no decorrer da história nos ajuda salientar sua importância nos diversos campos: econômicos, políticos, sociais e culturais. Por isso, a geopolítica ao abordar todos esses aspectos destaca o processo de desenvolvimento da região.
Contudo, faz-se necessário ressaltar que o desenvolvimento sustentável esperado para o espaço amazônico ao envolver questões como formação do território, a ocupação do mesmo, o uso da terra, a exploração dos recursos naturais, o reflorestamento de áreas degradadas, entre outros, nos ajuda compreender que o processo de uso sustentável, de preservação ambiental e num todo o desenvolvimento regional pode ocorrer de forma efetiva caso haja mudanças a priori na estruturação da cada estratégia de defesa.
Isso quer dizer que o Estado pode alcançar esses objetivos lançando na região escalas de ação voltadas para redes de proteção além de estruturar projetos para este fim.