1 ELOGIO DA TEORIA 

                                      A presente resenha analítica tem como objeto o texto de Hans-Georg Gadamer “Elogio da Teoria.” 

                                      O autor inicia o texto discorrendo sobre o princípio do estudo filosófico da teoria, e sua relação inevitável com a prática, já que a razão da primeira é fornecer meios para a segunda, através do estudo empírico. O antigo nome dado à teoria nos remete ao valor dentro da sociedade da época: Filosofia, ou amor ao Sophón, à busca do verdadeiro saber, que vem inevitavelmente de uma união de ambos os elementos, teoria e prática. 

                                      Segundo Platão só é apto para dominar sobre os outros quem sabe a melhor, verdade que, neste mundo onde o conhecimento e a informação trazem o verdadeiro sentido de poder, cada vez mais se afirma. Considerando “todos os homens anseiam, por natureza, saber, e que a mais elevada felicidade do homem reside da “pura teoria”, e que no seu mais íntimo fundamento (o homem) é um ser teórico”, tem-se a medida da importância para a humanidade do conhecimento, obtido através dela, a teoria. 

                                      A evolução do pensamento filosófico, com as modificações ocorridas na decadência grega e na dominação romana, e depois com o cristianismo e sua atitude dominadora, fizeram com que o pensamento teórico sofresse alguns entrave pois a teoria esbarrava, quase sempre, nos dogmas religiosos, como no caso conhecido da condenação de Galileu. A prática se via quase impossível e a teoria parecia poder ser facilmente derrubada, o que a transformou em objeto de estudo somente daqueles considerados loucos e hereges à sua época. 

                                      As ciências, no período obscuro medieval europeu, progrediram em outros pontos do mundo como o oriente e os países árabes, menos aferrados a preconceitos. O desenvolvimento do pensamento matemático, já na idade moderna e no iluminismo, tinha por meta “compreender o livro da natureza, que Deus escreveu com seu dedo”. 

                          Sempre, no entanto, a eterna dúvida: será por ventura a práxis algo mais do que a mera aplicação da ciência, ou seja, quanto deve ser creditado à teoria em seus descobrimentos? Existiria ela se não conjugada ao estudo do teórico, do filosófico? É um paradigma de não tão difícil solução já que um depende do outro mas não se tem por certo qual deles precisa acontecer primeiro, visto descobrimentos científicos descobertos ao acaso como o fogo, ou teorias estudadas ao longo de séculos e comprovadas somente com a chegada da tecnologia, como as antigas teorias sore o universo. 

                                      Já no século XIX, liberto o pensamento da opressão religiosa, e estando a humanidade em frenesi de progresso, é possível verificar-se que “só é objeto de uma ciência o que preenche as condições da investigabilidade metódica”

                                      Considerando por fim que a vida humana aspira ao bem, e que a ciência, como um todo, como a vida, é a unidade da teoria e da práxis, continua-se sempre e sempre a discutir-se esta infindável questão. Não pode existir preponderância entre teoria e prática já que uma não existe sem a outra e ambas possuem sua devida importância dentro da ciência. Teoria e prática convivem lado a lado visando o descobrimento da ciência e garantindo o alcance do interesse filosófico, a busca do verdadeiro saber. 

2 SOBRE O PODER DA RAZÃO 

                                      O iluminismo e o pensamento Kantiano trazem a necessidade de estudo da razão, considerada como elemento preponderante do conhecimento. A formação da ciência confronta cada ser humano com os limites do seu saber e da sua capacidade de ajuizar o que lhe é ensinado. É inquestionável que se deva (e possa) estabelecer e diferenciar o racional, pois a razoabilidade é uma atitude humana, algo que agarramos e a que nos agarramos, a fim de criarmos e conservarmos sempre de novo uma ordem ética e humana erigida em normas comuns. 

                                      Perante a dificuldade de se habituar a este mundo novo em que vivemos, em que a ciência progride em saltos geométricos, e no qual o especialista só tem olhos para o que é acessível aos seus métodos, é cada vez mais importante que nos voltemos para o passado. É comum que percamos a capacidade de ver o todo e enxergar a realidade com olhos críticos, misturando razão com outras formas de análise. Olhar para trás, para os “pais da filosofia” ajuda para que, com seus milenares conceitos, consigamos entender que a lei vital da ciência é, sem dúvida, não admitir preconceitos, para que se possa tentar o não tentado, errar até acertar ou localizar o erro, teorizar ao máximo, praticando. 

                                      O texto lido traz interessante conceito de razão, que é, pois, saber “a limitação do conhecimento próprio e ser, por isso mesmo, capaz de um discernimento melhor, venha ele donde vier”. Segundo o mesmo texto “devemos guardar-nos de cair no ridículo, sobretudo através da pretensão de que o universal, que a razão é, forme nossa especialidade”. Tudo isso dentro da máxima filosófica do “só sei que nada sei”, que vem de encontro mais uma vez à dificuldade de compreender nosso papel dentro de uma sociedade onde buscar os pormenores é mais importante do que ter uma visão do todo. 

                                      O pensamento adequado, seja do filosófico, seja do cientista, é a ciência própria de que virá a ser ultrapassado. O progresso do conhecimento é constante e inquestionável, além de não admitir obstáculo de qualquer espécie. A diversidade do conhecimento e do pensamento científico-filosófico é tal que a conclusão do texto, com máxima de Símaco é a mais adequada possível: “não se pode chegar só por um caminho a tão grande mistério”. E por certo, não se pode entender razão ou realidade sem  a visão e interpretação do todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

GADAMER, Hans-Georg. Elogio da teoria., Trad. João Tiago Proença, Lisboa: Edições 70