por Luciane Miranda de Paula

Na obra “Has globalization gone too far”, Dani Rodrik contextualiza o fenômeno da liberalização comercial nos anos 90 em meio a diversos movimentos no mundo, tais como a eliminação de restrições e barreiras comerciais; o desmantelamento de práticas pós-guerra; o fomento à competitividade; protestos das uniões por novas legislações; a abertura desenfreada do comércio sem regulação de economias e privatizações de empresas públicas. Além de movimentos advindos de diversos países e regiões, cada qual com suas incongruências, como França, Estados Unidos, Leste Europeu e Rússia, Japão, Alemanha, Coréia e América Latina.

O autor aponta para as fontes de tensão entre mercados globais e estabilidade social e enumera, primeiramente, as barreiras reduzidas de comércio e investimento entre grupos que cruzam fronteiras e que são detentores de capital, os trabalhadores, entre mais e menos qualificados.

Ocorre que a globalização faz com que a segunda categoria, a dos menos qualificados seja facilmente substituída pela que tem trânsito internacional.

Ele enfatiza, ainda, que economistas têm absolvido o comércio de qualquer significante responsabilidade pelo mal no mercado de trabalho de países industriais. Porém, em termos técnicos, ele afirma e demonstra que mercados resultam em mudanças internas na curva de demanda por trabalho menos capacitado, em países avançados.

Um dos impactos mais importantes da globalização sobre o mercado de trabalho é o efeito na demanda relativa por trabalhadores menos e mais preparados.

Desde que países desenvolvidos tendem a exportar bens, eles o fazem relativamente com uso intenso de trabalho menos qualificado.

Os países comercialmente envolvidos com estes que exportam tendem a uma queda interna do trabalho menos qualificado. Em termos técnicos, o comércio resulta em mudanças internas na curva de demanda por trabalho menos capacitado em países avançados.

Um recorte importante a destacar são as conseqüências do aumento da elasticidade da demanda de trabalho, que têm um impacto direto na questão da segurança do trabalhador. E ainda mais adiante, ele irá relacioná-las ao fato da insegurança crescente nos vastos segmentos da população trabalhadora.

Numa economia que é mais aberta ao mercado estrangeiro e investimento, a demanda por trabalho será mais responsiva a mudanças no preço do trabalho, ou mais elástica.

A razão é que empregadores e consumidores finais podem substituir trabalhadores estrangeiros por trabalhadores domésticos mais facilmente, seja investindo fora ou importando produtos de mercadores estrangeiros.

Esta elasticidade da demanda de trabalho tende a ser maior, pensando em valores absolutos, nas indústrias que exibem maior nível de integração internacional.

Ele mostra através de análise de dados, que trabalhadores mais velhos e mais educados, continuam a ter taxas mais baixas de trabalho do que trabalhadores jovens e menos educados.

Os economistas não ligam estes fatos diretamente coma globalização, porém, é plausível que o senso profundo de insegurança sentido hoje no mercado de trabalho, está relacionado com o fato da globalização que tem tornado os serviços muito mais substituíveis que antes.

Há razões, portanto, para pensarmos que o impacto principal da globalização no mercado de trabalho pode bem ser o aumento na elasticidade da demanda por trabalhadores desqualificados e não a redução nesta demanda por si.

Isto é, trabalhadores agora se acham em um ambiente incerto, no qual eles são vulneráveis e podem ser mais facilmente trocados por trabalhadores em outros países.

Os custos da perda de trabalho são dramáticos, para aqueles cuja falta de preparo para se fortalecer ou se recolocar, resulta em uma maior insegurança e uma existência mais precária.

Esta é, na opinião do autor, a mais destacada mudança social decorrente à liberalização comercial.

No capítulo 4, o autor lança um olhar mais atento na evidência de que, o relacionamento entre a abertura ao mercado e o crescimento de governos, pode não ser coincidência.

A exposição de dados por Rodrik demonstra que a abertura ao consumo no início dos anos 60, por exemplo, é estatisticamente um significativo indicador da expansão do tamanho do governo nas subseqüentes 3 décadas, em uma larga relação de países. E o que fazer com estes dados?

Rodrik argumentará que o quebra-cabeça será solucionado considerando a importância da insegurança social e o papel do governo em prover cobertura contra riscos externos.

Sociedade exposta a grandes quantidades de riscos externos, demanda o papel de um governo protetor das vicissitudes de mercados globais.

Segundo os argumentos explanados pelo autor, a mais grave conseqüência da globalização é que ela contribui para a desintegração social, como no caso em que nações estão se desmanchando em termos de status econômico, mobilidade, região, ou mesmo normas sociais.

Tudo em nome de pressões sociais pela integração econômica global. E se não são bem administradas, estas pressões sociais pela integração econômica global resultam no mal econômico e de governança de seus países.

Outro raciocínio seu importante de se destacar, é o de que mercados são instituições sociais, e sua contínua existência baseia-se na percepção de que seus processos e resultados são legítimos. Como Karl Polanyi (1944), citado por Rodrik, pontuou há mais de 50 anos, “o mercado internacional é o único mercado que não é regulado por uma autoridade política”, conseqüentemente, transações sob o mercado internacional carregam, minimamente, uma herança legítima.

Por si só, isto é uma fonte de tensão entre a globalização e a sociedade.

Por fim, um recorte que também merece ser destacado é em seu argumento de que o maior desafio para a economia mundial nos próximos anos está em fazer a globalização compatível com a estabilidade social e política, e assegurar que esta integração econômica não contribua para a desintegração doméstica.

E faz uma crítica à visão comum e à abordagem convencional que normalmente os economistas fazem à globalização, entre outras, a de meramente enfatizar os benefícios do livre fluxo de bens, capital, e não pontuar as tensões sociais que podem resultar desse processo.

Seu objetivo no livro é justamente oferecer uma perspectiva que vai além desta visão.

O autor diz que hoje os economistas precisam de uma aproximação pragmática dos problemas de políticas públicas, ajudando-as a achar ferramentas necessárias para alcançar seus objetivos, e não negarem que o problema existe.

De que maneira? Desenhando, seja na literatura, ou bem em instituições econômicas e na economia política, fórmulas de soluções para um novo sistema global de salvaguardas.

Se os economistas reconhecerem que tensões entre estabilidade social e globalização são reais, eles poderiam ajudar em um quadro conceitual necessário para se repensar os papéis do governo e de instituições internacionais em uma nova fase da economia global.