Características gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida


FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala: Formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 51 ed. São Paulo: Global, 2006. 15 x 21 cm, R$ 95,00.

Gilberto Freyre nasceu no Recife em 15 de março de 1900, e vindo falecer no dia 18 de julho de 1987 na mesma cidade. Foi um sociólogo, antropólogo e escritor brasileiro, considerado um dos grandes nomes da história do Brasil. Viajou para vários países em que proferiu inúmeras conferências nas mais renomadas universidades do mundo, durante a sua vida recebeu importantes títulos como o se Sir – ''Cavaleiro Comandante do Império Britânico'', distinção conferida pela Rainha da Inglaterra em 1971 e prêmios como o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (conjunto de obras) em 1962, o prêmio Internacional La Madonnina, Itália em 1969, entre outros. Também foi membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Portuguesa de História, ensinou em várias instituições de ensino superior, tanto no Brasil como no exterior. Fora da área acadêmica exerceu o cargo de Deputado Federal e o de Oficial de gabinete do governador do Estado de Pernambuco. Além da sua obra mestre Casa-Grande e Senzala, Freyre publicou diversos artigos e livros os quais podemos citar Sobrados e Mucambos, 1936; Nordeste, (livro) 1937; Assucar, 1939; Brasis, Brasil e Brasília, 1968; O brasileiro entre outros hispanos, 1975, entre outros.

Livro relacionado:

No primeiro capítulo do livro Casa-Grande e Senzala, denominado de Características gerais da colonização portuguesa do Brasil: formação de uma sociedade agrária, escravocrata e híbrida, Gilberto Freyre procura fazer uma análise dos fatores que possibilitaram a fixação e colonização portuguesa no Brasil, para tanto ele utilizou aparentemente dois métodos científicos: o método histórico, que para compreender a sociedade brasileira na sua atualidade ele recria todo o período colonial com suas características e singularidades, bem como o período anterior que equivale a toda experiência cultural vivida por Portugal no século XV e nas três primeiras décadas do século XVI. E o método comparativo, pois em todo o capítulo ele o utiliza, seja para comparar a colonização portuguesa com a inglesa ou a espanhola; entre Portugal e outros países europeus; entre as capitanias hereditárias do nordeste com as do sudeste e outras várias comparações feitas. Enquanto a um modelo teórico Freyre ''não segue de forma sistemática a nenhum e isso ocorre devido à influência de Franz Boas''[1].

As principais idéias contidas neste capítulo são:

As características do português que possibilitaram a colonização do Brasil: Foi a partir deste ponto que Gilberto Freyre começa a desenvolver o capítulo expondo que os contatos (tanto: culturais e até mesmo sexuais), entre os portugueses com os mouros durante a Idade Média, foram fundamentais para que o português pudesse realizar bem a empreitada da colonização. Pois através de vários séculos de lutas contra os mouros, os portugueses assimilaram algumas de suas características culturais, como se observa nas palavras de Freyre (2006, p. 66) ''A singular predisposição do português para a colonização híbrida e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África. ''

O Clima, a Terra e a Gente que o Português encontrou: O português diferentemente de outros povos europeus, especialmente os de origem nórdica, teve uma grande facilidade em se adaptar em terras de clima tropical, isso se deve segundo Strüssmann (2006) ''pois o clima de Portugal era equivalente ao clima africano, que por sua vez tinha suas semelhanças com o Brasil colônia. '' Em compensação, os portugueses teriam dificuldades em relação à terra devido a irregularidade dos rios, as pragas que atingiam as plantações, etc. Como nos mostra Freyre (2006, p. 77), ''Tudo era desequilíbrio. Grandes excessos e grandes deficiências, as da nova terra (...). Enchentes mortíferas e secas esterilizantes – tal o regime das águas. E pelas terras e matagais de tão difícil cultura como pelos rios quase impossíveis de ser aproveitados economicamente na lavoura, na indústria ou no transporte regular de produtos agrícolas – viveiros de larvas, multidões de insetos e de vermes nocivos ao homem. '' Já em relação aos índios, os portugueses formaram um forte hibridismo. Logo ao chegarem ao Brasil os portugueses se surpreenderam com o que viram inúmeras mulheres e todas elas nuas alisando seus negros cabelos. Aquela cena remetia ao português a uma grande excitação sexual, isso ocorre pelo fato de que as índias eram muito parecidas com a ''moura encantada'' que como Freyre (2006, p.71) expõe, era um '' tipo de mulher morena e de olhos pretos, envolta em misticismo sexual – sempre de encarnado sempre penteando os cabelos ou banhando-se nos rios. '' Tal idealização se dá pela influência moura o que favoreceu para nascer uma nova geração, agora formada por mestiços, ajudando assim a ocupação do Brasil, tendo em vista que Portugal não possuía um grande contingente populacional para ocupar o Brasil de forma rápida e, além disso, havia outras colônias na África e na Ásia que também necessitavam serem ocupadas.

A constituição da Família Patriarcal: A família no Brasil colônia foi a instituição que mais ajudou na colonização, assumindo uma posição tal que chega até entrar em choque com a igreja católica sobre a forma da Companhia de Jesus, como também aponta Basile (2006), mostrando que Freyre ''fala da família como uma instituição tão forte que chega a criar um antagonismo com a Cia de Jesus'' mesmo sendo necessário para poder vim ao Brasil ser de religião católica. Tudo gira em torno da família de característica patriarcal, escravista e aristocrática ''a unidade produtiva, o capital que desbrava o solo, instala as fazendas, compram escravos, bois, ferramentas, a força social que se desdobra em política''. Em fim é ela quem dita às regras no Brasil colonial.

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