ROTTAVA, L. A. A produção de estratégias de comunicação em português como L2: o uso de diferentes tarefas. In: LIMA, M. S. A língua estrangeira em sala de aula: pesquisando o processo e o produto. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 2002, p.44-66.

A produção de estratégias de comunicação em português como L2: o uso em diferentes tarefas

A leitura desse artigo nos proporciona uma série de informações a respeito do conhecimento de uma língua como L2. Rottava (2002), ao se propor mostrar a produção de estratégias de comunicação em português como L2, também nos coloca diante de uma nova forma de ensinar outra língua, ou seja, ela apresenta direcionamentos de como um professor de L2 deve conduzir as suas aulas, como aperfeiçoar seu método de ensino.

Para chegarmos a essa interpretação, Rottava (2002) nos coloca diante de sua pesquisa, cujo principal objetivo é mostrar, sob uma visão interacionista, o uso de estratégias de um aprendiz durante o processo de aquisição da língua alvo.

A autora esclarece, inicialmente, que o termo estratégia constitui num recurso "lingüístico ou extra-lingüístico empregado quando há um hiato pela necessidade de comunicar uma mensagem, mas nos faltam recurso da L2 para o aprendiz", (ROTTAVA,2002, p.44). Em outras palavras, a autora diz que as estratégias são usadas quando o aprendiz se depara com algum problema comunicativo, ou seja, não consegue se expressar porque não conhece alguns recursos da L2. Diante disso, o aprendiz procura encontrar uma solução para o seu problema de comunicação, fazendo uso de uma determinada estratégia.

Pensando no uso dessas estratégias no processo de aquisição de uma língua L2, muitos teóricos tem apresentado conceitos para o referido termo. Para alguns, as estratégias são recursos usados para exprimir uma mensagem numa L2; outros, defendem que as estratégias se definem como uma tentativa de interação com os interlocutores para a construção de significados, e outros ainda acreditam que as estratégias se dão de forma consciente.

Entretanto, Rottava (2002) procura trabalhar as estratégias numa concepção interacionista que, na visão de Bialystok (1990), convergem para três traços: o da problematicidade, pois segundo a autora, o aprendiz só usa a estratégia quando se depara com um determinado problema que possa atrapalhar a comunicação, embora que nem sempre seja necessário utilizar estratégias quando houver problematicidade; a consciência, tendo em vista que o ato de se comunicar implica fazer escolhas e, assim, algumas estratégias podem ser usadas conscientemente ou não; e por fim, a intencionalidade a qual está ligada ao controle que o aprendiz de L2 tem sobre o uso das estratégias.

Além dos conceitos já explicitados, Rottava (2002), salienta que as estratégias podem ser vistas por um aspecto interacionista, uma vez que essa proposta defende que o aprendiz acaba negociando com o(os) seu(seus) interlocutor(es) para obter seus objetivos comunicacionais; como também podem ser vista num aspecto psicolingüístico na qual as estratégias são compreendidas como recurso mental.

Contudo, Rottava (2002) esclarece que pretende orientar o seu estudo seguindo as perspectiva interacionista, pois acredita que ela é importante no processode aquisição de uma L2, já que esse concepção vê a aquisição de uma nova língua como fruto da colaboração entre o aprendiz e seus interlocutores, ou seja, a interação das habilidades entre os sujeitos que estudam uma L2 contribui para o conhecimento lingüístico desses indivíduos e, por essa razão, " as estratégias de comunicação são vistas como formas de negociação de que os aprendizes fazem uso para entenderem os seus interlocutores e para serem entendidos na língua que estão adquirindo" (ROTTAVA, 2002, p.47).

Diante desse contexto, Rottava (2002) define os objetivos que busca alcançar com seu estudo: o primeiro é observar em quais momentos os aprendizes de uma nova língua fazem uso de estratégias de comunicação, o segundo é identificar quais são as estratégias usadas pelos aprendizes para resolverem seus problemas comunicativos, e por fim, o terceiro objetivo está voltado para a análise do uso das diferentes estratégias usadas pelos aprendizes de L2. A autora acrescenta ainda que a hipótese que rege sua pesquisa é a de que "os aprendizes de L2 usam estratégias para superar problemas lingüísticos quando querem alcançar um objetivo comunicativo, e as tarefas diferentes determinarão a escolha das estratégias da comunicação" (ROTTAVA, 2002, p.49).

Para a realização desse estudo, a autora procurou estudar quatro alunos (dois do sexo masculino e dois do sexo feminino) oriundos da Coréia do Sul que estavam aprendendo a língua portuguesa. Os informantes da pesquisadora se submeteram a dois tipos de tarefas em diferentes momentos: uma tarefa espontânea na qual os aprendizes eram submetidos a atividades realizadas em sala de aula e poderiam responder/ falar espontaneamente; e uma tarefa controlada, cujos propósitos eram expor os alunos a tarefas mais específicas e, por isso, eram tarefas em que poderia ser observado se os aprendizes usariam as mesmas estratégias de comunicação ou não.

Durante a pesquisa, Rottava (2002) verificou que nos momentos das tarefas espontâneas, os aprendizes recorreram a estratégias como o apelo ao interlocutor. Na concepção da autora, essa estratégia que acaba contribuindo para a concretização dos fins comunicativos, pois os aprendizes fazem uso dessa estratégia para realizar sua intenção comunicativa, já que podem contar com a colaboração de seus interlocutores e, portanto, aumentar sua competência comunicativa. Assim, o apelo ao interlocutor ratifica que a visão interacionista afeta no aumento da competência comunicativa do aprendiz na língua que pretende adquirir.

A aproximação e a troca de língua são exemplos de outras estratégias que ocorrem com a mesma freqüência. A primeira "ocorre quando o aprendiz usa um item que sabe que não está correto, mas que compartilha traços semânticos com o item correto (ROTTAVA, 2002, p.51). A autora relata que o uso dessa estratégia colabora para a aprendizagem da L2, pois ao usá-la os aprendizes estarão aumentando o nível de proficiência na nova língua, além de despertar a consciência da criatividade e permitir o controle da L2 que estão adquirindo; a segunda, de acordo com Rottava (2002, p.520) "é uma estratégia em que o aprendiz insere palavras de outra língua, principalmente de lua L1" e por essa razão, esse recurso comunicativo é considerado por muitos um baixo índice de proficiência na língua alvo.

Uma quarta estratégia usada pelos aprendizes de L2 foi a perífrase. Esta, por sua vez, sugere um domínio mais elevado da língua alvo, pois o estudante de uma nova língua explora os seus conhecimentos a fim de encontrar outras formas de expressar aquilo que deseja. Contudo, esse recurso foi pouco utilizado durante essa fase do estudo, o que demonstra o baixo nível de desenvolvimento lingüístico da L2 por parte dos aprendizes.

Outra estratégia usada durante o período das tarefas espontâneas foi o abandono da mensagem a qual ocorre quando um determinado aprendiz começa a falar sobre algo, mas desiste da tentativa, abandona-a e constrói outro enunciado capaz de expressar seu objetivo.

Além das estratégias mencionadas, Rottava (2002) constatou que os aprendizes fizeram uso de outros recursos como evitar tópicos, como também as estratégias não-verbais. Estas ocorrem quando o aprendiz usa um recurso não verbal (aponta, gesticula) para conseguir se comunicar, aquela, por sua vez, se percebe quando o aprendiz simplesmente se recusa a falar ou encontrar outras formas de expressar suas idéias na língua alvo.

Finalizada as tarefas espontâneas, o que se verificou foi que na maioria das vezes a escolha de uma determinada estratégia está relacionada ao nível de proficiência do aprendiz e ao tipo de tarefa, ou seja, problema comunicativo.

No que se refere às tarefas controladas, observou-se que, de um modo geral houve um uso mais elevado da perífrase e da aproximação o que revelou um índice de proficiência mais elevado de alguns aprendizes nesse estágio da pesquisa, já o uso (pequeno) da troca de língua revelou uma carência no vocabulário da língua alvo por parte de alguns, já que essas estratégias não foram usadas com a mesma freqüência pelos mesmos informantes da pesquisa.

Quanto ao apelo ao interlocutor, houve um uso baixo, o que é justificável pelo fato de ser uma atividade controlada que exige objetivos específicos e, portanto, exige mais do interlocutor.

Estratégias como evitar tópicos e abandono de mensagem também foram utilizadas nas tarefas controladas. O uso dessas estratégias se explica pela necessidade de os aprendizes conceituarem nomes abstratos que revelam maiores dificuldades do que os concretos.

Após a realização dos dois tipos de atividades, as conclusões mostram que as estratégias de comunicação são fatores essenciais durante o processo de aquisição de uma nova língua, uma vez que contribuem de diferentes maneiras para que os aprendizes consigam se expressar, comunicare serem compreendidos na L2.

Além dessas considerações, o estudo de Rottava (2002) nos revela que estratégias como a aproximação é um recurso positivo na aquisição de uma nova língua. Outras como a paráfrase e a perífrase também são significantes na aprendizagem e na comunicação, enquanto que tarefas como troca de língua e não-verbais contribuem para a aprendizagem, mas não para a comunicação efetiva na língua que se pretende aprender.

Nessa perspectiva, vemos que o uso de estratégias é importante para que o aprendiz de uma dada língua possa superar as dificuldades que encontra num processo comunicativo e encontrar formas que expressem os significados pretendidos por esse falante.

Compreendemos que a pesquisa realizada por Rottava (2002) não contribui apenas para saber como e quando os aprendizes usam as estratégias comunicativas, mas também nos leva a refletir sobre a prática de ensino adotado no ensino de uma L2. Em outras palavras, o estudo nos mostra que é muito mais produtivo aplicar um ensino que explora as habilidades que os aprendizes tem da L2 do que apenas ensinar os aspectos formais da língua.

Assim, acreditamos que proporcionar a aprendizagem de uma L2 a partir do método interacional e por meio de diversas práticas comunicativas possíveis na língua alvo, resulta no desenvolvimento da competência comunicativa dos aprendizes na L2 e esses, conseqüentemente, serão levados a resolver diversos problemas lingüísticos por meio de estratégias comunicativas que viabilizem a expressão daquilo que pretendem comunicar e a compreensão dos enunciados pelos interlocutores.