Autor – Ernandes Vasconcelos

Resenha do Artigo Científico : Uma Interpretação Fenomenológica na Geografia. 

NOGUEIRA, Amélia Regina Batista. Uma Interpretação Fenomenológica na Geografia. Artigo Científico. Universidade de São Paulo, 2005. 

Amélia Regina Batista Nogueira
(Doutora em Geografia, coordenadora do Grupo de Pesquisa Ambiente e Cultura/UFAM)

Nesta Resenha trataremos de intensificar o trabalho de Amélia Regina Batista Nogueira que com estudos e pesquisas e se aprofundando em citações de obras de  Dardel, Ponty, Husserl, Buttimer, Ballesteros, Relph, Bailly, Tuan, Melo, Silva, e de mais geógrafos e filósofos, formulou este Arquivo sobre a Fenomenologia na geografia e o estudo do lugar. 

Uma Interpretação Fenomenológica na Geografia tende a explicar o homem com suas experiências pessoais do lugar, que foi pensado pela Geografia mais logo foi sufocado pelas críticas de que seria uma análise subjetiva e individual do mundo, que pra ciência seria melhor tratar o homem como população, povo, classe, recursos humanos. 

A autora do Artigo em diversas vezes cita Dardel, pois ele primava por uma compreensão: pensar a Terra, o Lugar, a partir da percepção de quem a vive. Das coisas que nos parece óbvias. É momento de restabelecermos nossas relações com os homens dos lugares, para melhor compreende-los. Coube a Dardel uma visão mais filosófica da relação geografia e Fenomenologia, foi ele quem fez a descrição mais completa das bases fenomenológicas da geografia. Ele criticou a geometrização do Espaço, “Em certo sentido podemos dizer que o espaço concreto da Geografia liberta-nos do espaço humano infinito da Geometria ou da Astronomia”. Buttimer também criticou essa geometrização, “descrever o espaço meramente em termos de sua geometria é uma abordagem inadequada ao entendimento da experiência humana”. Dardel foi sem dúvida o representante do pensamento geográfico que trouxe estas discussões tomando como referencia à visão fenomenológica de compreensão do mundo. 

Neste Trabalho também são citados humanistas como Tuan e Buttimer. Tuan estuda a relação de sentimentos que o homem tem com os lugares, mostrando que o homem percebe o mundo com o corpo, com todos os seus sentidos. Também reconhece que a localização ou posição não é condição necessária ou suficiente para a constituição do lugar, este é enfatizado como mundo vivido, onde o homem mantém uma relação dialógica com ele. Buttimer levantou a discussão existencial entre o homem e Terra, além de divulgar o espaço enquanto espaço vivido. Os geógrafos humanistas contribuíram para que as bases fenomenológicas não fossem de toda abafadas da geografia, vêm o lugar enquanto atributo do mundo vivido e o homem enquanto ser que constrói o conhecimento do mundo e que dá existência a ele. 

Merleau-Ponty, também citado nesse trabalho, não fala de lugar, mas de mundo vivido, porém deixa claro que este mundo vivido é o lugar onde habita os homens. Mundo vivido é, por tanto, entendido como lugar vivido, lugar de vida, lugar de existência. Nós podemos trocar de lugar, mudar, mais isso é ainda a procura de um lugar. Ao ser tirado do seu lugar o homem se sente perdido, o retorno ao seu lugar, para muitos, significa o retorno a vida, todos os lugares são pequenos mundos. 

No Brasil o estudo sobre o mundo vivido também foi estudado por Silva, Monteiro, Nogueira, onde esse último fez um estudo dos “Mapas Mentais” das crianças, na faixa etária de nove a doze anos, em que considera a percepção destas sobre a cidade, dando ênfase ao conhecimento adquirido a partir das experiências de cada um com seu lugar de vida. Melo também traz uma discussão em relação espaço e lugar. O espaço sendo entendido por ele como “aberto, livre, amplo, vulnerável provocando medo, ansiedade, desprezo, sendo desprovido de valores e de qualquer ligação afetiva. Já o lugar é fechado, íntimo, humanizado”. Porém considera que o espaço pode vir a ser um lugar quando for explorado, conhecido, experienciado. Por sua vez, o lugar pode transforma-se em espaço, quando este causar no homem tristeza, lembrança de algo ruim. Nas citações de Relph fica claro que espaços contêm lugares e que lugares são os espaços mais íntimos dos homens. 

Entender e diferenciar espaço e lugar a partir de muitos estudos e pesquisas foi e são os objetivos de vários geógrafos, filósofos e estudiosos da área. Neste trabalho de Amélia Regina Batista Nogueira, onde ela cita os vários estudiosos e suas idéias sobre espaço e lugar, fica fácil de chegar uma conclusão de que o lugar só é lugar, propriamente dito, quando é vivido pelo homem e que espaço pode ser lugar quando este for habitado e humanizado, surge aí à questão da fenomenologia que tende a explicar o homem com suas experiências pessoais do lugar. Esses pensadores só vêm acrescentar, da ênfase e mostrar que o estudo de lugar não é tratar o homem como população, povo, classe e sim como o formador do lugar com experiências que só aquele que vive neste dado lugar tem.

 

Esta obra tem por objetivo formular um pensamento diferenciado no tratamento geográfico de Lugar, é rica em conteúdo para universitários de geografia, pois aborda um assunto que traduz bastante discussão nesta área e, principalmente, este Trabalho seria bastante útil no ensino de geografia das séries iniciais, seria de suma importância trabalhar o lugar onde o aluno vive, suas relações com este espaço e com as pessoas que fazem parte dele. A experiência adquirida com o espaço vivido (Lugar), as crianças passam para uma fase de representação mental desse lugar (assunto já tratado por Nogueira nessa resenha), ou seja, nesse momento elas fazem representações do lugar em sua volta a partir de esquemas mentais dos lugares vividos por elas.Esse trabalho leva o aluno a descobrir e compreender a geografia do lugar onde vive. 

A categoria de lugar traduz os espaços com os quais as pessoas têm vínculos mais afetivos. O lugar é onde estão as referencias pessoais e os valores que direcionam as diferentes formas de perceber e construir o espaço geográfico.(PCNs).