FACULDADES INTEGRADAS DE CATAGUASES ? FIC
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA










Resenha do livro Raízes do Brasil
Autor: Sérgio Buarque de Holanda













Cataguases
2009
FACULDADES INTEGRADAS DE CATAGUASES ? FIC
CURSO DE GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA







Resenha do livro Raízes do Brasil
Autor: Sérgio Buarque de Holanda






Resenha apresentada à professora Ângela Faria Pimenta, da disciplina Historiografia Brasileira.
Elaborada pela graduanda Maria Galdina Toledo






Cataguases
2009

Sérgio Buarque de Holanda nasceu em São Paulo, ao ano de 1902, quando da publicação de Os Sertões, por Euclides da Cunha. Faleceu em 1982.
Sua formação acadêmica foi em Direito, mas exerceu a profissão de crítico literário e jornalista. Nesta função viajou várias vezes à Europa, permanecendo cerca de um ano na Alemanha, onde recebeu forte influência da escola sociológica alemã, foi mais precisamente influenciado pelas teorias de Max Weber, e permaneceu outros anos na Itália. Em 1936, publicou o livro Raízes do Brasil.
Holanda teve uma vida intelectual muito intensa, foi professor da Escola de Sociologia e Política, de 1947 a 1955, e da Universidade de São Paulo, de 1958 a 1969, ano em que se aposentou em solidariedade aos colegas professores afastados pelo AI-5. Proferiu cursos e palestras em grandes universidades; publicou inúmeros artigos em jornais e revistas especializadas. Fez pesquisa em importantes arquivos, como os de Portugal, do Vaticano, Nova York, Paris e outros. Além de Raízes do Brasil ele publicou outras obras importantes, como Monções (1945); Caminhos e Fronteiras (1957) e Visão do Paraíso (1959), além de escrever os primeiros números e organizar a Coleção História Geral da Civilização Brasileira, entre outras obras.
Raízes do Brasil é uma obra no qual o autor procurou dar uma explicação do Brasil. Seu foco principal nessa obra foi a influencia européia, mais precisamente ibérica, portuguesa, na formação do povo brasileiro. Por essa razão S.B de Holanda, ao contrário de Freyre ou Capistrano, quase não fez menção alguma aos negros e indígenas. Sérgio Buarque de Holanda utilizou em Raízes do Brasil a metodologia dos contrários e dos Tipos Sociais, de Max Weber.
No primeiro capítulo, Fronteiras da Europa, Buarque de Holanda buscou na Europa a peça central para a construção de sua explicação do Brasil, e particularmente, na Península Ibérica, ou seja, Espanha e Portugal, países que se situavam nas fronteiras da Europa, fazendo divisa com a África e com o resto do mundo através do oceano à sua frente, que propiciou, em grande parte, o pioneirismo nas navegações. Lá, a hierarquia feudal não era tão enraizada, portanto, privilégios hereditários nunca foram muito decisivos, o que importava mais era o mérito pessoal, a abundância de bens.
S. B. de Holanda falou da cultura da personalidade, presente também na sociedade brasileira, resultado da frouxidão organizacional, presente na História de Portugal e, consequentemente, no Brasil também. Um outro aspecto apontado por Holanda é o desprezo dos ibéricos ao trabalho manual, preferindo a ociosidade, considerada como um atributo daquele que pertence à nobreza.
No segundo capítulo, Trabalho & Aventura, o autor tratou do pioneirismo ibérico na conquista dos trópicos, e especificamente dos portugueses. Holanda apresentou as razões para o sucesso da colonização portuguesa e o fracasso da colonização holandesa.
De acordo com Buarque de Holanda, existem dois tipos de homens: o aventureiro, que tem um olhar mais amplo, que tem em vista o proveito material imediato, visando mais o fim, do que o meio para alcançá-los. O outro tipo existente é o trabalhador, este possui um olhar mais restrito, sendo mais realista, seu foco são os meios para se obter os objetivos.
É importante perceber que, por serem tipos ideais, só existem como tal enquanto pensados, no real esses dois tipos se confundem, se misturam em algum grau dentro da mesma pessoa.
Conforme Holanda, em nossa colonização a predominância foi a do tipo aventureiro. Que possibilitou a capacidade de adaptação do português na América. Os portugueses conseguiram se adaptar perfeitamente aos trópicos, pois, não possuíam orgulho de raça, já eram um povo mestiço desde antes do Descobrimento, e ademais, o Catolicismo e a própria fonética, favoreceram o sucesso da colonização portuguesa.
Fato que não ocorreu com a tentativa de colonização holandesa no Nordeste, pois estes procuraram estabelecer uma colonização urbana, ao contrário da portuguesa. Os europeus do norte possuíam orgulho de raça, portanto, não se misturaram com as gentes da terra, e sua ética era a do trabalhador. A própria religião protestante e a língua nórdica foram empecilhos ao sucesso da sua colonização.
No terceiro capítulo, Herança Rural, o autor começou a fazer uma distinção entre Portugueses e espanhóis. Visto que os segundos fizeram uma colonização urbana, enquanto a portuguesa foi uma colonização essencialmente rural, uma singularidade portuguesa em relação às colonizações holandesas e espanholas.
Para S.B. de Holanda o centro da organização social na colônia Portuguesa era a família patriarcal, ainda nos moldes do seu modelo original, presente no antigo direito canônico-romano. O pátrio poder era praticamente ilimitado e a propriedade rural era praticamente autônoma, imune às influencias de fora.
As cidades existentes eram meras dependências do meio rural. De acordo com Holanda a Abolição é um marco divisor entre o Brasil rural e o urbano; foi após a Abolição da escravidão que houve um desenvolvimento dos centros urbanos, mas foram os antigos senhores rurais que formaram a burguesia urbana, que acabaram por transportar para a cidade a mentalidade, o estilo de vida de origem rural, e a classe intelectual era formada pelos filhos desses antigos senhores. Mesmo com a urbanização crescente, a sombra do poder patriarcal ainda permanecia e mesmo os partidos políticos eram considerados por muitos como "famílias políticas".
No quarto capítulo, O Semeador e o Ladrilhador, S. B. de Holanda utilizou da metáfora do semeador e do ladrilhador, sendo o português o tipo do semeador, pois sua colonização foi essencialmente rural, e os espanhóis, os ladrilhadores, ou seja, construtores de cidades.
na Península Ibérica, portugueses e espanhóis poderiam ser enquadrados em um mesmo espírito personalista e aventureiro ibérico, na colonização se apresentaram as suas singularidades, Holanda apresentou as diferenças entre os dois modelos de colonização e procurou dar uma explicação delas. A colonização espanhola era voltada para a construção de cidades, procuravam construir aqui, uma Nova Espanha, vinham para ficar e por essa razão fundaram Universidades importantes. Não permaneceram no litoral, adentraram o interior. Suas cidades eram planejadas em linhas retas, no ímpeto de dominar a natureza, além disso, foi estabelecida uma legislação que padronizou a construção das cidades nas colônias espanholas.
Já a colonização portuguesa realizou uma colonização inversa, pois não vinham para ficar, apenas desejavam ficar ricos e retornar à sua terra, sentiam que era desnecessário o esforço da construção planejada de cidades e preferiam o litoral, por estar mais próximos aos portos, e criaram leis que proibiam a entrada para os sertões, pois temiam um despovoamento do litoral, situação que foi modificada apenas depois da descoberta do ouro e pedras preciosas no interior da colônia.
Conforme Holanda uma das razões para este contraste se deve a questões políticas, a Espanha teve sua unificação tardia e difícil, e sempre corria o risco da desintegração, e os povos que os espanhóis encontraram em suas colônias eram bem mais estruturados que os nativos brasileiros, e, logo ao chegar encontraram muita prata, mais um fator a justificar a construção de suas cidades, pois elas permitiam um maior controle. Já Portugal teve sua unificação de forma precoce, já no século XIII já se constituíam como nação, portanto não tinham o receio da desagregação que tanto incomodava os espanhóis.
No quinto capítulo, O Homem Cordial, Holanda retomou a temática das consequências do ruralismo e do patriarcalismo para a sociedade brasileira. O foco é a tensão entre as estruturas sociais rurais tradicionais e o novo modelo de comportamento social, inerente ao Estado moderno. Holanda nos mostra que o patriarcalismo acabava por emperrar a instauração de uma sociedade moderna no Brasil.
S. B. de Holanda tratou neste capítulo do que seria a "contribuição brasileira para a civilização", o homem cordial. Mas é importante ressaltar que essa cordialidade não é sinônima de polidez, O homem polido procura preservar suas emoções, agindo de um modo formal, ao contrário do cordial, que age pela emoção, e despreza as regras da formalidade.
Segundo S.B. de Holanda, por essa frouxidão das regras o Brasil é um país onde o público se confunde com o privado, uma herança da família patriarcal, e até o recrutamento de funcionários, a escolha de representante se dá no âmbito da afeição, do afeto, e não das competências necessárias para se exercer tal cargo.
No sexto capítulo, Novos Tempos, Sérgio Buarque de Holanda continuou a tratar ainda da relação entre a herança rural e os movimentos de renovação social. Apesar do novo contexto histórico, Independência e urbanização, o patriarcalismo e o espírito personalista continuava a produzir efeitos na sociedade brasileira. De acordo com Holanda a ideologia impessoal do liberalismo democrático nunca se tornou natural em nossa sociedade, e os títulos acadêmicos são aqui, uma exaltação da personalidade individual, e muitos dos que receberam diplomas de bacharel não o utilizaram em sua vida prática.
Conforme o autor a intelectualidade brasileira se distanciou das atividades que resultassem em alguma transformação social, seu apego ao saber serviu mais de ornamento e um modo de manutenção de privilégios, e as conquistas liberais não surtiram efeitos na vida da grande massa popular, na verdade, os movimentos de transformação no Brasil partiram de cima para baixo, sem a participação do povo.
No sétimo capítulo, Nossa Revolução, Sérgio Buarque de Holanda falou das transformações em curso, naquele período, na sociedade brasileira, que se deslocava do mundo rural e patriarcal para o urbano e moderno. É importante observar que este capítulo está datado historicamente, nele, Holanda faz uma crítica à Revolução de 30, ao falar de Getúlio Vargas como um caudilho.
O autor falou das "revoluções" que ocorreram ao longo da História brasileira, ele afirmou que não são essas revoluções horizontais, realizadas por oligarquias que se derrubavam para mesmo assim se assegurarem no poder, excluindo a grande massa populacional que colocariam o país na rota do desenvolvimento. Deveria ser vertical tal revolução, que derrubasse de vez as nossas tendências ibéricas e que amalgamasse as classes superiores e inferiores, os que constituíam o poder e a população excluída e marginalizada da sociedade brasileira.
MINHAS CONSIDERAÇÕES:
O livro de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, é uma obra importantíssima para a historiografia brasileira, juntamente com Caio Prado Júnior e Gilberto Freyre, Holanda busca explicações para o Brasil, portanto, esta é uma obra importante para historiadores, mas também é perfeitamente possível de ser inserida nos outros campos das ciências sociais, principalmente por Holanda olhar a História do Brasil por uma perspectiva Weberiana.
É notório que a obra está datada historicamente, ela pertence ao período das primeiras décadas do século XX, mas é essencial ser estudada para que se possa conhecer os caminhos e idéias trilhadas pela nossa historiografia ao longo desse século.
No entanto, mesmo sendo possível reconhecer ao lê-lo o período histórico em que foi escrito, sua primeira edição foi em 1936, muitos assuntos abordados por Sérgio Buarque de Holanda ainda estão presentes na sociedade brasileira, portanto, recomendo a leitura desta obra que escrita na década de 30 do século passado ainda permanece atual.













REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA:
Bibliografia: HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. 4ª ed.revista pelo autor. São Paulo: Companhia das Letras, 1963.