RESENHA DO FILME PEQUENO MILAGRE

  1. ASPECTOS RELATIVOS À NORMALIDADE E PATOLOGIA

      É impossível definir um critério de normalidade e não normalidade, pois o que separa é uma linha muito tênue. Devemos considerar todo aspecto sócio-histórico e cultural que o individuo está inserido, porque sempre vai está em constante processo de mudança. Percebe-se que, a distinção de normal e patológico deve ser sempre reavaliada ou modificada, uma vez que não há um único critério/aspecto para estabelecer esta distinção. Diante disso, podemos perceber alguns aspectos relativos á normalidade e patologia (não normal) no filme Pequeno Milagre.

      No primeiro momento, o que estava dentro da normalidade era determinado por um padrão biológico, onde Simon não estava inserido. O mesmo nasceu com sérios problemas que afetava o seu desenvolvimento global (físico, motor, visual e verbal). Era tão pequeno que, no momento do seu nascimento os médicos solicitaram que sua mãe fizesse força, mas só a um simples espirro, ele veio ao mundo! Levando ao espanto de todos os profissionais familiares e amigos que estavam no hospital. O padrão biológico que Simon apresentava ao nascer, determinou para o médico o tempo de vida do menino, porém aquele dia se transformou em anos.

      Simon era uma criança muito inteligente, tinha muitas “sacadas”, mas apesar disso não se sobressaia em relação às outras crianças. Essa exclusão em relação à Simon se deu em todos os aspectos social, familiar e sexual. É perceptível em vários momentos no filme: Quando a senhora Livem o culpava por tudo que ocorria de errado, ao ponto de expressar uma raiva incomparável as outras crianças; no momento em que é castigado ao expor seu ponto de vista na igreja; quando o reverendo afirma que Simon não é normal, o que impede o Reverendo de ver em Simon algum propósito de Deus.

      No contexto familiar de Simon, a exclusão foi estabelecida desde o momento que ele veio ao mundo, por sua estatura e fisionomia, os seus pais receberam a comunicação diagnóstica sem nenhuma proposta de humanização. O que ouviram foi: “o seu filho não passa de hoje” Em nenhum momento os médicos apresentaram as possibilidades daquele bebê, nem tão pouco se colocaram à disposição dos pais para ouvi-los. A forma que os pais de Simon responderam ao novo momento de suas vidas foi totalmente influenciada pela forma que lhes foi apresentada a comunicação diagnostica. Claro que a cultura dos pais, a história de vidas influenciam nesse processo.

      Outros aspectos relativos à normalidade e patologia são determinados pelos padrões sociais. Joe estava dentro de um padrão biológico, mas não ao social, pois era considerado um filho bastardo, de mãe solteira. A sociedade vai determinar o que é normal de acordo com o momento histórico. Se  fomos comparar situação de Joe e sua mãe na sociedade atual, eles não estariam dentro de um padrão de normalidade. Podemos ver, na verdade, a questão da injustiça social também em relação à Joe, pois mesmo sem nenhum tipo de características especiais, era dito, ou melhor, tratado pela sociedade como uma criança “não normal”. 

 

  1. ASPECTOS QUE DETERMINAM O RELACIONAMENTO DOS PERSONAGENS INFANTIS DO FILME.

Conforme o dicionário Aurélio (2000), a palavra Relacionamento é o Ato ou afeto de relacionar-se. Capacidade de relacionar-se conviver ou comunicar-se com os outros. Ligação de amizade, afetiva, profissional, etc.., condicionada por uma série de atividades recíprocas. Diante desse conceito, percebemos que Simon e Joe tinham algo em comum, serem considerados pela sociedade pessoas “não normais”, sendo esse um dos aspectos que determina o relacionamento entre os dois, mas existem outros peculiares a cada um.

Se tratando de Simon, o mesmo não tinha uma família que exercesse afetivamente o seu papel, de suprir suas carências afetivas. Na verdade, ele gostaria de ser verdadeiramente amado, e percebeu que Joe tinha uma família, uma mãe do jeito que ele sonhara, alguém que o protegesse, ajudasse, entendesse, pudesse lhe escutar, pois Simon tinha consciência das suas reais necessidades, assim como das suas limitações físicas e motoras. Ele sabia que não teria uma namorada e o amor de seus pais por não ser o filho esperado. Então, através da família de Joe, Simon tem a oportunidade de ser amado.

Por outro lado, Joe apresenta alguns aspectos que também vai determinar seu relacionamento com Simon. Por não saber quem era seu pai, Joe, além de não ter suas carências afetivas supridas, tinha um sonho de descobrir quem era seu verdadeiro pai. Ele permitiu que Simon ocupasse o lugar de seu pai, não como pai, como seu verdadeiro amigo, alguém que ele pudesse realmente contar. Para Joe, Simon era prova de um milagre, pois mesmo com tanta saúde, ao contrário de Simon, não conseguia ver motivos para tanta fé em Deus, disposição e alegria por está vivo. Simon com suas limitações físicas conseguia ouvir todos os lamentos de Joe, além de salvar as pessoas da morte, mesmo sabendo que sua vida estava chegando ao fim.

Essa completude na relação de Simon e Joe foi tão intensa que, nem mesmo a morte da mãe de Joe, em um incidente que envolveu Simon, não separou os dois, nem tão pouco fez com que Simon desistisse de viver por ter perdido a segunda pessoa que mais o amou, a Senhora Rebeca.

Enfim, o filme nos faz refletir sobres nossos pensamentos e ações em relação aos portadores de necessidades especiais, não apenas como estudantes de psicologia, profissionais de saúde, mas como cidadãs. Os PNEs querem ser vistos como pessoas normais, dignas de respeito e amor. Simon, o Pequeno Milagre, superou todos os obstáculos posto em sua vida, por sua fé em Deus e em algo que ele acreditava, o que mudou a história da sua vida.

Mônica Santos
Graduanda em Psicologia
Faculdade de Ciências Humana - Esuda